A última missão

Eu conheço essas vozes

- O senhor parece radiante hoje Sr. Damian! – Exclamou com um sorriso seu amigo Ewen –

- O que? – questinou, Damian, como quem voltava de um transe –

Claro que o fato de há pouco ter visto Anya e Becky reatando a amizade tinha o deixado contente, porém, ainda se recusava a aceitar os sentimentos que cultivava dentro de si sobre a filha do psiquiatra.

Sim, esse era o trabalho de Loid, não de Twilight. Twilight era um espião de primeira categoria, mas sua missão mais difícil até então tem sido se passar por Loid Forger, um psiquiatra, viúvo e com uma filha de cinco anos.

Agora, recém divorciado.

Naquele corredor amadeirado típico do Colégio Éden, Damian já tinha se retirado de atrás da porta de sua sala de aula quando percebeu que, além de seu trabalho estar completo, seus dois amigos fiéis aproximavam-se dele enquanto caminhavam pelo corredor.

Damian não era de muitas explicações, principalmente quando se tratava de Anya. De uma forma ou de outra, ele sempre buscava mudar de assunto quando era "pego em flagrante", o que certamente aconteceu naquela manhã de terça-feira.

Esse sentimento dentro dele era algo muito novo e algo que ele queria evitar a todo custo, afinal, como uma criança saberia de verdade o que é amar alguém ou se importar com alguma pessoa? Principalmente vindo da realidade que ele nasceu, uma realidade rodeada de riquezas e mordomias que, certamente, Anya nunca viveu. Não havia a menor possibilidade de, sequer, na cabeça de Damian, se tornar um bom amigo de Anya, por mais que eles realmente já fossem. Damian gostava de acreditar que estava muito a cima do patamar da rosada, quando na verdade, ele estava a cada dia mais se apaixonando e zelando por ela. Ele pensava, por muitas vezes, que ela estava apenas o fazendo de bobo e que todas as vezes em que ela dizia que queria ser amiga dele, pensava mais que a menina queria se aproveitar de seu status.

Anya amava amendoim, mas não o Segundo filho.

É difícil para uma criança entender os detalhes do amor que surgem tão amigavelmente discretos. Principalmente de amigos que não deveriam ser amigos, amigos que não seriam amigos se a paz mundial não estivesse em perigo, amigos que continuariam sendo amigos mesmo que um deles fossem telepata?

Damian, que ainda estava no corredor de sua escola, colocou as mãos no bolso sem dar qualquer explicação para seus dois amigos fiéis, mas que logo fizeram questão de mudar de assunto e seguiram para o pátio da escola juntos, eles se dirigiram até um espaço com mesas e cadeiras feitas de madeira onde se acomodaram e iniciaram uma divertida partida de cartas que durou aproximadamente entre vinte cinco a trinta minutos.

- Ele tem razão, parece que você está mais feliz, falou com o seu pai hoje? – perguntou Emile –

Aquilo soou como um balde de água fria para o Desmond, que antes radiava alegria, agora estava reflexivo e pensativo.

A família Desmond era peculiar.

Seu pai, Donovan Desmond, tem o papel principal de presidente do Partido da Unidade Nacional de Ostânia, um homem certamente com muitas responsabilidades e trabalhos a fazer, eram poucas as lembranças que Damian tinha ao lado do pai. Era difícil para uma criança entender que seu próprio pai tinha um papel tão relevante na sociedade, somente filhos da alta classe daquela cidade entenderiam, talvez, como Damian se sentia. A ausência paterna era nítida nos olhos do pequeno e parecia que sua relação com Demetrius, seu irmão mais velho, andava pelo mesmo caminho.

Com alguns poucos anos de diferença, Damian sentia-se mais próximo de seus amigos de classe do que de seu próprio irmão, e por mais que a imagem do mais velho sempre fosse utilizada contra ele a motivos de comparação, ainda era novo demais para entender que dentro de si, pouco a pouco, criava-se um sentimento que no futuro afetaria completamente suas relações. Demetrius nunca teve dificuldade com nada, era um exemplo em tudo e qualquer coisa que fazia, o fato de ter se tornado um aluno imperial tão cedo não deixava dúvidas.