III.

299 37 21
                                    

Oie!

Aqui a gente continua um pouquinho no passado do Kelvin, antes de se encontrar com Ramiro. Mas vamos chegar no presente logo, logo!

Espero que gostem!

-/-

Haviam muitas coisas em Nova Primavera que Kelvin também via na cidade de onde veio. A família mais respeitada da cidade, que todo mundo gostava de fofocar sobre, a pracinha que a população toda gostava de ir pra passear, a igrejinha tão parecida com a que ele dormiu naquela noite que saiu de casa.

Mas Nova Primavera tinha Dona Cândida. E Kelvin tinha certeza que não havia mulher como ela em lugar nenhum.

A primeira parada de Luis, o caminhoneiro que o ajudou a fugir sem nem saber, foi o bar da cidade, o Naitendei. Era quase final da tarde quando eles chegaram, e as meninas do bar estavam preparando e estabelecimento para a noite. Elas conheciam Luis, que aparentemente parava no bar sempre que estava por perto, e duas delas se atracaram nele e o arrastaram para o bar, deixando Kelvin parado no salão, com sua mochila no ombro.

Em qualquer outra situação, Kelvin poderia se sentir um pouco desconfortável, mas... não aqui. Tinha alguma coisa sobre esse lugar, o salão de festa e o palco no canto, o pole dance no fundo e a música baixa tocando, a bandeira do arco-íris que ele podia ver uma das paredes... Alguma partezinha dele se sentia como se ele pudesse pertencer ali de alguma forma.

— E você, bonequinho? Quem é você?

Kelvin se virou quando ouviu a voz o chamando, e viu andando em sua direção uma mulher mais velha do que as outras, o cabelo longo e loiro o lembrando de sua mãe - mas Kelvin afastou esse pensamento rápido.

— Eu? M-meu nome é Kelvin. O... O Luis me deu uma carona.

— E você tá só passando pela cidade também, ou vai ficar por aqui? — Ela perguntou, seu olhar examinador correndo por Kelvin.

— Olha, senhora, eu não tenho planos nenhum, viu. — Kelvin respondeu, um sorriso cansado e meio sem jeito no rosto. — Eu só... Precisava sair  de onde eu tava.

— Ah, eu entendo bem. Vem cá, vem sentar comigo que eu já não tenho mais idade pra ficar em pé assim, esse tempo todo.

Ela começou a andar até uma das mesas, chamando Kelvin com as mãos, antes de gesticular com elas para o bar inteiro.

— Eu sou a Cândida, bonequinho. Dona desse bar e desse lugar todo, viu. Agora vai, me fala: porque você tava tão desesperado pra sair de onde você tava que nem se importou pra onde tava indo?

Kelvin não sabia muito bem o porquê, mas a Dona Cândida... Kelvin tinha uma sensação de que podia falar com ela. E mais do que isso, de que queria falar com ela. Não sobre tudo, é claro, mas pelo menos uma parte da história.

— Meus pais me expulsaram de casa, Dona Cândida. Porque eu sou gay, sabe? Aí... Aí eu não queria ficar perto de onde eles estavam mais, né. Então fui embora. Tentei me virar sozinho lá em Minas Gerais mesmo, mas... Ah, não deu certo. Aí eu resolvi tentar em outro lugar. O Luis me ajudou né, disse que tava vindo pra cá, aí eu vim com ele. — Kelvin respondeu, falando rápido porque estava nervoso.

— Já ouvi várias dessas histórias, menino. A Luana, aquela morena ali, tá vendo? Ela veio parar aqui porque a família virou as costas também quando ela assumiu ser uma mulher. — Cândida contou, apontando para o bar.

Saber que Cândida havia acolhido alguém um pouco como ele, alguém que não cabia nos padrões e que tinha sido deixada de lado por isso, so confirmou para Kelvin que seus instintos estavam corretos, e que ele poderia querer ficar ali.

CONTROLOnde histórias criam vida. Descubra agora