07 de março de 1896.
— Vamos, minha filha, me mostre o anel! — Kelvin pediu animadamente, um largo sorriso estampado e o corpo agitado.
Petra apenas riu, sentada na sua poltrona usual enquanto usava um adorável vestido violeta. Mangas longas e uma saia volumosa que repousava nos braços do móvel. Estava maquiada, com as bochechas coradas artificialmente, cílios mais longos e lábios avermelhados. O cabelo, em um rabo de cavalo baixo, era preso por uma grossa fita vermelha.
Kelvin sorriu com aquilo. Era o vestido que havia desenhado para ela para o seu aniversário de quinze anos. Ele apenas estranhava a forma como estava ajustado em sua cintura, já que não tinha mais o corpo magro da época.
— Oi para você também, Kelvin. Como você está? — Petra falou com humor — Eu estou bem, obrigada por perguntar.
— Bom saber que você está de bom humor hoje, querida. Aliás, como não estaria? Foi pedida em casamento por ninguém mais, ninguém menos que Luigi San Marco! Você certamente fez muito bem. — Elogiou com um sorriso sincero, estendendo a mão — Agora, deixe-me ver o anel. Provavelmente vou parecer uma senhora casamenteira ao falar isso, mas um anel de noivado diz muito sobre o homem!
Ela sorriu, exibindo a mão esquerda enluvada onde um anel delicado de ouro reluzia no dedo anelar. Um pequeno diamante, de corte discreto, se destacava. Parecia apenas um singelo ponto de luz, nada chamativo ou condizente com a fortuna do noivo. Kelvin o avaliou rapidamente, não gostando daquilo, mas oferecendo um sorriso educado.
— Você gostou?
Aquela era a sua pergunta padrão quando não gostava de algo e Petra sabia bem. Por isso, ela soltou uma risada educada, senão um pouco fingida. Mas, se parasse para analisar, qual parte de sua vida não era fingimento?
— Gostei. — Mentiu — Gostei de tudo.
Apesar do seu sorriso largo e adorável, seu olhar parecia levemente desesperado e triste. Era como se estivesse realizando um teste naquela tarde. Se não conseguisse enganar o seu melhor amigo e fazê-lo acreditar que estava feliz, como iria lidar com a sociedade, seu noivo e sua mãe?
Seu maior desejo era fugir, para bem longe dali. Furar seu dedo com uma agulha envenenada e dormir para sempre, correr sem deixar um sapatinho para trás…
Todos os contos de fadas que leu quando criança em alguns livros importados não a prepararam para este momento: casar com um enquanto seu coração era de outro e encarar uma realidade tão fria e triste.
— Como foi o pedido de casamento? — Kelvin perguntou, servindo do bolinho que estava na mesa — Imagino que ele tenha seguido os protocolos, mas houve algum diferencial?
— Bom, não muito. — Deu de ombros, mas logo olhou para trás para confirmar se não estava sendo observada — Ele fez uma visita de trinta minutos antes de ir embora e conversar com minha mãe. Em cerca de dez minutos ele retornou, ajoelhou na minha frente e pediu minha mão. Parece gostar de mim genuinamente.
Contava aquilo com um certo carinho, já que Luigi não era de todo ruim.
— Não será um sacrifício muito árduo casar com ele. É bonito, bastante simpático, sabe conversar sobre variados assuntos sem invalidar a opinião alheia e tem dinheiro. — Elencou enquanto brincava com os dedos — E eu gostei do anel.
Ela brincava com a joia, rodopiando-a no dedo, já que estava levemente folgada. Seus pensamentos pareciam longínquos, mas não haviam indicativos do teor a não ser um rubor nas bochechas e olhos brilhantes, lágrimas acumuladas.
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Impressiona-me
FanfictionNo Rio de Janeiro do século XIX, dois artistas almejam um mesmo objetivo. Enquanto um sofre com as más línguas da urbe carioca e precisa de algo para usar como cortina de fumaça, o outro é constantemente atacado pelo veneno social. Uma exposição im...