O dia da fúria

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É engraçado dizer como a nossa infância girou, em algum momento de nossa vida, em torno de histórias contadas por pessoas que prezamos. Em como nossos olhos se chocaram com as absurdidades, e as coisas surreais ocorridas.

Por meio disso, Ellyson sempre acreditou que todos os humanos revestem seus rostos com uma máscara. Inevitavelmente, nada vai estar completamente exposto no início. Porém, a máscara é frágil, e como resultado, ela vai derreter alguma hora. Esse tornou-se o medo de Thomas, da máscara derreter e revelar outra pessoa, de não conseguir reconhecer quem é seu amigo e quem é seu inimigo. Suponho que esse é um dos medos mais frequentes e comuns de um adolescente, em meio a descoberta de amizades novas, no tempo de colegial.

Mas algo me fascina, dia e noite, e prende inteiramente a minha atenção. As personalidades carregam algo que nos torna diferentes. A pérola da nossa personalidade, o veneno da nossa personalidade. Sempre teremos algo a descobrir. Será que sempre teremos alguém disposto a descobrir?

- Alguns alunos ficam aqui quando a biblioteca lota - Nicholas fecha o caderno depois da última anotação - Eu fico aqui a maior parte do tempo, é a parte menos assustadora da escola

- Quer dizer que a escola é assustadora? - Ellyson pergunta, com um sorriso brincando em seus lábios.

- Sim, quer dizer... Ela dá uma pressão - Nicholas ri junto, dando de ombros.

Ellyson caminha até o parapeito do terraço, derrubando sua mochila no chão e se debruça para admirar a paisagem. Avista os minicarros passando pela estrada e as cabecinhas das pessoas atravessando a rua, passando pela calçada. A maioria delas com preocupações que Ellyson e Nicholas ainda não entendem muito bem, como não se atrasar para chegar ao trabalho.

- Cuidado, não se debruce muito - Nicholas diz, caminhando em direção a ela.

Ellyson se inclina ainda mais, ignorando o aviso de Nicholas. Tão ausente e apaixonada pela paisagem abaixo que não percebe o perigo. De repente, seu pé escorrega e sua alma desperta. Ela sente um choque grande percorrer seu corpo e a paralisar. Mas Nicholas reage rapidamente, agarrando o braço de Ellyson e puxando-a de volta.

- Você está bem? - Nicholas olha para ela, cheio de preocupação.

- Estou, obrigada - Ellyson assente, ainda um pouco abalada. Ela se afasta dos braços de Nicholas e se recompõe. Então diz, envergonhada - Eu deveria ter escutado.

- Tudo bem - diz Nicholas - Mas tenha mais cuidado da próxima vez.

Eles fitam os olhos um do outro, sem jogar nenhuma palavra no ar, e a garota Jones franze levemente a testa. Consegue reconhecer seus olhos de algum lugar. De alguma forma, as pupilas dele carrega algo tão familiar quanto seu livro favorito que foi dado de presente a ela pelo seu irmão, quando estava vivo. Mas ao passo que tenta lembrar, a memória foge dela, corre para longe como alguém amedrontado. Nicholas respira fundo, sentindo uma corrente sigilosa passando entre eles, mas não Ellyson, que se mostra mais focada em suas recordações incansáveis. Então, Ellyson se vira e caminha de volta para a mesa, onde eles terminaram seu trabalho.

- Eu lembro de você de algum lugar - Ellyson direciona seus olhos a ele - Não sei de onde.

- Lembra? - ele vira suavemente sua face, com um sorriso pouco disfarçando as sobrancelhas franzidas.

O som do sino escolar se mostra perturbador aos ouvidos de Ellyson, e sente o calor da irritabilidade queimando seu coração. Tapa os ouvidos com as mãos trêmulas, a dor induzindo-a a alucinar com sua cabeça explodindo, e uma visível careta se forma no seu rosto com o zumbido sem fim, controlando a absurda vontade de gritar em pleno pulmões.

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