Capítulo 5 - Idiot

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Sempre pensei que ter feito parte da Diversity foi uma das mais estranhas e excitantes experiências que eu poderia ter tido. Estar em um grupo com vocês era tão viciante que, mesmo sendo difícil de acreditar, me fez sentir completamente à vontade pela primeira vez na minha vida; como se estivesse a minha vida toda apenas esperando o momento de conhecer vocês e deixar me guiar por um caminho que era completamente desconhecido para mim.

Vocês foram quem me ajudaram a me desenvolver como pessoa e isso foi de grande ajuda quando a Diversity começou a se tornar mais relevante no mundo da música. Eu era muito mais jovem que vocês, então fazia sentido para você terminar de me educar em vários sentidos; você começou a fazer isso quando seu ceticismo em relação a mim começou a se desfazer semanas depois de eu me juntar à banda.

Fazer parte de uma banda como a Diversity era algo que eu nunca tinha imaginado. Eu sempre me via nos palcos, mas eu nunca contemplei dividir isso com mais pessoas até me presentearem com a oportunidade que mudaria completamente a minha vida. Eu era uma noviça em muitos sentidos, não fazia nem muito tempo que tinha começado a cantar profissionalmente, então aprendi muitas coisas quando começamos a fazer música juntos.

Lembro das conversas profundas que a gente tinha no estúdio, aquelas onde a gente falava sobre nossos maiores objetivos e sonhos com o grupo. E, mesmo que cada um tivesse sua própria visão, todos nós dávamos uma grande ênfase em perseguir a fama até ganhar o reconhecimento esperado por tanto tempo.

Eu esperava muitas coisas desde quando fui aceita na banda, mas nunca esperei ter desenvolvido qualquer tipo de atração por você. Quando penso sobre isso, agora percebo que era inevitável, porque tentar evitar meus sentimentos por você era o equivalente a tentar parar um trem sem morrer na tentativa; praticamente impossível.

Você era tão diferente de todo mundo que eu conhecia que era difícil para mim não pensar em você em uma frequência quase que doentia. Até a forma com que você tocava guitarra era única, se destacando de todos os outros guitarristas famosos da época. O seu jeito calmo e eletrizante de dedilhar quase tinha uma voz própria. A forma com que você tirava as notas, com um toque suave, e o som sedutor que você criava durante cada performance causava um efeito hipnotizante em mim.

- Há quanto tempo você toca guitarra? - Perguntei naquela eletrizante noite de agosto. O ensaio tinha acabado fazia meia hora e todo mundo já tinha ido embora. Pensei em ir também, mas acabei ficando um pouco mais com a desculpa de querer discutir algumas músicas com você.

Você franzia os lábios enquanto gentilmente corria os dedos pelas cordas, criando uma melodia nova em questão de segundos como se fosse a coisa mais fácil do mundo.

Me lembro de como meu coração batia toda vez que escutava você tocar; era como se tivesse uma corrente elétrica correndo pelas minhas veias. Quando eu me inclinei para trás na cadeira para ter uma visão melhor, senti uma estranha atração que era impossível de explicar. Foi como se algo novo, poderoso e profundo tivesse despertado em mim.

No início, eu pensava que isso era parte de estarmos na banda juntas. Nós tínhamos uma conexão musical excepcional e eu sempre fui agradecida por isso, mas quando comecei a perceber que era mais que isso, fiquei com muito medo.

- Eu aprendi a tocar no ensino médio. - sua resposta foi simples a princípio, como se você tivesse pensando se valia a pena me contar a história ou manter ela com você. - Mas foi escondido, porque ninguém em casa gostava da ideia de eu me dedicar à música.

Não era a primeira vez que a gente conversava sozinhas. De tempos em tempos a gente tinha longas conversas no estúdio que invadiam a noite quando todos os outros já tinham ido embora, como naquele dia, mas a gente sempre se limitava a falar sobre música; essa era a primeira vez que você falava sobre a sua vida pessoal.

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