CAPÍTULO "1 LAR, DOCE LAR"

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Mais um dia quente no País do Sul, meu lar, doce lar. Me sentei à mesa em seu escritório. Estava a espera dele. O rei. Meu pai.

Se parar para pensar bem, vejo que ele e eu temos uma das relações mais estranhas do mundo, não é como a dos pais e filhas que vemos por aí. As "famílias normais", como gosto de pensar. Muitas vezes, até me esqueço de que somos familiares, já que o tratamento profissional é o que prevalece em nossa família.

Tudo isso me faz sentir muita falta da minha infância, um tempo nostálgico em que nós dois ainda éramos muito próximos. Porém, desde a morte da minha mãe, a rainha, as coisas começaram a ficar cada dia mais esquisitas.

Depois de muita espera ele chega, atrapalhando os meus pensamentos. Se fosse eu quem estivesse atrasada, passaria uma eternidade ganhando sermões, mas como não é o caso, ele não se importa.

O rei pega uma cadeira e se senta ao meu lado.

Posso visualizar bem o seu rosto, meu pai é alto e barbudo; aquela barba ele já disse a todos que não cortaria por nada.

- Creio que seja melhor ir direto ao assunto - ele observa.

Desde cedo, quando o empregado veio me avisar que o rei queria conversar comigo, eu já supunha do que poderia se tratar: hoje em dia tenho 17 anos e faz alguns meses que o meu pai está em busca do "pretendente perfeito" para mim. Dois pretendentes, inclusive, já vieram conversar com ele no palácio, mas no final, ele não gostou de nenhuma das propostas.

- Não me diga ser o tema do casamento novamente? - pergunto.

- Você é muito esperta, minha filha! ... não é à toa que é uma Valente - ele diz com um sorriso orgulhoso que conheço muito bem.

Eu sei qual é o meu destino e que ele é inevitável. Sei quem sou eu. A futura rainha do País do Sul. A mais velha dos irmãos Valente. Como meu pai sempre diz: "nosso futuro é traçado mesmo antes da gente nascer". E o meu futuro é irremediável, ser rainha, continuar o legado de todos os antepassados que vieram antes de mim. Não que eu tenha o poder suficiente para decidir algo por mim mesma.

- Hoje, durante o almoço, teremos convidados especiais - continua ele - a família Fernandes almoçará aqui conosco. Eles tem uma proposta de casamento para você e eu preciso averiguá-la.

Uau! Raciocino comigo mesma. Franco, o filho do prefeito. Qual deveria ser minha reação?

Conheço Franco Fernandes desde que éramos crianças, e ele sempre me pareceu um menino muito mimado e arrogante. Uma vez me contaram uma história de que quando a fábrica de seu pai faliu (contam que pela péssima administração do prefeito) eles ficaram pobres por um tempo, aí resolveram apostar na eleição de Vicente Fernandes para prefeito e após vencer as eleições pela primeira vez, nunca mais perdeu nenhuma reeleição.

- Minha filha, você não parece muito atenciosa - o rei repara o meu desinteresse.

- Tinha que ser Franco, papai? Tantos garotos que existem no mundo! - reclamo desesperada.

- Não acho que seja bom questionar uma decisão de um superior - ele se estressa, começando a alterar seu tom de voz. Meu pai sempre soube como me manter em controle, aliás, cada um à sua volta. Sua forma de falar pode ser bem-educada, convincente, se necessário, mas, às vezes, também pode ser grosseira e bem aterrorizante, quando preciso.

- Lembre-se de uma coisa, Isabela: "os fracos não resistem, mas os fortes sobrevivem", digo isso porque não creio que você seja fraca.

Após dar o sermão, ele se levanta, e me deixa completamente sozinha no escritório.

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