Na segunda-feira, toda a confiança evaporou no minuto em que entrei na sala de aula. Apertei o fichário contra o corpo, os olhares de todo mundo na minha direção não me ajudaram em nada... Por sorte, a tortura não duraria por muito tempo, antes do intervalo para o recreio, estaria livre.
Entretanto, mesmo tentando me confortar com esse pensamento, não consegui prestar atenção nas aulas. Meu cérebro criava mil teorias, nenhuma boa, e a ansiedade já era aparente; meus dedos mexiam sem parar nas pulseiras de miçangas da amizade. Quando o sinal tocou, anunciando a aula de geografia, eu senti que meus pulmões sofreriam uma asfixia.― Está nervosa, gatinha? ― Poncho sussurrou chegando perto da minha carteira.
― O que você acha, gênio? Adoro apresentações tanto quanto uma dor de dente. ― Neguei em um aceno.
― Às vezes, você é engraçada. ― Ele riu. ― Mas talvez eu possa acabar com essa aflição toda!
― Não vejo como, a não ser que tenha uma máquina do tempo ― declarei meio sarcástica.
― Na verdade, há algo muito melhor... Um beijinho aqui ― Alfonso apontou para a sua boca. ―, possui a mágica relaxante que você precisa. ― Então, fechou os olhos, fazendo um beicinho.
― Ai, Deus, para já com essa palhaçada. ― Fitei desesperada a sala inteira.
― Poxa... ― Poncho me encarou, seus olhos verdes continham uma certa decepção. ― Só queria ajudar.
Ele voltou para o seu lugar cabisbaixo, eu até fiquei um pouco mal pela situação, porém sendo sincera, sua intenção não contribuiu para isso, pelo contrário. Logo depois, a professora entrou na sala e todos permaneceram em silêncio aguardando a vez para a apresentação.
Enquanto outros grupos foram sendo chamados, eu aproveitei para ler o mini roteiro, buscando focar no que tinha que falar na hora.― Tudo bem? ― Maitê perguntou baixinho.
― Não...
― Nós somos os próximos e depois disso acabou a tortura. ― Ela sorriu para me encorajar.
― Por hoje, né ― murmurei.
Em seguida, a turma começou a bater palma para o grupo que apresentava, indicando que havia chegado ao fim o sofrimento deles. Então, nós nos levantamos para arrumar a mesa da professora, iríamos fazer como uma bancada de jornal e, assim que nos acomodamos nas cadeiras, inspirei o ar para me acalmar. As palavras do Ucker retornaram na minha mente "foca em um ponto da sala".― Boa noite, no jornal de hoje vamos falar sobre o continente norte-americano ― comentei sem encarar ninguém, em um fôlego só. ― Começando pelo Canadá...
***
― Não acredito, não acredito! ― exclamei eufórica, depois que a professora nos liberou alguns minutos antes do sinal bater para o intervalo. ― Eu consegui. ― Passei a mão na testa.
― É, meus parabéns ― o gatão dos olhos verdes resmungou. ― Eu preciso tomar um ar. ― Ele saiu na direção do refeitório.
― O que deu nele? ― Júlia perguntou.
― Minha culpa, tá chateado comigo ― respondi suspirando.
― Logo isso passa, amiga! ― Ela pousou as mãos no meu ombro. ― Agora, eu quero saber que milagre foi esse? Você nem gaguejou.
Seu primo, pensei imediatamente, a dica do Ucker foi maravilhosa.
― Um amigo me disse algo muito inspirador.
― Amigo? ― Júlia levantou uma sobrancelha, sugestiva. ― Quem é?― Engoli em seco, acho que era melhor não comentar nada para ela.
― De outra turma... ― Tinha uma certa verdade. ― Você não o conhece. ― Tentei sorrir sem mostrar desconforto. ― E falando nisso, preciso agradecê-lo. Vejo vocês depois! ― Acenei à medida que me afastava delas.
Espiei a ruga na testa de Maitê, provavelmente ela desconfiou, entretanto, o sinal bateu e as pessoas começaram a se amontoar no pátio, o que foi ótimo. Assim, não corria o risco delas me seguirem, por garantia eu dei algumas voltas aleatórias antes de ir até a sala do Christopher.
Estava ansiosa, não de uma maneira ruim, mas porque, pela primeira vez, a apresentação não foi horrível, tudo graças a ele! Minhas mãos suaram quando cheguei na porta da sala do terceirão, ignorei alguns alunos que me olhavam esquisito, questionando-me se seria muito bizarro abraçá-lo.― Então, a gente se vê na sua casa? ― Talita encostou seu corpo no dele, para depois aproximar a boca.
Petrificada, arregalei os olhos, tinha que ser a garota mais assanhada da turma? Seu estilo era bastante provocativo: calça de lycra apertada, dois piercings - um na língua e outro no umbigo -, brincos de argola grandes, além de sempre usar a blusa do colégio mostrando a barriga.
Uma sensação estranha se apoderou de mim, um incômodo que não conseguia explicar, a raiva repentina crescia cada vez mais à medida que eu fitava a cena. Irritada, saí dali à procura das minhas amigas.― Alguém viu o Poncho? ― Observei as duas sentadas no banco no pátio.
― O que aconteceu, Dul? ― Mai perguntou ao me encarar.
― Acho que ele foi lá para trás, onde tem as árvores. ― Júlia apontou com a cabeça.
― Vou seguir o seu conselho. ― Encarei a morena. ― Como foi que você disse mesmo? ― Apertei os olhos, pensativa. ― Ah é, um experimento científico.
― O quê!? ― Ela quase cuspiu o salgado que mastigava. ― Por que você está agindo assim diferente, toda estranha?
Levantei os ombros, não sabia a resposta também, e sem falar uma palavra eu me afastei, Júlia me fitou com a testa franzida.― Não estou entendendo nada... Não é melhor a gente ir atrás dela?― Consegui escutar enquanto caminhava para o local das árvores.
― Vamos deixá-la fazer algo inconsequente uma vez ― Maitê disse por último.
Será que Christopher Uckermann me veria apenas como uma pirralha depois de hoje?
― Ei, Poncho ― chamei pelo garoto quando o avistei sentado no tronco de uma árvore. ― Eu sinto muito pelo modo que te tratei antes. ― Ele se levantou, vindo ao meu encontro. ― Sei que você só queria me ajudar, mas naquele momento não foi uma boa ideia.
Alfonso balançou a cabeça concordando e um sorriso divertido se desenhou nos lábios dele.― E quando você acha que é a hora? ― Ele segurou a minha mão.
Meu rosto corou no mesmo segundo ao pensar no que isso significava, olhei para os lados, observando as poucas pessoas que haviam no local. Nenhuma delas pareciam interessadas na nossa conversa. Ao responder agora, decidi encarar a situação como um experimento científico, não podia ser tão ruim assim, era apenas um beijo...---
Eu estava tão feliz aqui, Dulce conseguiu fazer a apresentação <3 Ai veio uma bomba, Talita é a garota misteriosa... E esse beijo vai rolar? 👀
Até o próximo capítulos, amores ; *
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No Pares
Fanfiction|+14|Aos quatorze anos Dulce cursava a antiga oitava série, sempre fora a aluna exemplar, todos acreditavam que a garota tinha um grande potencial para seguir carreira de médica, advogada ou engenharia, entretanto seu maior sonho era ser modelo. