De todas as situações desconfortáveis que Sophie já tivera que viver, aquela estava no topo da lista como número um.
Luke encarava Clary com um ódio genuíno. Seus olhos estavam tão escuros que pareciam pretos, tamanha era sua ira.- Clary! - repreendeu Jonathan, com olhos esbugalhados.
Miguel parecia uma criança que acabara de ser pega no flagra fazendo alguma besteira.
- Já chega - disse Luke, jogando o guardanapo em cima da mesa. - Perdi a fome.
Ele se levantou e saiu a passos rápidos. Todos, inclusive Sophie, ficaram mudos depois que ele saiu.
- Me desculpe, Sophie - Clary disse instantes depois, quando todos haviam terminado de comer. - Apenas... saiu.
- Não se preocupe com isso. Você não contou nenhuma mentira.
Em outra situação, Sophie teria se levantado da mesa e ido atrás de Luke, para acalmá-lo, mas simplesmente não tinha energia para isso.
- Alguém quer sobremesa? - perguntou Jonathan, na tentativa de suavizar o clima.
- Eu passo - disse Sophie, desanimada.
Clarissa arrastou Jonathan para o quarto minutos depois, e então na mesa restaram apenas Sophie e Miguel.
Eles se encararam, em silêncio. Sophie não gostava daquele olhar intenso que Miguel sempre a direcionava. Mexia com ela, pertubava-a.- Como você está? - questionou Miguel. - Sei que não pode estar bem, a morte de Paggie é muito recente. Mas... como você está?
Sophie pensou na pergunta. Era sobre o que mais vinha pensando ultimamente. O vazio que sentia vinha sendo preenchido pela dúvida, angústia e medo. Ela e Luke iriam se separar. As coisas mudariam, e se tudo desse errado, ela não conhecia sua versão pós seleção. Não poderia voltar a pintar profissionalmente, pois sua nova casta não permitiria. E ao mesmo tempo, se perguntava se não seria rebaixada a uma oito depois de um divórcio com o rei. Mulheres divorciadas eram a ralé em Nápoles.
O que aconteceria com sua família? Seriam jogados no esgoto junto com ela?O garçom trouxe sobremesa mesmo depois de ela ter recusado. Provavelmente se confundiu. Sophie aceitou educadamente, mas não tocou no pudim de chocolate.
- Isso é preocupante - disse Miguel, observando Sophie afastar o prato de porcelana. - Você ama doces.
- Mal consegui processar o jantar.
- Acho que isso responde minha pergunta.
Ela o encarou. Ele estava usando uma camiseta preta, simples. Nada se parecia com um príncipe. Exceto em sua aparência, é claro. E em sua postura. Ao redor do pulso alvo havia um relógio grande e chamativo, com algumas pedras preciosas entre os ponteiros. E ele usava jeans, preto e liso igual a camiseta.
Sophie gostava de vê-lo assim. Embora o terno desse a ele um ar de contos de fadas, essas roupas "normais" o fazia parecer mais real.
De repente Sophie imaginou como seria sua vida ao lado dele. E se era mesmo possível.
Imagine o escândalo: esposa do rei, consequentemente a rainha, pede o divorcio e se casa com o irmão dele, o príncipe. Eles se mudam para um castelo no campo, longe dos olhos curiosos. E passavam a viver suas vidas separados da família real, isolados.Não são bem-vindos no palácio de Bevelly, e não comparecem às comemorações familiares. Nunca voltam para o natal, nem para a páscoa. Não vão aos aniversários, e quando Clarissa enfim se casar com Jonathan, eles não estarão lá para ver.
O benefício é que Sophie poderia levar a família consigo. Eles não possuem uma jovem para se casar cujo a reputação estaria comprometida morando com párias.
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Em Meio a Realeza
RomanceA guerra acabou e finalmente todos podem comemorar. Todos, exceto Sophie. Ela está de luto. Precisa superar seus fantasmas interiores e fazer uma escolha que determinará o seu destino.