Te ver

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Digitei a senha para abrir o apartamento de Carol, minha amiga de longa data.

- Boa  Noite, Eva!

- Boa noite, Natália, Carol está no quarto, pode ir até lá, a inteligência artificial abaixou a intensidade das luzes. - Tenho certeza que ela irá amar sua visita. – Agradeci a recepção e notei o silêncio absoluto, exceto por um cantarolar doce ao fundo, apenas os ouvidos mais bem treinados poderiam reparar na melodia da canção da saudosa Rita Lee. Era Carol, sorri e notei meu coração palpitar veloz reconhecendo-a, eu gostava dela, desde de a adolescência, era difícil admitir. No início, acreditava que a amava como uma amiga, quase como uma irmã, no entanto aos poucos notei que não era assim que a via. Carol, no meu coração dominava um campo nunca antes habitado por alguém. Ela era a minha outra metade, minha plenitude. Assim sendo, era complexo controlar meus impulsos, Carol sempre fora tão cega aos meus sinais, meus gestos nunca eram interpretados de outro modo, nada além de uma amizade, uma amizade perfeita para todos... E um amor platônico para mim, Carol sempre se relacionava com homens, relacionamentos curtos e diversos, nunca parecia satisfeita com seus parceiros.

Meus pés vagarosos subiram cada degrau da escada, minha mão direita deslizava pelo corrimão. Sua voz guiava meu corpo, como o vento manipulava as folhas de outono sem dificuldade alguma. As fotografias penduradas no corredor davam um aconchego, principalmente para meu ego, visto que todas as imagens foram capturadas por mim e dadas de presente para ela, minha querida Carol, ela sempre fora uma nerd irreparável. Fechei meu punho tentando controlar-me, a voz dela era mais perceptível a mim, quase palpável. Girei a maçaneta, entrei um pouco, e o que vi... Fora o presente mais ansiado e perfeito que nunca imaginei ver, não além dos meus sonhos mais pecaminosos.

Carol olhava para o lado esquerdo do pequeno lavabo. A fresta aberta me permitia ver seu perfil, os seios fartos,  seu corpo convidativo, sua bunda arredondada, proporcional ao seu corpo curvilíneo.

Minha boca permanecia aberta, vendo-a apoiar seu pé no vaso de louça e com a gillette deslizando em sua pele, Carol se depilava com movimentos sutis, quase uma dança, sua melodia doce colaborava com seus gestos angelicais.

Aos poucos me aproximava do cômodo habitado por ela. O cheiro de sabonete de era doce preenchendo meu olfato. Meu vestido farfalhava, mas o que me denunciara fora o maldito ranger da madeira.

Carol assustada passou seus braços na frente de seus seios... Deixando o mais íntimo amostra, meus olhos pecadores caíram em sua fenda exposta, apenas para logo depois a fitar, minhas bochechas queimavam, me aproximei, forcei uma expressão séria, de incerteza, medo, desejei aquele momento há tempos.

Estendi minha mão, tocando sua pele fresca, meu sorriso transparecia o prazer de vê-la.

- Não precisa se esconder de mim, Carol, deslizei meus dedos por seus braços, sentindo a força de outrora ceder aos meus comandos. Ela relaxou, e pude vê-los de perto.... deslizei meus dedos pela lateral de seu busto. Sorri, enquanto uma lágrima despercebida deslizou por minha face.

- Desculpa entra é que... Eva disse que eu podia subir... Então, entrei... – Ela virou seu rosto, tentando fugir dos meus olhos.

- Você está assim por quê? Quer dizer, sei que não sou assim, tão nos padrões da sociedade, mas... sou tão feia? – Seu semblante melancólico me dava pistas de que minha resposta significava muito a ela. Beijei sua bochecha rosada e a abracei. Molhando meu vestido parcialmente.

- você é perfeita... tudo em você, minha querida. Tenho certeza que o homem certo também dirá o mesmo para você! irá te amar e te achará estonteante  bem como eu. Sentei na cômoda de madeira ao lado, ela acompanhou meu gesto sentando ao meu lado, com um olhar perdido.

- Ah Natália, homem? – sua voz saiu como um fraco sopro.

- Você já escolheu com qual dos seus mil e um ficantes você vai de fato ter um compromisso ? – Falei firme, pegando a esponja vegetal e iniciando os movimentos lentos em suas costas alvas dispostas em minha direção.

- Eu não quero, Natália ... – Meu senhor, Carol estava estranha, tal qual minha cachorra, Carrie.

- Carol, você vai ter que dar um rumo pra sua vida adulta! Porque sua vida profissional está encaminhada e, são 37 anos! Não deve ser assim tão difícil escolher um deles. – Sorri enquanto minhas próprias palavras esfaqueavam-me.

- Você não liga? Se eu casar? Não vai se importar. – Meus olhos esfriaram, queria abraça-la com força e dizer que minhas palavras eram efêmeras, frutos de uma consciência que eu não gostaria de ter. Gaguejei.

- Me... me im... Importar? MA... MAS Carol, o que tem? Seu relacionamento, comigo? – Minha voz parecia mais tensa do que antes.

- Eu não sei, não faz sentido... no entanto sinto que posso perder você, Natália. NÃO QUERO! NÃO QUERO TE PERDER...

Céus, suas palavras me afetavam tanto. Desci meu tronco, deslizando meus dedos em sua pele macia, seus olhos claros se fecharam com meus toques. Então sem remediar as consequências falei entre beijos.

- Eu, nunca, vou, deixar, você. – A cada beijo ela arfava secretamente. Conseguia distinguir seus murmúrios.

Aproximei meu rosto ao dela, seu nariz perfeito, seus olhos verdes me clamando algo que eu não tinha certeza, os lábios entreabertos... Escutei sua voz baixa, sua mão aproximando meu rosto ainda mais ao encontro dela.

- Carol.... – E o que estava predestinado a acontecer não podia mais ser refreado. Soltei a esponja e deslizei meus dedos por seu rosto, nossos lábios se tocaram lentamente, o gosto dela em minha boca, levantamos sem notar, nossas línguas valsavam placidamente, nunca havíamos feito isso, nossa amizade era antiga, eu sabia que ela tinha diversas histórias com homens, mas mulheres? nunca! Solvei seu lábio inferior, sentindo seu corpo derreter entre meus afagos e a canção que embalava nossos toques era o meu nome sussurrado ao meu ouvido.

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