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Nada estava bem

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Nada estava bem.

Quando acordei, senti um desconforto no meu estômago que eu não conseguia me livrar. Eu tinha virado a noite em claro, enroscada nos lençóis caros de algodão do meu quarto de hotel.

Eu sabia que vir para a Fórmula 1 não seria fácil, mas, foi uma tolice minha pensar que eu já havia superado a parte difícil. Terminei a temporada passada me sentindo uma campeã. O ódio online diminuiu e eu fiquei em 4º lugar no Campeonato de Pilotos. A equipe ficou encantada com meu desempenho e presença nas redes sociais que eu e a equipe de marketing conseguimos alcançar, contra todas as probabilidades.

Agora, eu estava de volta à estaca zero. Na verdade, parecia a estaca zero. A equipe esperava resultados de mim, obviamente, mas, não era nada comparado ao que o mundo esperava.

O mundo não esperava nada de mim na temporada passada, mas, passei em todos os testes e, agora, eles esperavam que eu continuasse chegando a bons resultados. As capas de revistas, as sessões fotográficas e os artigos com jornalistas emocionados com a ideia de ter uma mulher se tornando campeã mundial de Fórmula 1 em alguns anos.

E se tudo tivesse sido só uma maré de sorte? E se eu passar o resto dos anos tentando ter uma temporada tão boa quanto a primeira, ao invés de lutar pelo Campeonato Mundial, como vim fazer?

O ar condicionado estava o mais forte e fresco possível, mas, meu corpo continuava suando. Meus pensamentos corriam e saltavam contra as paredes da minha mente. Um fluxo interminável de ansiedade caiu sobre mim, como uma chuva de meteoros, a qual eu não conseguia fugir.

Finalmente, abri os olhos. Fiquei frustrada, porque as oito horas de sono não serviram pra nada. Não me senti descansada. Eu senti como se estivesse prestes a explodir em chamas. Eu não suportava a ideia de perder meu lugar, não depois de tudo que minha família havia renunciado para que eu estivesse aqui.

Meu corpo estava flamejando. Levantei rápido da cama e abri uma das malas que tinha no chão do quarto. Peguei um conjunto de academia, com leggings pretas, um top esportivo preto e uma blusa vermelha larga, correndo para vestir tudo, como se minha vida dependesse disso. Depois de calçar os tênis, prendi meu cabelo em um rabo de cavalo e peguei meu telefone, fones de ouvido o cartão-chave do quarto antes de sair. 

Se eu não tivesse passado por algumas pessoas calmas enquanto caminhava pelo corredor, teria pensado que o prédio estava prestes a desabar. Minha visão estava turva, o chão desmoronava e as paredes gritavam o mesmo de sempre.

Você é uma fraude.

Eu corri.

Apertei o botão do elevador mas, quando entrei, as paredes pareciam estar caindo sobre mim quando a porta estava prestes a fechar. Engasguei e fui pelas escadas. Não importava se eu estivesse no 12º andar, eu tinha que sair. Os fones de ouvido com cancelamento de ruído não conseguiam abafar o que estava acontecendo dentro de mim. Precisei correr até que as vozes parassem, até que as paredes parassem de cair sobre mim. Os rostos se viravam para me olhar enquanto eu corria pelo saguão, mas, não olhei pra eles. Eles eram um borrão, um novo tipo de parede que falava ainda mais alto que as de concreto.

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⏰ Última atualização: Apr 23 ⏰

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