Desabafo

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Será que algum dia da minha vida vou conseguir fazer alguma diferença na vida das pessoas?

Em todos os lugares que eu chego parece que não faço diferença alguma. Quando vou partir ninguém pede para que eu fique, porque na realidade, eu não tenho relevância o suficiente para alguém fazer questão de que eu fique.

Eu estou cansada de ser um nada. Estou cansada de acordar no meio da noite sentindo que durante os meus 24 anos eu simplesmente não fiz diferença para ninguém.

Não tenho amigos que se importem comigo de verdade. E aqueles que ainda lembro diariamente nunca me mandam uma mensagem sequer. Acredito que eu seja uma pessoa horrível. Completamente descartável e substituível. Se algum dia fiz algum bem para as pessoas que passaram pela minha vida, esse bem não foi o suficiente para as pessoas me quererem por perto.

Já faz 3 anos que estou nessa solidão. Faz 3 anos que decidi cortar as amizades que só me procuravam quando precisavam de mim para algum favor. Faz 3 anos que vivo na pura solidão.

Na escola, eu sempre fui solitária, nunca consegui desenvolver uma amizade, desde o maternal, porque eu sempre mentia sobre a minha vida. Lembro-me das minhas amigas me contando o que faziam durante as férias: iam para a casa dos avós durante as férias; iam para a casa da roça dos pais; brincavam na rua; viajavam. No entanto, nunca tive histórias para contar, por isso as inventava, e na maioria das vezes, as meninas percebiam que era mentira, e eu me passava por ridícula.

Nunca consegui desenvolver uma amizade de verdade, ou elas me excluíam do grupo, ou meus pais não deixavam minha amizade continuar por razões que eles acreditavam ser para o meu bem.Às vezes eles tinham razão, outras vezes não.

E depois que me tornei adulta, nada mudou.

Acho que a minha personalidade é um tanto difícil de suportar. Talvez eu seja muito arrogante, grosseira, de alguma maneira insuportável. Mas as pessoas também são e eu sempre tentei suportá-las até o último momento que pude.

Vi que aguentei muita coisa, por medo de ficar sozinha, mas quando perdi esse medo e decidi me afastar das pessoas que não eram meus amigos de verdade, vi que não me sobrou nada.

Outras pessoas perdi porque cometi alguns erros, e não tive perdão, embora eu tenha tentado me redimir.

Com isso, concluo que sou uma pessoa completamente descartável. Um lixo.

Já ouvi pais de amigas minhas dizendo que elas deveriam se afastar de mim porque eu não as fazia prosperar de algum modo. "Você precisa procurar uma amiga que te edifique", foi o que Ester disse para a minha amiga Amanda, que era da minha igreja. Eu não era uma cristã muito fervorosa, infelizmente. Acho que tinha tantos outros problemas circundando minha vida, que não tinha forças suficiente para conseguir me dedicar a isso. Como Testemunha de Jeová fui um completo fracasso, e onde quer que você vá, os fracassados são jogados de canto. De certa forma, sempre fui humilhada em qualquer meio de convívio com o ser humano. Depois que minha amiga Amanda parou de conviver comigo, ela se desenvolveu, cresceu, mudou completamente, e obviamente todos, inclusive eu, chegaram a conclusão que isso só foi possível porque ela cortou o contato comigo. Eu era a má influência. O atraso de vida espiritual dela.

Ela se afastou de mim. Todos se afastaram de mim. Quando decidi de vez pular fora, não foi nenhuma surpresa. Desde então venho procurando pela minha crença.

Na época que decidi sair de casa, meus pais também não fizeram questão para que eu ficasse. Foi uma briga, e eles deixaram eu ir. "Deixa ela quebrar a cara" era o que eu ouvia. Parecia que eles queriam isso o tempo todo, como um sinal de vingança por eu não fazer exatamente o que eles queriam. Como se eu não tivesse minhas próprias dores, meus próprios desejos, minhas própria vida.

Acho que os meus pais triunfaram no que eles queriam.

Ao olhar tudo isso, eu só consigo me questionar: por que estou aqui?

Meus dias são solitários. Na tentativa desesperada de os deixar menos dolorosos, passei a jogar jogos online e me viciei neles ao descobrir que lá eu conseguia viver uma vida que não era minha. Me viciei ao descobrir que eu conseguia conversar com as pessoas, mesmo que certa forma, ainda incompleta, eu ainda conseguia manter uma amizade superficial de alguma maneira.

Um ano inteiro trancada dentro de casa, as poucas vezes que tentei sair, voltei com mais certezas de que dentro de casa era menos doloroso, mais seguro. Dentro de casa não vejo os olhares julgadores. Dentro de casa, não me culpo por não manter o alto padrão estético da sociedade. Dentro de casa consigo ser eu mesma. Dentro de casa eu mando, sendo eu mesma, sem medo de nada.

Desde a BMS não consigo mais conviver e trabalhar em grupo presencialmente. Sinto todos os sintomas angustiantes possíveis quando estou num local de trabalho. Já faz anos que não consigo me manter em um emprego. E sou sustentada pelo Rafael, meu companheiro, que, para tristeza dele, me suporta.

Ele diz me amar. Acredito nele. No entanto, não sei se o amo. Apenas sei que sou grata por tudo o que ele faz por mim. Nada é perfeito, com ele não vivo a vida que queria pra mim. Na verdade, ele é uma pessoa que não gosta muito de aproveitar a vida, ou porque já aproveitou bastante quando era mais jovem (nós temos 6 anos de diferença, ou seja, dos 18 aos 25, ele aproveitou bastante), ou ele se encontra num estado semelhante ao meu, sem muito desejo de viver.

Só sei que ele não é a pessoa que me desperta a vontade de viver, ele é a pessoa que me mantém viva. Sem ele, provavelmente já teria me suicidado, ou pior, seria uma drogada sem teto.

Por falar em drogada, estou quase virando uma. Ando usando cigarro ou maconha para acalmar minhas crises, visto que não tenho dinheiro para fazer um tratamento para cuidar dos meus inúmeros problemas mentais. Não consigo e não vou para o SUS atrás de tratamento. Eu mal consigo ir para a esquina, mal consigo socializar com as pessoas, que dirá ir para posto de saúde esperar atendimento que, vamos combinar, não é lá tudo isso. É de graça, é sim, mas ainda assim, sei que um tratamento de merda não será efetivo.

Então concluo que a minha vida permanecerá assim até o fim dela, solitária, triste e sem esperanças.

Não vou conseguir fazer diferença alguma na vida de ninguém.

A Trágica Verdade Sobre ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora