Kaiju da terra

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— O que?! Você não vai recusar não é? — o rosto de Michelle demonstrou surpresa, não posso acreditar, a minha própria chefe quer que eu peça demissão. — Não se incomode, querida, mas se fosse eu? Nem pensaria duas vezes antes de aceitar só para nunca mais ter que pisar aqui.

Desviando meu olhar da tela do notebook me virei para o monstro que claramente me assistindo como um BBB de um único participante. Já faz um mês desde que minha rotina praticamente se tornou ser uma distração em tempo integral para o kaiju; Godzilla em algum momento até mesmo decorou meus horários, chegando dois minutos antes de mim e parando na frente do vidro, claro que se eu demorasse algum dos meus colegas, e noventa e nove por centos das vezes era o Allan, vinha me buscar e praticamente arrastar para a frente da janela.
E como se fosse pouco, o saco de dormir que ele me deu realmente tinha estampa do Godzilla, assim como a caneca, roupão, toalha e até mesmo meu forro de cama, nesse dia eu o mataria se ele não colocasse mais quinhentos mil na minha conta, não tem como não perdoar.

— Olha ele aqui. — virei a câmera do webcam em direção a enorme janela e ouvi com satisfação quando ela deu um suspiro de choque. — Tenho que vê-lo todos os dias sem falta, aparentemente a teoria de que ele quer algum tipo de tutor era verdade.

— Tutor? Como um gato ou cachorro? — eu também usei do mesmo tom desacreditado quando Madison me falou isso, a conheci duas semanas atrás quando ela veio ver o titã com os próprios olhos. — E por que ele pisca assim?

— A Madison falou que era um jeito de chamar a atenção, assim como um gato mia para o dono, mas eu não acredito, olha para ele.

— Você está certa, ah, esqueci de te contar, o Behemmoth tá ativo. — meus olhos se arregalaram em surpresa, quer dizer que o titã para qual dediquei anos da minha vida estava acordado e se movendo, fazendo não sei o quê, e eu estou aqui. — Emília? Você está aí?

— Tenho que desligar Michelle, falo com você depois. — ela não deve ter notado meu humor quando nos despedimos, e se notou felizmente não falou nada.

Esfreguei a mão esquerda no rosto em frustração, eu devia estar lá e não aqui, presa em uma jaula subaquática com um carcereiro com mais de cinquenta metros de altura me encarando noite e dia, estou frustrada, e um pouco mentalmente cansada, realmente não sei mais. Depois do susto que eu tomei tudo o que queria era ver meus pais e amigos, mas agora estou aqui.

— Ei cara, só para você saber logo vou estar indo embora. Foi muito gentil da sua parte sair do Japão só para me acompanhar até os Estados Unidos, e devo acreditar que já agradeci o suficiente, certo? Você não vai me seguir até em casa, não é? — mesmo sabendo que ele não iria me entender coloquei minha mão direita contra o vidro frio, sentindo a pressão que ele exalava somente com sua presença; agora meu corpo estava quase completamente sarado, amanhã mesmo vou estar indo tirar a bota de gesso e gaze do meu pé, só mais tarde, durante a noite, vou pegar um avião de volta para o Brasil. — Só vou poder te ver nos jornais, espero que não se meta em mais brigas. — eu posso ser bruta mas meu coração é fraco para monstros gigantes tanto para animais pequenos, me acostumei rápido com o Godzilla e não me incomodava mais passar meu tempo com ele, ao invés de um tutor, no meu ponto de vista, ele só não queria mais se sentir sozinho, e eu sei que isso podia estar bem longe da verdade mas ainda é o que prefiro acreditar.

— Emília? Eu sabia que você passava bastante tempo aqui, mas não esperava que você ficava até a noite. — a voz de Madison surgiu depois que as portas do elevador se abriram. — Já está se despedindo? — ela perguntou enquanto se aproximava.

— Não chegue muito perto, deixa que eu vou até você. — me levantando usando parede como apoio peguei um par de muletas que eu estava usando para me locomover. — Ele não gosta que outras pessoas se aproxime demais do vidro.

— Do vidro ou de você? — agora toda a minha atenção estava nela, do que essa louca tá falando. — Quer dizer… é estranho. — ela se apoiou em uma das mesas com o cotovelo.

— Você sabe que ele é maior que a maioria dos prédios não é? — falei devagar, tentando colocar juízo na cabeça da mulher de vinte anos na minha frente.

— Vai saber, essa é a minha teoria. — indo até a cafeteira ela pegou um dos copos descartáveis e encheu, soprando um líquido fumegante. — E já que você não acredita vamos fazer uma aposta: se ele for atrás de você no Brasil eu vou estar certa, mas se ele continuar aqui e ir dormir você pode esquecer tudo o que eu disse.

— O que eu ganho? — que seja mais alguns milhões de dólares.

— Sério que você está pensando em dinheiro agora? — virando o líquido fumegante na boca e bebendo tudo de uma vez ela jogou o copo no lixo. — Se eu estiver certeza você deve me convidar para o casamento, se eu estiver errada, hum… Eu não tenho dinheiro o suficiente para te dar, mas me fala o que você quer. — eu não gosto de tirar dinheiro dos pobres, então cobrar qualquer coisa estava fora de cogitação, e ver a expressão preocupada dela claramente arrependida de ter apostado.

— Nada, para mim só saber que estou certa é o suficiente, mas só estou fazendo isso porque você não é milionária. — nós rimos e a tensão finalmente diminuiu.

[...]

— BEM-VINDA! — vozes animadas ecoaram assim que eu abri a porta do alojamento, olhando para dentro pude ver meus colegas de trabalho rindo, uma faixa pendurada com meu nome, um bolo, salgados e doces estavam em cima da mesa, na televisão um vídeo tosco com fotos que tiramos juntos ao passar dos anos e música eletrônica.

— Minha nossa. — falei com uma voz incrédula enquanto sorria; Pedro se aproximou de mim, seus braços musculosos me envolvendo em um abraço de urso. — Por favor, cuidado.

— É tão bom ver você, e “minha nossa”, foi eu que cresci ou você que diminuiu?

Depois dessa piada não esperei muito do resto da noite, enquanto meus colegas se embriagavam com cachaça e Corote eu ficava no meu cantinho comendo o máximo possível, experimentando os lanches e devorando os brigadeiros, se eles quisessem acordar com dor de cabeça amanhã e vomitar até cair o problema não era meu, o importante é estar de barriga cheia.

[...]

Como eu cheguei no sábado tive o fim de semana para descansar e colocar o papo em dia com meus amigos enquanto eles limpavam o dormitório, e não, eu não movi uma palha.
Seria tão bom se continuasse assim.

Na segunda enquanto eu colocava a área do Behemmoth em dia já que o pobre coitado estava acordando por causa do incômodo que as trepadeira causavam nele, de marrom o pobre coitado estava verde por causa da vegetação; enquanto ajudava Pedro a cuidar de um dos cascos a sirene de emergência tocou tão incrivelmente alto que o enorme kaiju se assustou, quase derrubando derrubando nós dois por causa do susto.

— PESSOAL, ALERTA AZUL, VAMOS EMBORA DAQUI AGORA, DÊEM UM JEITO DE TIRAR O BEHEMMOTH DAQUI! — Michelle saiu de dentro da tenda de pesquisa, um olhar desesperado em seu rosto, toda a expressão demonstrando pânico.

— Quão perto ele está? — Pedro perguntou, claramente preocupado.

— Alguns… — um rígido alto, ainda mais alto que as sirenes interrompeu Michelle, mas não pudemos prestar atenção já que o nosso titã se levantou de seu lugar em que estava por três anos e começou a andar, querendo fugir da fúria do rei dos monstros. — … minutos, parece que só reconheceram a presença dele a pouco tempo e já mandaram militares virem para área.

— Certo, vamos sair daqui. PESSOAL, NÃO SIGAM O TITÃ, GODZILLA VAI ATRÁS DELE E CONFIEM EM MIM, VOCÊS NÃO QUEREM ESTAR NO MEIO.

Eu não acredito, até aqui?

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N/a: pessoal lembrem de curtir e comentar, além de saber o que vocês acham isso também me incentiva muito e se possível vejam minhas outras histórias.

Amor interespécies (Godzilla x Oc)Onde histórias criam vida. Descubra agora