Esperança

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Nós chegamos perto do barco e mais uma vez eu questiono tudo isso, porque o Pran iria pra ilha sozinho? Porque o idiota do Wai contou para o Korn?

Apenas um barco está parado no pier e o Korn vai na sua direção, eu corro para alcançar ele e seguro o seu braço.

- Espera, esse não é um barco de transporte, é um barco de pesca.

Ele olha em volta confuso e dá de ombros, vira e continua andando até o barco.

- Com licença, o senhor vai para a outra ilha?

O pescador olha para nós, então sorri.

- Vejam se não é o rapaz bonito!

- Boa tarde, senhor! Desculpe incomodar, o senhor está indo pra ilha?

- Estou sim, entrem, eu levo vocês.

O Korn sorri e corre para o barco, ainda não tenho certeza sobre isso, mas que outra escolha eu tenho?

Ver o pôr do sol em alto mar é uma tortura, me faz lembrar as inúmeras vezes que fiz isso com o Covinhas na ilha, o azul e o laranja se misturando até restar apenas escuridão, é nisso que a minha vida se transformou.

O barco sacode muito e eu tenho medo de uma tempestade, nunca fui para a ilha no meio da noite, é realmente assustador.

O Korn fala sem parar, mas não consigo prestar atenção em nada do que está dizendo, se é aquele problema de concentração ou a fome eu não sei dizer, mas a cada segundo que passa eu me sinto mais fraco, então provavelmente é a segunda opção, será que vou conseguir chegar na ilha? Devia ter comido alguma coisa antes de sair, mas assim que o Korn disse que achou o Covinhas eu sai correndo para o carro dele.

O pescador... Tento lembrar o nome dele, mas não consigo. O Pran é muito melhor nisso do que eu, sempre que encontramos um morador da ilha ele cumprimenta dizendo o nome pra eu saber quem é. O pescador se aproxima com dois copos na mão sorrindo.

- Aqui, bebam alguma coisa, está esfriando, isso vai ajudar a esquentar.

Pego o copo com alguma coisa marrom com cheiro forte, experimento e o gosto é mais forte ainda, talvez isso ajude a enganar o meu estômago. Começo a beber quando o barco sacode e a bebida cai sobre mim, é pegajosa e agora o cheiro está muito mais forte, o pescador da risada e vai para a cabine, volta com um balde e uma caneca colocando na minha frente.

- É melhor você se lavar, senão vai ficar fedendo por semanas.

Tiro a roupa e jogo água pelo meu corpo com a caneca, o barco continua chacoalhando e agora o meu estômago está embrulhado sem parar, o pescador volta com uma toalha e um pedaço de sabão, desses feito em casa, quando volta pra cabine eu cheiro, não tem um cheiro muito bom, mas se ajudar com o fedor da bebida tá valendo.

Termino de me lavar e olho pra minha roupa, na correria e sem saber para onde ia acabei saindo sem bagagem, vestir a roupa que eu estava também não é uma alternativa, ando até a cabine, bato na porta, quando o pescador faz um sinal eu entro.

- Desculpe incomodar, mas... O senhor tem alguma roupa que eu possa vestir?

- Claro, só um segundo.

Ele vai até um canto e pega uma sacola.

- Um dos rapazes deixou no barco outro dia, deve servir em você.

- Obrigado, senhor.

Pego a sacola e olho dentro, são roupas novas, depois vou ter que descobrir de quem é e comprar roupas iguais pra devolver. Como o pescador imaginou a roupa serviu bem, são roupas claras, bege talvez? O Covinhas saberia dizer, mas no escuro em alto mar eu fico me sentindo um farol.

Junto as minhas roupas sujas e coloco na sacola, vou até o Korn que continua bebendo e ficamos olhando o mar em silêncio.

- Você continua vindo pra cá? Pra essa ilha?

Sem olhar pra ele eu aceno.

- Antes eu vinha na esperança de encontrar o Pran, agora os moradores da ilha são como uma família para nós.

Nós... Será que ainda existe um nós?

- Eu fico feliz que você tenha voltado a ser você... Quer dizer, pelos poucos minutos que estivemos juntos antes dele desaparecer, você era o Pat que eu sempre conheci... Entende?

Eu aceno concordando, sei o que ele quer dizer, depois daquele verão eu não me sentia mais eu mesmo, é como se uma parte de mim tivesse se perdido. Sinceramente, acho que se não fosse por causa do meu pai enchendo o saco nem para a faculdade eu teria voltado, não tinha vontade de fazer nada, nada me me interessava ou animava, mas quando eu encontrei o Covinhas de novo... É como se a vida voltasse para dentro de mim.

Vejo o contorno da ilha ao longe e seguro o meu colar quando o meu coração acelera, a camisa tem uma grande abertura no peito deixando o colar exposto.

E se ele não quiser me ver? E se ele me mandar embora e terminar comigo? O que eu vou fazer? Como eu vou viver sem ele?

Sinto os meus olhos ardendo e o meu coração batendo cada vez mais forte, mas não vou desistir agora, nós já passamos por coisa muito pior, vamos conseguir superar isso, eu não posso viver sem ele e sei que ele também não pode viver sem mim. Nós vamos ficar bem! É nessa pequena esperança que eu me agarro segurando o meu colar.

O barco para perto da ilha, acho estranho por ele não ter ido até o pier, mas alguns pescadores preferem atracar perto de casa.

- Já sabe para onde vai?

Viro para o Korn e penso, a pousada é a minha melhor aposta, mas ela fica do outro lado da ilha, não sei se consigo chegar até ela, estou me sentindo cada vez mais fraco, se não comer alguma coisa de uma vez vou acabar desmaiando.

- Vamos pra casa do tio Zack, fica aqui perto.

- Estou indo para aquele lado também.

O pescador desce do barco e nós vamos atrás, caminhamos um quilómetros mais ou menos até eu ver pequenas luzes, como vagalumes, quando as alcançamos percebo que são velas espalhadas pela areia, elas formam uma pequena trilha que seguimos, no escuro isso ficou tão lindo, fico me imaginando deitado com o Covinhas entre essas velas, o seu corpo suado iluminado por essas pequenas chamas enquanto ele geme falando o meu nome. O Napatzinho pela primeira vez na semana dá sinal de vida para concordar comigo, mas nem para isso eu tenho força agora, eu preciso realmente comer.

- É logo ali, Ko...

Olho para o lado, mas nem o Korn, nem o pescador estão comigo, viro procurando por eles, mas eles também não estão atrás de mim, viro mais uma vez e me assusto com vários rostos conhecidos me olhando, como se soubessem exatamente o que procurar, os meus olhos vão direto para o meio do corredor, direto para ele. O Covinhas está parado no final do corredor de pessoas, a sua roupa muito parecida com a minha deixa ele lindo e o seu sorriso me tira o fôlego. Quando a marcha nupcial começa a tocar e a Pa para na minha frente eu entendo o que está acontecendo, é o nosso casamento, vamos nos casar!

Aquele Verão Onde histórias criam vida. Descubra agora