Menino de Ouro

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— Covinhas, vamos parar um pouco!

— Já está cansado, Olhos Ferozes?

Não, mas ele com certeza está!

— Acho que vai me dar câimbra...

Falo isso com a voz mais lamentável do mundo e ele finalmente para olhando pra trás, sério, já faz uns dez minutos que ele está respirando com dificuldade e toda hora colocando a mão na lateral da barriga, cada vez que faz isso me deixa mais preocupado. O Covinhas volta os poucos passos que está a minha frente, segura o meu braço, olha em volta e não disfarça o nojo e a ansiedade, mas anda comigo até uma pedra e me ajuda a sentar. Escalar a montanha foi uma péssima ideia, eu soube antes mesmo de completar o primeiro quilômetro. O Pran se incomoda com coisas mínimas, musgos, pedras sujas, galhos muito grandes que invadem a trilha, lixos deixaram para trás, animais e insetos, principalmente os insetos! O Covinhas deve ter o sangue mais doce do mundo, ele se encheu de repelente antes de vir, mesmo assim está sendo atacado sem parar desde que entramos na trilha. Acho que por tudo isso ele não quis fazer uma pausa ainda, mesmo cansado e com dor ele não estava achando um lugar que considerasse minimamente adequado para ficar.

— Você está bem?

Ele se abaixa na minha frente, levanta o meu calção e começa a massagear a coxa que eu mostrei que estava com câimbra, não importa quanto tempo passemos juntos, ele continua alheio a certos tipos de situações. Assim que o Napatzinho dá sinal de vida eu seguro a sua mão.

— Está tudo bem, acho que eu só preciso parar um pouco. Vem aqui!

Eu puxo a sua mão e faço ele sentar no meu colo, tenho certeza que não sentaria em nenhum outro lugar e ele precisa descansar. Ele vira de lado e toca o meu rosto, está visivelmente preocupado.

— Eu estou bem, Covinhas, é sério!

— Podemos voltar...

Eu olho para a trilha e tento decidir se é melhor levar ele embora ou continuar, mas escolho continuar, esses pequenos passos que ele dá para fora da sua zona segura podem ajudar com o seu problema, ou piorar, mas acho que ele está tranquilo aqui apesar de tudo.

— Só falta mais um pouco, vamos continuar.

O Pran me olha em dúvida, mas acena concordando, se aproxima e me beija. Ele definitivamente ainda é alheio à certas situações, mas eu não digo nada, apenas o beijo enquanto tento me controlar. Não fica duro!

Quando chegamos no topo da montanha eu vou até a beira do penhasco e olho para baixo, nem consigo acreditar que subimos tudo isso!

— Pat, o que você está fazendo? Volta aqui! Pat! Pat!

A vista daqui é linda! Acho que essa foi a única coisa que não fizemos juntos da outra vez, exploramos toda a ilha, mas a escalada principal o Pran estava sempre deixando para depois e mesmo nas outras vezes que voltei aqui não quis fazer sozinho.

— Covinhas, vem aqui!

Eu viro para ele que me olha assustado e suspiro, estendo a mão e espero. Um dia o Covinhas disse que se nos conhecêssemos quando éramos mais novos eu seria alguém que luta contra ele, mas eu não concordo, acho que eu seria aquele que o desafia, aquele que mostra que a coragem está ali, só falta confiança, porque ele é o meu Leão covarde. Depois de um longo momento de espera ele levanta a mão e dá alguns passos, para, respira fundo e anda até segurar a minha mão, eu o puxo e abraço, assim que está nos meus braços ele começa a relaxar, quando está mais calmo eu o beijo, então viro para a frente.

— É lindo, Pat...

— É sim.

— Você nunca veio aqui mesmo?

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