Oz

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Chego na pousada e olho em volta, tenho certeza que estou muito ferrado agora! Quando entramos na vila várias pessoas pararam para me cumprimentar, o Covinhas que está mau humorado não quis esperar, então deve ter chegado aqui pelo menos uns dez minutos antes, só espero que tenha vindo para cá mesmo. Eu respiro fundo, vou até a recepção e sorrio.

— Bom dia, tio Lau!

— Bom dia, rapaz, porque você está aqui tão longe do verão?

— Eu peguei alguns dias de folga e decidi visitar.

— Maravilha! Quer um quarto?

— Na verdade, eu vim com um rapaz ... O nome dele é Parakul...

— Eu sabia que conhecia o rapaz de algum lugar, é o menino educado, não é? Aquele que almoçava aqui com você.

— É ele sim.

— Ele não estava muito educado hoje e não parecia nada feliz.

— É cansaço da viagem, ele passa mal em barcos. Em qual quarto ele está?

O tio Lau concorda como se entendesse o que estou falando, provavelmente está acostumado com turistas que ficam enjoados em barcos, ele olha no computador, vira e pega uma chave.

— O jantar hoje é por minha conta.

— Obrigado, tio!

Eu vou correndo pelo corredor até achar o quarto do Covinhas, quando chego na frente da porta paro e tento me acalmar. Vai ficar tudo bem, vai  ficar tudo bem! Coloco a chave na fechadura, abro a porta devagar e olho dentro, o Covinhas não está, sou capaz de doar três meses do meu salário se ele não estiver tomando banho.

Vou até o banheiro e abro a porta devagar, vejo o Pran no chuveiro se esfregando de forma frenética, assim como faz quando chegamos do trabalho e ele está muito sujo, deve estar muito nervoso, ou ansioso, provavelmente os dois. Dou um passo para trás voltando pro quarto, tiro a minha roupa e entro no banheiro, quando percebe que estou me aproximando ele congela, tenho medo que me expulse, mas continuo até estar atrás dele.

Nós ficamos parados por um longo momento sem fazer nada, então eu levanto a mão e pego a esponja, penso em pedir desculpas ou dizer qualquer outra coisa, mas acho melhor deixar rolar. Mesmo ele já tendo tomando banho eu passo a esponja pelo seu corpo devagar, isso o ajuda a relaxar.

Quando termino guardo a esponja, coloco as mãos nos seus ombros e beijo o ombro direito, subo beijando o seu pescoço, seguro o seu queixo, viro o seu rosto para ele olhar pra mim e espero, eu sei que ele está irritado e não quero simplesmente agir como se não soubesse, eu quero ele agora, podemos resolver tudo depois, mas essa escolha tem que ser dele. Depois de alguns segundos me encarando ele se aproxima e me beija, começa devagar, mas de repente vira de frente pra mim e troca de lugar comigo me encostando na parede, passa a mão pelo meu cabelo e puxa para trás, quando a minha cabeça levanta o Covinhas beija o meu pescoço várias vezes trazendo o Napatzinho para o jogo, eu me surpreendo quando sinto uma pressão forte no meu pescoço e tento afastar ele.

— Covinhas, o que...

O Pran cobre a minha boca com a mão me impedindo de falar e chupa com força, isso com certeza vai deixar uma mancha enorme! Ele desce beijando o meu peito e se ajoelha, quando começa a me chupar eu esqueço de todo o resto e me concentro só nele.

Acordo com uma luz forte no meu rosto e abro os olhos devagar, procuro em volta, mas o Covinhas não está no quarto, levanto e visto a minha cueca, vou até o banheiro, ele também não está, eu começo a ficar nervoso e seguro o meu colar, um habito que estava perdendo aos poucos. Volto para o quarto e pego o celular pra ligar para o Pran, quando estou discando o seu número olho para o lado e o vejo na varanda, sinto um alívio imediato e vou até ele.

