Prólogo

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Estava escuro e barulhento. O menino não conseguia nem ouvir as irmãs mais novas chorando ao lado dele. Ele estava sendo empurrado em direção a um grande prédio, parecia algo saído de um pesadelo; com enormes grades nas janelas, cercas enormes e portões de ferro. Ele segurou firme as mãos das irmãs, não queria perdê-las. Ele não poderia perdê-las, não depois de ver sua seus pais morrerem bem na frente de seus olhos inocentes.

Guardas mascarados com armas carregadas estavam parados a cada poucos metros, ordenando que a multidão enfurecida recuasse. Estranhos gritavam e cães rosnavam e latiam. Dava pra ouvir a distância o grito de animais selvagens. Fora do prédio, estava um caos total.

As meninas estavam assustadas, agarrando-se desesperadamente às mãos do irmão, chorando e lutando para ficar de pé. Os guardas os levaram pelo portão e subiram as escadas. Eles não perceberam o choro, provavelmente não se importavam. Eram os mesmos guardas que atiraram nos seus pais. Eles não se importavam. Eles pareciam desumanos.

As portas do prédio fecharam-se ameaçadoramente atrás das crianças. O barulho alto do lado de fora foi instantaneamente cortado. o único ruído que as crianças conseguiam ouvir era a sua própria respiração e as ocasionais fungadas  das meninas mais novas. O silêncio instantâneo foi quase pior que o caos que acabaram de deixar.

Outro grande contraste por dentro era que tudo era branco. Enquanto lá fora estava escuro e sujo, o interior do prédio estava limpo e claro: um branco imaculado. As paredes eram pintadas de branco, o chão era de ladrilhos brancos que refletiam as luzes brancas brilhantes. Até as cadeiras estranhas espalhadas eram brancas. Branco ofuscante por toda parte.

Uma porta lateral se abriu e uma enfermeira, também vestida de branco, com o cabelo preso em um rabo de cavalo apertado, saiu com uma prancheta. Ela examinou rapidamente as três crianças assustadas, acenou com a cabeça e disse com uma voz aguda e nítida: "Acompanhe as meninas para a ala 4, salas 2 e 3. O menino para a ala 5, sala 1." Ela não esperou por uma resposta, virou-se e fechou a porta.

Os guardas agarraram as crianças pelo braço e as escoltaram rudemente pelos corredores brancos. Eles pararam em frente a grandes portas de correr, com um grande número 4 pintado. A porta precisava de um cartão magnético e uma senha de entrada.

Os irmãos sabiam que algo ruim estava prestes a acontecer. Eles podiam sentir isso em suas entranhas, algo ruim, muito, muito ruim! Eles podiam sentir o cheiro estéril, como em um dentista ou hospital.

Assim que as portas se fecharam atrás deles, os guardas puxaram as duas garotas pelo corredor pra longe do garoto loiro. No momento em que suas mãos se separaram, as crianças começaram a gritar e brigar. Os guardas tiveram que pegar as meninas pela cintura, para evitar que elas se contorcessem. Foi fácil porque elas eram muito novas e pequenas, não havia força nos punhos e nos chutes. O menino lutou contra os guardas, gritando por suas irmãs mais novas.

"Eu vou te encontrar! NÃO! Você não pode! NÃO! Pare! Eu vou te encontrar!"

Ele lutou desesperadamente enquanto suas irmãzinhas gritavam, pedindo-lhe ajuda. Mas o que um menino poderia fazer contra guardas adultos e armados?

Ele observou enquanto os guardas bárbaros seguravam suas irmãs gritando e se debatendo, afastando-se cada vez mais. O que lhe sobrou de sua família.

O menino observou enquanto eles arrastavam as meninas pelo corredor e viravam a esquina, os soluços ficando mais baixos a cada passo. Ele se mexeu e lutou com toda a força que lhe restava. Ele conseguiu se libertar com um puxão final do braço. Tão rápido quanto suas pernas o levaram, ele correu atrás de suas irmãs.

Ele dobrou a esquina, os soluços foram interrompidos bruscamente. Uma porta se fechou. Ele podia ouvir os passos furiosos dos guardas se aproximando. Ele viu uma porta meio aberta à sua esquerda e entrou rapidamente. Era o armário de um zelador. Ele se agachou atrás da porta prendendo a respiração.

"Cara, aquele garoto é rápido" bufou uma voz rouca.

"Sim, definitivamente não recebo o suficiente para correr atrás de pirralhos!" outra voz respondeu.

O menino se levantou quando os passos diminuíram, saiu de seu esconderijo e voltou para as portas por onde ouviu suas irmãs entrarem. Ao se aproximar de uma delas, ouviu um grito agudo. O grito de uma criança pequena com dor. Muita dor.

"Nãooo!!" Ele gritou.

Ele jogou seus pequenos punhos contra a porta.

"Não! Não! Não!! Pare! Eu tô aqui! Tô aqui! Estou bem aqui!" O menino gritou na porta.

Outro grito agudo ecoou pelo corredor. Ambas as suas irmãzinhas estavam gritando agora. Ele não sabia o que fazer. Seu coração bateu mais rápido, seu estômago apertou e ele sentiu lágrimas quentes brotando.

Ele não conseguia entrar nas salas, as portas estavam trancadas, ele não podia entrar. Suas irmãzinhas precisavam dele e ele estava indefeso. As lágrimas finalmente caíram de seus olhos castanhos e deslizaram pelas suas bochechas sujas.

Os passos pesados dos guardas voltaram pelo corredor em sua direção. Ele tinha que tirar suas irmãs de lá, continuou gritando e batendo nas portas onde podia ouvir os gritos quebrados das meninas. Uma porta se abriu atrás dele e outra criança tropeçou pra fora, sendo segurada por uma enfermeira de aparência severa.

O menino tinha traços asiáticos, com cabelos pretos escuros e espetados. Ele parecia exausto, com o peito arfando, marcas de lágrimas no rosto e um hematoma desagradável se formando em sua bochecha.

A voz aguda de uma segunda enfermeira dentro da sala ecoou pelo corredor. "Agora espero que você se lembre do seu nome."

Os olhos do menino dispararam ao redor, arregalados de medo, e pousaram nos olhos arregalados e lacrimejantes do menino loiro.

Ele sussurra quatro palavras; "Corra! Nunca pare de correr!"

O menino asiático foi arrastado pela porta e desapareceu de vista. Os guardas dobraram a esquina e foram para cima do loiro, empurrando-o para o chão.

Ele não iria seguir o conselho do garoto asiático, nunca deixaria suas irmãs para trás. A última coisa que ele lembrou enquanto sua cabeça batia contra o chão duro foram as palavras do asiático e suas duas irmãzinhas gritando, antes da escuridão o tomar.

Defender - the maze runner (Tradução)Onde histórias criam vida. Descubra agora