DUAS FACES - VALU

Capítulo 08 - Existência

.Luiza

O dia já amanheceu e com ele meus olhos seguiam abertos. Eu não parava de processar tudo o que tinha acontecido. Conversei um pouco com a Valentina e ela estava bem abalada. Ela questionou o pai, e assim como o meu ele não disse nada do ocorrido. Ela acabou precisando tomar um remédio pra dormir e foi melhor assim, não ficou acordada a noite toda como eu.

Eu não sei o que existe entre esses dois. Mas eles que se resolvam, porque eu não vou abrir mão da Valentina porque os dois não se suportam. Seja lá o que tenha acontecido, eu e a Valentina não temos nada a ver com isso.

A Valentina é o meu encontro. Todos os dias eu a encontro e a amo como a primeira vez. Todos os dias eu me encontro nos nossos encontros, que nunca perdem a graça e a surpresa diante do meu ver. Tudo com ela é um evento, um momento que a gente transforma a mente em câmera fotográfica, só pra registrar cada segundo do que quer que seja. E é tão bonito lhe encontrar! É tão bonito olhar pra ela todos os dias com os mesmos olhos que olhei quase um ano atrás, e venho olhando assim pra ela desde então. É tão bonito saber que esse amor nunca vai ter naturalidade, ou ao menos deixar de crescer... na verdade, acredito que no final das contas, o aumento do sentimento é a única mudança que esse amor inteiro está sujeito a enfrentar. É um presente tão raro amar a Valentina! Que presente é viver com ela, que presente é lhe acompanhar e fazer do teu trilhar a rota do meu destino final. Tudo com ela é grandioso de uma forma tão especial, que faz com que eu jamais questione nada que nos envolva, tudo vira certeza. A vida age de forma extremamente calculista... nada é por acaso. O universo não dá ponto sem nó diante de nenhuma existência... tudo, em toda hipótese, sempre envolverá propósito. Eu sinto que por aqui, a vida só coloca em meu caminho o que eu preciso encontrar. Mesmo que eu não entenda, mesmo que eu não espere, mesmo que eu nem perceba que determinada coisa passará a fazer parte da minha história, a vida traz. E quando eu mais estava fixada em buscar explicações lógicas para cada novo passo meu, a vida me trouxe a Valentina. Eu a encontrei do outro lado do meu olhar. Não tem explicação. É amor demais, sorte demais, propósito demais... tudo de bonito com ela, é em alta proporção.

Ela sempre foi uma pessoa sensível, delicada e COMPLEXA. Tentar encaixar a Valentina dentro do conhecimento humano é como querer enfiar o oceano inteiro num copo d'água só pra preencher... não vai adiantar! Não importa a tentativa, a intenção, não importa o quão possível pareça ser. Não adianta brigar com imensidão. Com a Valentina eu entendi que quanto mais inexplicável, mais bonito será... por isso, desejo do fundo do meu coração que, diante dela, eu nunca consiga me explicar. Afinal, o que ela precisa saber, ela já entende mais do que ninguém. Então não importa o que me peçam, ou o que querem que eu faça. Não importa quantas coisas apareçam no meu caminho, a Valentina é a minha certeza e eu jamais vou abrir mão dela e de tudo o que ainda vamos vivenciar juntas.

Tomo um banho rápido e passo uma maquiagem nessa minha cara derrotada. Desço pra tomar café da manhã e o clima era de enterro, meu pai estava com o rosto inchado. Minha mãe apenas mexia o café sem tomá-lo. E eu fingia que não estava ali. Essa é a primeira vez em 22 anos que vejo esse clima horrível na nossa família. Ontem à noite eu ouvi meus pais brigarem. Minha mãe exigia uma explicação, mas nem para ela meu pai quis contar.

— Licença... — Digo me levantando, tá insuportável ficar aqui.

— Aonde você vai? — Meu pai pergunta encarando as uvas na mesa. — Não comeu nada.

— Eu vou ver como a Valentina está. — Respondo olhando pra ele que me direciona o olhar.

— Eu quero você longe dos Albuquerque. — Diz sério.

— A Valentina é minha namorada, papai. Você gostando do pai dela ou não! — Rebato.

— Luiza, por favor... faz o que eu estou pedindo e fica longe deles. Não torna as coisas mais difíceis do que já são. — Ele volta a encarar a uva.