Chego na varanda e olho no horizonte, é fim do dia e daqui podemos assistir o por do sol, é uma visão linda, o céu todo laranja e o mar azul, uma combinação perfeita! Eu me aproximo do Pran que está encostando em uma viga e o abraço, espero ele dizer pra me afastar ou fazer algum comentário sarcástico, mas ele apenas suspira e continua assistindo o por do sol, então eu apoio o queixo no seu ombro e fico em silêncio curtindo o momento.

Quando o sol está quase sumindo o Pran suspira mais uma vez e eu beijo o seu pescoço.

— Conversa comigo, Covinhas... — Ele não diz nada e eu penso em como continuar. — Eu falei sério mais cedo, não dá atenção para o que os caras disseram...

Ele continua calado e eu fico preocupado, mais uma vez tento pensar em alguma coisa que nos tire dessa situação, mas antes que eu diga mais alguma coisa o Covinhas fala baixo.

— Eu não estou... — Ele para de falar e suspira novamente. — Eu sei que não tenho o direito de ficar bravo, Pat, mas por todo esse tempo eu achei... Sei lá... Durante os últimos anos eu não... Não  conseguia fazer amizades, me divertir ou qualquer coisa assim... Eu sempre imaginei que com você tinha sido igual, mas não foi, você seguiu com a sua vida, mesmo me procurando você continuou vivendo...

Esse é o problema dele? Eu pensei que ele estava com ciúmes, mas ele está assim porque eu conheci pessoas?

— Eu passei muito tempo por aqui, Covinhas, conhecer as pessoas foi inevitável, não vou mentir pra você, eu gosto de todos aqui, mas dizer que me diverti ou que era feliz seria mentira, eu era como uma casca vazia, conversava, ia nas festas, surfava, fazia várias coisas, mas era algo mecânico, eu não sentia nada fazendo isso, não tinha emoção, não tinha... Paixão. Eles brincam falando que eu sou o Marlin, mas eu era na verdade como o homem de lata, quando foi embora você levou o meu coração junto, Pran...

Eu não digo mais nada, decidi que não ia mais me afundar na dor e no sofrimento do passado, não vou ficar voltando para lá e não quero que o Pran volte também, nós estamos aqui agora, temos um ao outro, nos amamos e tenho certeza que vamos passar a vida inteira juntos, como ele mesmo disse uma vez, somos almas gêmeas, o passado só vai nos ferir, precisamos seguir em frente...

— Você sabe que o homem de lata sempre teve um coração, não sabe?

O tom debochado dele me deixa aliviado, acho que assim como eu ele só quer superar tudo isso. Eu tento lembrar da história, mas não lembro de quase nada.

— Mas não era o que ele queria, um coração?

Ele suspira e vira pra mim, só então eu percebo que o sol já foi embora, o Covinhas arruma o meu cabelo que deve estar todo bagunçado porque dormi com ele molhado e explica.

— Ele sempre teve um coração, só não sabia como lidar com os sentimentos.

— Sério?

— Sim.

— Mesmo assim, eu era como o homem de lata, não sabia que ainda tinha um coração.

— Você está mais para o espantalho.

— Ei! Não era esse que não tinha cérebro?

Ele revira os olhos e sorri.

— Ele era meio atrapalhado e distraído, mas sempre tinha as melhores ideias do grupo.

— Legal, não lembro mesmo da história... E o leão?

— O leão acreditava que era covarde, mas na verdade só faltava confiança, ele sempre teve coragem.

Eu toco o seu rosto enquanto ele explica a história pacientemente, não sei como saímos de uma possível briga para uma história infantil, mas nesse momento eu estou muito feliz, ele está calmo e lúcido, sem medo, sem ansiedade, sem raiva, no seu olhar eu consigo ver apenas amor.

— Então eu sou o seu Espantalho e você é o meu Leão, Covinhas...

Ele primeiro fica confuso, depois surpreso, então sorri fazendo o meu coração acelerar.

— Eu te amo, Covinhas!

— Eu também te amo, Olhos Ferozes!

Aquele Verão Onde histórias criam vida. Descubra agora