Déjà Vu

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O céu antes escuro, com pingos e pingos fazendo companhia a solitária lua, começou a receber as cores do sol sem pressa. Tons de azul profundo se mesclavam com matizes rosados e alaranjados. Ao passo que o círculo quente se aproximava do horizonte, as cores se intensificavam, pintando as nuvens dispersas. Mas do que adiantava para ela se não podia ver e contemplar essa maravilhosa arte?

Se ela pudesse pelo menos tocá-la, chamaria-se abençoada. Toda aquela arte que se estendia para fora daquele lugar horrendo em que se encontrava se tornou muito mais atraente no momento em que não tinha.

A cela escura e imunda envolvia-a como uma corrente, prendendo qualquer ato que podia ser feito. O cheiro nauseante impregnava tudo o que era possível ali dentro, embrulhando o seu estômago vazio. Sentada no canto, ela permanecia imóvel, seus olhos movendo-se de um lado para o outro enquanto contava os gritos perturbadores que vinham do lado de fora. Seu único meio de vagar em meio à penumbra para descobrir a causa desse som era seu pensamento, mas preferiu não usá-lo. Considerava-se até mesmo sortuda por não ver ou ser a vítima dos martírios constantes dos traficantes de órgãos, porém sua vez era iminente.

Iminente, não inevitável.

Ela cerrou os punhos, sentindo sua mão direita queimar e um líquido denso escorrer entre seus dedos.

Seu próprio medo estava de emboscada, pronto para feri-la mais do que o vidro em sua mão. Porém, as horas em que se pegava questionando se merecia cada coisa que estava acontecendo com ela já haviam passado, abrindo uma oportunidade para planejar alguma fuga sagaz.

De repente, o ranger do piso quebrou o silêncio, anunciando a chegada de uma presença misteriosa. Um homem, sua forma oculta pelas sombras, entrou na sala.

Como um ritual diário, ele se aproximava dela, trazendo alimento. Apesar da miséria que a consumia sem piedade, ela precisava se manter viva. Pois, mesmo naquele cativeiro desolador, a esperança ainda ardia como uma chama tênue.

Quando ele arrastou o prato para dentro de sua cela, ela agiu. Com uma rapidez desesperada, agarrou o braço dele e o puxou contra as grades. O impacto fez o rosto dele bater no metal com um som oco de frustração.

- Sua... - ele começou a dizer, mas foi interrompido por um gorgolejo horrível quando o nocauteou. As palavras morreram em seus lábios, e ele caiu no chão gélido.

Com mãos trêmulas, ela pegou as chaves do corpo dele e abriu a cela. Quase soltando lágrimas de emoção, ela sente suas forças indo embora temporariamente, motivando-a a cair de joelhos no chão. Acreditar que havia conseguido depois de meses parecia impossível, mas sabia que ainda não podia declarar vitória. Porque sair da cela era o primeiro passo para escapar realmente da escuridão que se alojava naquele lugar.

Antes de sair, parou e olhou para o cadáver, uma expressão de fria determinação e ódio se formou em sua face.

- Tente falar agora - murmurou antes de desaparecer na escuridão.

Ellyson fica tensa quando um soco atinge sua bochecha, um estalo agudo ecoa em seus ouvidos junto com uma dor lancinante, deixando de lado a lembrança do pesadelo que havia tido. Sua visão explode em faíscas brancas ofuscantes, desorientando-a momentaneamente. Instintivamente, ela cambalea para trás, lutando para manter o equilíbrio, mas acaba caindo.

- De novo - diz a professora, sem se importar com os protestos dos outros alunos.

Ellyson se levanta e olha em volta, vendo um de seus colegas se gabando descaradamente por ter golpeado uma líder. Ela rapidamente desvia o olhar, encontrando consolo nos olhares tranquilizadores trocados com seus amigos, apesar do constrangimento que sente.

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⏰ Última atualização: Aug 03 ⏰

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