Alea

XVII Analogia do Afeto

Aprendizados sequenciais em evolução infindável.

Relações construídas em alicerces de experiências únicas. Deuses e humanos; divindades regentes do poder e humanidade escrevente da história. Enquanto a deidade habita a energia, os demais seres crescem habitantes da própria matéria. A magia intercedendo pelos homens, enquanto os terrenos acendem os deuses. Reciprocidade de relações e sentimentos aproximados.

Alea recebeu a mensagem de Eros sobre Jungkook revisitar a própria memória nas areias das âmbulas da deusa da justiça. A decisão pela recompensa da natureza virtuosa de Jeon a deixou preocupada. Um ser contemplado com essência exclusiva às deidades. Até que ponto ela teria interferido no alvedrio humano? O que havia longe dos oráculos alheios que a deixaria em arrelia?

— A justiça não escolhe seus favoráveis, Alea, ela cumpre seu compromisso com o imparcial, sou ferramenta disso. Não se preocupe, o Tempo traz o encaixe necessário.— Simbologia da balança no perfeito equilíbrio da mecânica estática.

Dike citava Tempo como um deus. Ferramenta do próprio Universo ensinando que todas as fases possuem seus ciclos, seus estágios. Até o Tempo precisa de tempo. A astronomia, desde a era em que os deuses tinham livre acesso aos olhos humanos, elucidava que tudo possui um passado. Um tempo que já aconteceu.

Por mais rápida que fosse a luz, calor e incidência do sol, astro indispensável à vida terrena, ela precisava em sua velocidade física de oito minutos até tocar o planeta azul. A magnitude mais veloz que se tem entendimento, precisava do tempo.

O mesmo intervalo que Alea necessitava para absorver o quanto de reflexo teriam as suas atitudes. A paciência da espera e a dádiva de Pandora a acompanhava.

Foi Dike que levou sua verdade até a deusa do Jogo da Vida. No tabuleiro continha peças soltas que beiravam cada vez mais a aproximação e o encaixe traria resultados que nenhum deus ligado a humanidade saberia decifrar. A imprecisão de um futuro próximo deixava Alea intrigada.

Os homens sempre foram frutos das próprias escolhas, há as páginas escritas e para todas elas há o livre arbítrio capaz de escolher um entre milhares de finais. A história que envolve Alea e Jimin, o humano que beneficiaria sua evolução não seria diferente, todos os deuses que abraçaram os seus dados cresceram na linha de cada diálogo, progrediram em seus espectros e não tinha mais ninguém que Alea pudesse recorrer a não ser o próprio Universo.

Se conectar com a energia superior não era difícil. Difícil mesmo era batizar suas luzes mais apagadas. Onde estaria o fracasso de um deus? Ocupa o mesmo espaço denso, ofuscado e pesado que nomeia a angústia humana?

— Sinto que a verdade se aproxima, acreditei que estaria pronta para lidar com as consequências das minhas atitudes com aquela criança.
— Sim, querida, como se sente?
— Podem os deuses sentir medo dos sentimentos dos homens?
— Podem sentir até o que não sabe o nome, Alea. Sua conexão com o nosso menino te levou ao seu passado. Todo conjunto de ações reflete a ilação de práticas que agora são memórias. Siga firme a sua essência. Só a fé derruba o medo.

Quando retornou à sua própria realidade, Alea não estava mais sozinha, a deusa da justiça trouxe a si Oxum e Ártemis. A analogia das emoções de sororidade em dois extremos de afeto.

A deusa das Águas lançou seu abraço mais valoroso, enlaçava sempre com olhos fechados e aquele sorriso estampado como se ninasse uma criança em estado de adormecimento. Homens e seres sagrados, gigantes e mínimas criaturas, qualquer ser caberia e aceitaria o colo maternal de Oxum.

Alea se rendeu, acalmava seu espectro, suas cores amenizavam suavemente, precisava daquela dose de energia confortável, morna, divina, materna.

Perdeu a noção de tempo quando se deixou guiar pelo som de um canto sussurrado que apesar de não conter palavras exatas, desvelava tudo que seus sentimentos precisavam absorver.