O orquidário parte I

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É uma verdade universalmente conhecida que os orquidários precisam de um orquidólogo para que seu cultivo seja contínuo, duradouro e eficaz.

Relevante ressaltar que a aposentadoria repentina de João Calixto afetou em cheio o orquidário da família Cardoso, Natália conseguia manter a rotina a duas penas, principalmente após o breve retorno de Pedro aos Estados Unidos.  Era tenso observar o caos em que as orquídeas estavam sobrevivendo, a rega desregulada, a falta de substrato e acima de tudo, a música Sangue latino no último volume, reverberando aos quatro quantos do recinto.
 
A jovem dona do empreendimento havia herdado juntamente com seu irmão mais velho o orquidário Cardoso, um dos mais belos e conceituados na cidade de São Paulo.

A jovem limpou o suor que teimava em deslizar por sua face, sujando de terra preta sua bochecha alva.
 
- Alexa, ligar para Pedro Folgado.

- Certo, ligando pagar Pedro Folgado.

- Alô maninha? A que devo sua ilustre ligação?

- Pedro? Você já conseguiu alguém pra ficar no lugar do João? Isso aqui está uma loucura! Sério, tem terra na minha cara, como administrar esse lugar sozinha? Pedro, sério!!!! Eu não tô conseguindo.

- Calma maninha, já combinei tudo com a amiga de um conhecido nosso. Aliás, capaz dela aparecer por aí. Pelo menos, foi isso que combinamos.

- Aleluia! Mais um dia e eu tacava fogo nessas orquídeas. Trabalhoso demais!!!

- A nossa herança?! Você faria isso com as pobrezinhas?

- Não duvide nem por um minuto!!! Estou no chão, colocando substrato na freadclarkeara after dark, sendo que está deve ser a centésima do dia! Enquanto isso você está curtindo suas férias ...

- Ah Natália, nem vem reclamar! Eu fiquei anos cuidando do orquidário, com primor, diga-se de passagem.

- Até eu, com o João ao lado, molezinha!!! E eu? Aqui jogada às traças...

- Natália, você está parecendo aquela vitrola velha da sala... se repetindo! Já disse que vai ter alguém te ajudando...

- Ah sim, é qual o nome da querida? – não deu para Pedro responder, já que  Natália moveu seu rosto e o celular deslizou de seu ombro, contudo uma voz feminina e baixa se fez ouvir logo Atrás de Natália.

- Olá, sou Ana Carolina Sofredini, Orquidóloga e receio que talvez seja sua salvadora também – Deu uma risadinha baixa, dando uma olhada nas plantas dispostas ao redor.

Natália ficou alguns segundos fitando a moça, ela era encantadora, obviamente! Um semblante doce e com certeza astuta, quebrou o contato visual apenas para se levantar e o movimento brusco fez com que sua bota afundasse na terra Nova, a fazendo perder o equilíbrio, não caiu por sorte, já que Ana Carolina segurou seu antebraço, uma primeira impressão desastrosa para Natália, não era o que ela esperava, com certeza.
- Vo.... Você é... Pedro?  Quer dizer...

- Sim! Ou melhor... não? Brincadeira – Falou rindo- Pedro conversou comigo, disse que eu tinha uma missão impossível! Salvar o orquidário da família das mãos da irmã mais nova...
 
- Que bandido! Eu sou ótima! – disse olhando suas próprias roupas sujas de terra. É que eu cai... – Se justificou desnecessariamente.

- Acontece comigo também! O tempo todo! Mas vamos ser sinceras, o melhor de lidar com essas plantas é de fato por a mão na massa, ou melhor, na terra.
 
As duas conversaram horas a fio, acertaram os horários, e como seria o itinerário da mais nova contratada, era importante ter em mente que aquele trabalho seria provisório, visto que logo teria uma pesquisa para realizar no Equador, a busca por uma espécime nova de orquídea. Ana carolina falava sobre isso com os olhos brilhando tanto que nem reparou o quão decepcionada Natália ficara ao saber que a ajuda dela seria efêmera.  

- Quanto tempo? – Falou parando de andar.

- Desculpa? – Ana Carolina falou sem compreender.

- Você vai ficar aqui por quanto tempo? – cruzou os braços tentando não transparecer o descontentamento profundo.

- Três meses! O tempo em que Pedro ficará longe. Não é ótimo?! – Ela falou feliz.

- Sim, realmente. Foi perfeito! Obrigada por aceitar me ajudar, Ana carolina, sem João aqui, tudo ficou de cabeça pra baixo.

- Carol, pode me chamar de Carol! Até prefiro.

- Claro, Carol! Bem... pode me chamar de Natália mesmo! Nada de nome composto ou apelidos fofos pra mim, bem ninguém me deu um até o momento. – esclareceu sem graça.

- Entendo... Bem? Vamos começando? – Carol enrolou as mangas de sua camisa social branca e amarrou seu cabelo em um coque bagunçado.

- Não quer deixar para amanhã? Você vai sujar sua roupa... tô avisando.

- E deixar de ficar em um lugar como este? Apenas por causa de uma  sujeirinha boba? Você não me conhece mesmo, Natália. E assim o convívio das duas se iniciou, uma relação de trabalho, uma necessidade de sobrevivência. Não demorou muito para que uma se acostumasse com os trejeitos da outra, e nem para reparar o quão parecidas elas eram....

Mas isso é coisa para um próximo capítulo.

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