Prólogo

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Aleppo - 552 a.E.

Arminda Ezra

Quinze anos atrás...

Dias chuvosos não significava algo bom... o papai e a mamãe sempre brincam em dias de chuvas e eu não gosto dessas brincadeiras... elas são muito barulhentas. Mamãe me fala que o papai não presta, mas ele não é comida! como ele é um ser... ser... ser huma... - não sei como falar essa palavra - uma pessoinha podre? Quando dias assim acontecem, mamãe sempre acaba chorando e eu não gosto de ver a minha mamãe chorando... Papai diz que tudo isso é para o próprio bem de todos nós, por que ele quer mostrar que somos uma família feliz...

Mas eu nunca vi um sorriso saindo da mamãe - muito menos para mim - na maioria das vezes o papai não fica em casa e a mamãe diz "Ele poderia morrer, não ia fazer nenhuma falta!" E quando ele volta parece estranho, sua boca cheira a um ratinho morto e sempre quebra tudo dentro de casa. Quando isso acontece mamãe sempre me manda subir as escadas antes mesmo dele chegar em casa - pois da última vez que fiquei, o papai jogou uma panela com água quente em mim. No outro dia ele disse que não foi preme... preme... que não foi por querer mais nunca pede desculpas. Desculpa é para os fracos - Mas em vez de subir eu vejo tudo lá em cima da escada.

Não temos mais nada de valor em casa, "Maddi' minha cachorrinha, sempre me faz companhia em dias assim pois o pouco de vidro que tem em casa é jogado contra a mamãe deixando ela sempre com um olho roxo e ema... ema... e sangue por todo o corpo, e ela me faz companhia. Mas hoje eu escutei um som diferente.

Um grande estrondo oco me fez levantar em um pulo do corredor e correr para o meu quarto. A mamãe gritava sempre "Por favor Abadom! não faça isso!" Me fazendo ter calafrio as duas horas de vidros quebrados e estrondosos, até que tudo cessou com um grande grito. Era a mamãe...

Ela estava demorando a aparecer no meu quarto, será que ela foi dormir? Eu preciso do meu beijo de boa noite! Mamãe, por favor, apareça logo! Eu preciso de você! mamãe? Eu quero a minha mamãe! - A porta se abriu - ufa! Graças aos céus, era a mamãe...

-Vamos Arminda! - Não era a mamãe...

- Cadê a mamãe...?

- Eu não vou mandar duas vezes!

- Eu tô com medo...

- Não começa Arminda! Agora coloque a merda do seu sapato e venha comigo! Agora!

- certo papai...

Os raios e a chuva aumentavam cada vez mais o meu medo, e os meus soluços irritava muito o papai que já havia mandado eu parar com o meu "drama". A minha casa não era mas confiável de ficar e no meio da escuridão do corredor do andar de cima eu não via a mamãe...

-Papai...

- Quieta!

No topo da sacada a escuridão cercava todo ambiente lá embaixo, quando um raio caia enquanto eu e o papai descia eu podia ver os vidros quebrados no chão, e eu não via a mamãe... talvez ela só estivesse na cozinha. É, ela está na cozinha!

-Papai... - sua mão era muito forte me prendendo a ele.

- Quieta Arminda! Se não, a próxima será você!

- Cadê a mamãe? Eu tô com medo...

- Sua mãe fugiu! Com um homem! Ela esqueceu você aqui. Você não presta nem para fugir com ela.

- Eu quero a mamãe! - meus olhos começaram a arder.

- Quieta! Pare de chorar! - a mão pesada do papai foi em direção do meu rosto. - Está vendo?! Tudo isso é culpa sua! Vamos!

Papai me pegou pelo braço e com a chuva ainda caindo me levou para um beco longe de casa e me deixou lá, sozinha, na chuva e no escuro...

Eu não gosto de dias chuvosos.

Por trás da ilha E Os Sete Pecados Capitais Onde histórias criam vida. Descubra agora