VII Ilé

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Jeon retornou para o apoio do deus que o observava de longe. Voltou com um sorriso que seria capaz de rasgar o próprio rosto.

— Parece que alguém ganhou um abraço.

— Sim — Tão tímido quando seria capaz de ter o rubor desenhado num quadro de anime — Acho que roubei um abraço, mas fui correspondido e isso, isso… — Respirou fundo tentando encontrar resposta — Me fez parecer você vendo a moça de flores no cabelo. Desculpe, mas não tem nada mais boiola para que eu possa comparar — Foi a vez dele rir da companhia e de si e que bom que seu humor foi entendido e acompanhado.

— Fico feliz por você, filho.

— Para onde nós vamos? Você vai comigo?

— Vamos acalmar a euforia — Verbalizou brandamente — Para não dar uma sobrecarga no nosso percurso e depois disso vamos para casa, para a sua casa.

Oxóssi queria enriquecer a experiência de ambos, mas no seu lar havia cores que o humano não conseguia ver e uma eterna nuance de esforço abusava sua íris, buscando desmistificar o que parecia enxergar. Sabores que a sua língua não era capaz de identificar. Texturas imperceptíveis. Tudo estava limitado à materialização. Entendia que os seres humanos estavam sempre entre quente e frio, doce e salgado, yes or no.

A balança pesava entre equilíbrio e equidade, mas esse é o processo…  No fundo, desejava que Jungkook pudesse ver todo o espectro avassalador com a sua intelectualidade emocional, se assim fosse, a jornada poderia se alongar, mas respeitou a humanidade do seu visitante.

— Mas já? — Como poderia mudar tão rapidamente de opinião, não era o humano vivendo a sua busca incessante de retorno para a casa?

— Já — O orixá o saudou conforme sua essência, com as suas mãos para trás gincou e emitiu o som de um pássaro, os arrepios na pele de Jungkook eram notáveis, ficou admirado, era lindo e poético, era um homem, era uma luz, era um caçador e um animal, como tantos seres preenchiam e desafiavam o próprio entendimento humano do que é “um” ser.

No seu mais puro imo entrelaçaram um abraço com muita energia, um abraço de cura para o humano, de gratidão para o mitológico, um beijo selou a testa humana. Sem sair do abraço, proferiu:

— Você cresceu muito. Estou orgulhoso de você. Vou te dar um presente por minha conta, filho, como prefere voltar para casa? Feche os olhos e verá todas as cenas possíveis, deixe que seu coração pulse pelo certo.

Poderia voltar ao mesmo quarto, da mesma casa. Poderia voltar em meio a celebração de Alea, tinha ainda a opção de ficar diante do mar onde pela primeira vez observou tão de perto aquele quadril que tirou o seu sossego, mas nada se comparou ao ver Yoongi debaixo de uma árvore olhando atônito para um local enfeitado com conchas, flores, dados e doce? Aquilo são doces? Só o som da risada de Jeon foi escutado. Ele conhecia aqueles formatos de docinhos, Yoongi sempre levava para o trabalho e no final era roubado pelo próprio sócio. Como eram fofinhos aqueles formatos, como eram deliciosos.

Foi no enlevo da cena que o orixá dialogou em mente com o seu protegido — Boa escolha, rapaz. Feche os olhos, você viajará acordado.

Jeon jurou que havia penas no corpo do mitológico, mas não poderia abrir os olhos, não quebraria a confiança daquela maneira. Foi em meio à atividade sensorial de tentar entender no tato do que se tratava seu guia que ele foi posto ao chão a alguns metros de Min. Procurou por Oxóssi, mas só avistou um pássaro de penugem escura pousado numa pedra à altura dos seus olhos, o reconheceu com euforia.

— Bem-vindo de volta, Jeon!

— Como eu consigo te ouvir? Hei, como eu consigo te responder?

— Não me faça rir nesta posição, jovem. Aproveite a sua fase, desejo que o Universo abençoe você.

AleaOnde histórias criam vida. Descubra agora