Missy sabia que o que fazia não era certo. Mas era o jeito que ela encontrou para se defender.
Não que uma coisa justificasse a outra no fim. Isso não desvalidava o fato de machucar as pessoas. Isso não desvalidava a crueldade das suas atitudes em si.
Já faziam alguns anos em que ela havia aprendido como controlar os homens, pelo menos, para que eles fizessem o que ela queria naquele instante. Nenhum a rejeitara.
Quando ela queria um momento de prazer em meio a toda dor que sentia, ela apenas precisava achar um rapaz que fosse o mínimo interessante para satisfazer seus desejos. Ela gostava de se sentir adorada, de se sentir desejada. Queria que um homem, não só um, mas vários, olhassem para ela e a quisessem.
Ela sabia que não era um olhar duradouro. Que eles não a desejavam mais do que apenas por um momento sustentado pelo egoísmo. Eles apenas queriam usá-la. No entanto, ela se contentava com a desculpa de que ela também queria isso.
Mesmo sabendo o tanto que seu marido a amava. O quanto ele fazia para cuidar dela. O máximo esforço que dedicava para agradá-la, ele nunca era o suficiente.
Ela precisava de mais atenção. Precisava de mais.
Nada nunca era o suficiente.
Para se proteger, Missy aprendeu que a internet seria sua maior aliada. Se proteger porque, assim, não seria obrigada a se submeter ao toque físico. Ali, no online, ela se manteria apenas no mundo da imaginação e não seria obrigada a confrontar a realidade de seus atos egoístas.
A internet era fácil de suportar. Fácil para mentir.
Entretanto, ela aprendeu que isso agradava os homens. Nesse caminho ela observou que a maioria dos homens adoravam o fato de ela só querer usá-los. Que eles amavam uma mulher que não tentava agradá-los, mas sim tentava se agradar. Isso por si só, os agradava.
Não havia nada mais atraente do que uma mulher que sabe o que quer, que não faz joguinhos e nem rodeios para isso. Se ela quisesse se masturbar olhando para o pau dele, e não tivesse medo de demonstrar isso, isso acabaria o fascinando.
Missy sabia que os homens jamais admitiriam isso para os amigos, para a família ou para eles mesmos, mas o desejo de controlar o incontrolável era inerente a eles.
A maneira que ela agia não era algo saudável para ela mesma, afinal, qual mulher não desejava ser respeitada e amada como ela é? Por seu interior e não devido a seus atributos físicos? Todas queriam. Poucas conseguiam.
Missy já havia se convencido de que não viveria esse tipo de romance. O romance em que o rapaz que ela desejava a olharia com uma grande paixão, por amá-la por ser uma garota indefesa e delicada. Não. Isso não existia. Era um absurdo.
Ela já havia passado por quantidades suficientes de experiências para saber que nenhum homem era assim.
Tudo no fim se tratava do quão interessante era o jogo. O jogo que resultaria em sexo.
Homens gostam disso. Gostam do que os hipnotizam. Do que os mantém presos tentando decifrar o que precisam ter para dominá-la. E isso não tinha nada a ver com se fazer de difícil. De resguardar seu próprio corpo. Com ser pura. A grande verdade era que ser desejável e ser intangível ao mesmo tempo (algo que a internet tornava mais fácil) os deixava loucos.
Eles gostavam do quanto uma garota poderia mantê-los hipnotizados. Não agradá-los, mas hipnotizá-los.
Eles gostavam de entrar em transe quando estavam se envolvendo, assim como gostavam de se perderem em um videogame por horas pelo grau de dificuldade. É como um desafio pessoal para eles. Uma conquista de um vencedor.
Mesmo que isso a tornasse uma pessoa horrível, leviana e extremamente previsível, ela já havia aceitado que essa era a única maneira para ter o que queria.
Atenção.
Era como uma espécie de condição para ela. Se tivesse atenção, então se provava boa o suficiente para ser amável.
A competição era algo que ela perseguia veementemente também. Ela queria ser a escolhida. Mesmo que aceitasse ser uma amante, ser a outra, ela aceitaria se isso significasse ser a mais desejada. Para ela, isso era algo que a deixava cada vez mais poderosa. Ser o objeto de maior desejo de alguém, capaz de fazê-lo se corromper. De fazê-lo quebrar as regras por ela.
Obviamente, Missy não enxergava o quão enganada estava. O quanto suas atitudes estavam relacionadas a não se valorizar. Ela se prestava a um papel indigno, para tentar ser digna, e isso não fazia o menor sentido.
Mas ela sabia que no fim da tarde, nos momentos de silêncio em que estava sozinha, ou melhor, em que tinha somente a própria companhia, ela não se suportava. Se sentia quebrada. Incompleta. Inútil. Nojenta. Olhava no espelho e via uma garota repulsiva, digna de pena somente. E era com isso que ela lutava. Era isso que ela não queria que as pessoas enxergassem, o quanto ela era podre.
Tudo era ilusão, exceto este fato: sua feiura a dominava tanto pelo lado de fora quanto pelo lado de dentro e não havia nada que pudesse esconder isso dos outros e dela mesma.
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A Trágica Verdade Sobre Ela
AléatoirePalavras estranhas de uma solitária. *Aviso de gatilhos*