O orquidário parte IV

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Aquele almoço foi o evento mais indigesto para todos os que estavam naquela mesa, Ulisses estava arrependido de ter feito o convite, isso porque além de ter certeza que tinha perdido todas as chances com Natália, ainda foi esculachado por uma completa desconhecida, o que ferira seu ego mortalmente.

E para as duas, bem... digamos que existe um tipo específico de pessoas que detestam a mentira, seja benéfica ou não, e infelizmente esse era o caso das duas, Natália segurava a mão da outra sempre que podia, e essa atitude afligia Carol, não pelo gesto, mas sim porque sentir os carinhos de Natália provocavam um sentimento indescritível. E após a sobremesa, Ulisses se despediu, dizendo que tinha um cliente inportante a sua espera, uma desculpa esfarrapada que deixava translúcido: a ideia de Natália deu certo, afinal. Tudo isso, graças à Carol que desempenhara seu papel assustadoramente bem. Elas se despediram de Ulisses e também de Marcos, Carol simpatizara com o senhorzinho.

- Carol, cuida bem dela! Ela merece ser feliz... - Natália sorriu sem jeito, como poderia dizer a verdade pra ele? Não iria.

- Pode deixar, seu pedido é uma ordem, seu Marcos! - Carol ria, acenando para o outro.

Então foram para o carro, Natália abriu a porta para sua ilustre convidada.

- Obrigada. - Disse Carol, sorrindo.

Então a motorista sentou no banco e iniciou a viagem de volta ao orquidário, um silêncio ensurdecedor, uma esperando a outra iniciar o diálogo. Carol vendo a deixa, informou:

- Não se preocupe... Entendi o motivo da história, não te julgo!

- Carol, mil desculpas eu ... nossa, estou super sem graça, olha... não te disse nada porque fiquei com medo de você não aceitar, então, pensei que seria mais fácil se fosse assim, mas me arrependi, e puxa, você até machucou sua mão!

- Aquilo?! Já passou! Olha! - mostrou sua mão, mexendo as falanges como se estivesse dedilhando as teclas de um piano! - Viu?! Estou ótima! Só não sei como você mantém contato com um cara feito o Ulisses, o pior tipo de trouxa que eu já vi.

- Realmente, acho que me acostumei a viver de migalhas, pensava que uma amizade era melhor que nada, fosse como fosse! Agora tenho certeza que é melhor ser sozinho do que ter algo assim! Tóxico.

- Ah, Natália! Você é uma pessoa super contagiante! De bem com a vida! Alegre, é certo que pode achar amigos muito melhores! Juro!!! - afirmou afagando a mão que passava a marcha.
De imediato congelou quando sentiu um frio no estômago, Natália olhou suas mãos juntas, e logo após fitou os olhos claros de Carol... entreabriu seus lábios, como que se preparando para falar algo, porém desviou seu olhar para a direção, rapidamente.

- Você é uma ótima atriz, se a vida de pesquisadora não tivesse dado certo, você poderia investir na carreira!

- Eu? Você está brincando, Natália?! Sou péssima em mentir, sério! Minha mãe vivia me pegando na mentira, simplesmente começo a gaguejar, sabe? É tosco, até pra mim, reconheço. - Então, refletindo sobre o que havia revelado, tratou de virar o rosto em direção a janela. - Porra, Carol! É sério mesmo que você se entregou de graça? Será que Natália tinha lido nas entrelinhas de sua confissão?

- Então, era verdade? - Falou de imediato, não tirando os olhos da estrada.

- Verdade?! O que era verdade? Depende?! O que você está falando? É... depende, não sei! - Carol falava nervosa, sem deixar brechas para a outra responder.

- Acho melhor continuarmos essa conversa quando chegarmos. - Natália falou séria e Carol torcia seus dedos, tentando disfarçar o nervosismo. - Cara, como eu sou burra?! Essa minha boca! Que ódio! Merda, que vergonha! Não acredito!

- Tá! - o silêncio pairava no ar. Apenas o barulho dos pneus sob o granito cantavam, e como esse caminho pareceu longínquo. Carol tentava aproveitar o momento, o cheiro de pêssego que tinha no carro, o modo como Natália passava a marcha e ajeitava seu cabelo atrás da orelha, cada detalhe era importante agora. Afinal, poderia ser a última vez ali.

Assim que Natália estacionou, Carol deu um salto do carro, afinal, seria meio constrangedor que ela esperasse Natália abrir a porta desta vez. Primeiro que não estavam em público e segundo, depois do que disse, tudo poderia produzir provas contra ela.

Então Natália a seguiu até o interior do orquidário, Carol pegou o borrifador e iniciou a limpeza da orquídea. Em nenhum momento a doutora ousou olhar para a outra.

- Carol... - Se aproximou pegando o borrifador das mãos dela. - Logo os olhos claros se perderam nos escuros de Natália, lentamente a moça abriu seus lábios, pausadamente questionando sobre o assunto que iniciaram no carro.

- Era verdade, então... Carol? - esta tentou desviar o olhar, mas falhou miseravelmente quando Natália segurou seu queixo.

A pesquisadora fez um muxoxo choroso, e afirmou, como se este fosse o único gesto possível para confessar seus sentimentos.

Natália sorriu, quando viu que Carol realmente tinha sentimentos por ela, seus dedos deslizaram para firmar a lateral do pescoço de Carol, aproximou seu rosto por mais alguns milímetros, os lábios de Natália se entreabriram tão milimetricamente próximos aos de Carol que esta podia sentia o calor que emanava da outra, Natália passeava lentamente, tocando Carol de uma maneira peculiar, afinal, a doutora nunca imaginara que lábios tão macios fossem passear por suas bochechas coradas, provocando frio e calor na mesma intensidade ao mesmo tempo. Natália sussurrou o nome de Carol ao pé do ouvido e beijou castamente seu rosto, vagando com seus lábios até chegar aos lábios de Carol, roçando neles sutilmente, parou suas investidas para fitar a jovem de cabelos escuros por mais uma vez, um pedido silencioso no olhar e Natália soube que não haveria arrependimentos, não haveria receios mais, afinal, todos seus sentimentos eram recíprocos, sentiu o tremor da outra quando seus lábios se tocaram e deslizaram lentamente, Natália enlaçou a cintura da outra, colando seus corpos, Carol se perdeu nos lábios ágeis de Natália, aproveitando cada segundo do prazer que era estar nos braços dela, assim, sem mais receios decidiu falar sobre seus sentimentos:

- Eu amo você... Na verdade, acho que foi amor a primeira vista, com o tempo só confirmei aquilo que meu coração sentira no segundo que te avistou, mas como eu poderia dizer isso? Você me acharia uma louca! - Natália riu na última frase.

- Acho que na verdade se uma de nós deve ser conhecida por louca... esta pessoa seria eu! Afinal, quem iria fingir um namoro assim? E nossa... estou tão feliz que essa confusão nos esclareceu algo tão sincero e ... Deus, Carol... com o sonhei com isso! - dizia entre selinhos estalados.

- nota da autora:
Caros leitores, prometo que o próximo será o último! Realmente minha intenção era terminar neste. Tanto que tirando o finalzinho, todo o restante do capítulo já estava escrito há duas semanas. Volto logo, juro.

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