DANTE I

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Com um intenso suspiro, Dante acordava na cama de seu amigo Issao. O pesadelo foi constante em cenas dele e da irmã fugindo de anomalias. As chamavam de marcados, não era? Não. Aquelas coisas não eram marcados. Tinham outro nome. Não se recordava qual, mas sabia que tinham outro nome. Seja qual fosse, não importava agora. O momento era dele acordando. Acordando no quarto de seu amigo.

        Levantou e quase não se manteve em pé. Sua cabeça girou e um agudo zumbido invadiu seus ouvidos. No instante nem pensou e voltou a se deitar. O zumbido passou, mas ele sentia que sua cabeça ainda ficaria girando. Decidiu levantar somente quando achou que a tontura não o atrapalharia a caminhar.

        Se questionou do porquê estava na casa de Issao enquanto descia as escadas do corredor para a sala. Não era bem-vindo ali e, apesar de saber que o problema não era bem com ele, não se sentia confortável estando na casa.

        A sala estava escura e abafada. Parecia não se encontrar com o ar de fora há muito tempo. Dante não se importava em ficar no escuro, mas o cheiro de madeira velha do cômodo o obrigou abrir as janelas.

        Uma noite fria e silenciosa... eram as melhores para Dante. Quando elas chegavam, ele gostava de receber o frescor do vento no rosto e de pensar. Pensava em tudo. Em seu passado, presente, futuro...

        Hoje, por algum motivo, a noite não trazia boas sensações. Tinha algo errado no vento, na cor do céu e até no silêncio absoluto que fazia. Estava perfeito demais e nada podia ser tão perfeito. De repente, foi bem do nada, ele se lembrou: não estava com a irmã. Não estava com ela há um tempo. Sentiu saudade, depois tristeza, depois chorou por ela olhando o céu.

        Onde estava Mary?

        Ouviu alguém o chamando e depois a sala se iluminou. Ouviu de novo e desta vez soube quem era.

        — Dan! Você acordou! — gritou Issao. Correu até Dante e deu-lhe um abraço. — Achei que não o veria mais de pé. — Seus olhos lagrimejavam e ele sorria.

        Mesmo estando em sua casa, Dante ficou surpreso quando o Issao apareceu. Estava muito atordoado para ficar feliz com a felicidade do amigo. Só conseguia pensar na irmã, então perguntou de uma vez:

         — Cadê a Mary?

         Issao saiu do abraço e recuou. Coçou a cabeça com força e não conseguia deixar o olhar fixo em lugar algum.

         — Issao... — Dante chamou com voz trémula. Seus olhos inchados. — Cadê a Mary?

         Issao balançou a cabeça em negação.

         — Issao, por favor...

         — Kise chegou aqui com você — ele disse segurando o choro. — Foi quase no final do dia da explosão. Um pouco depois dos idealistas invadirem a área. Achei que tivessem morrido... achei que tinha perdido vocês! — Esfregou as lágrimas dos olhos. — Aí Kise chegou com você, e eu fiquei tão feliz. Mary não estava junto... ele disse que não a encontrou. Tentou, mas não a encontrou. O tempo estava acabando, Dan, ele não podia deixá-lo... então te trouxe pra cá. Sem Mary... sem que ninguém soubesse. — Fez uma pausa. — Depois treinei em te contar que ela não voltaria mais, mas aí... Kise me disse que sabia onde ela estava. Sabia com quem estava...

        — Com quem? Onde? — Dante perguntou. Não parava de tremer e de chorar.

        — Ela foi levada, Dan... Levada por idealistas.

        Imaginar isso doía, mas descobrir que era real doía ainda mais. Sua irmã estar com os idealistas depois do acontecido era tão pior quanto se estivesse morta. Talvez ela até preferisse a morte... e se assim fosse ao menos seria fácil para Dante reencontrá-la. Mas com os idealistas... Nunca mais veria a irmã.

        Issao continuou falando e tentou abraçá-lo de novo, mas Dante estava em um estado que poucos compreenderiam. Ignorou o amigo e correu casa afora.

        Parou quando seus joelhos encostaram o chão e ele conseguiu juntar ar em seus pulmões. Em seu maior grito de dor, Dante chamou por Mary. 

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⏰ Última atualização: Apr 15 ⏰

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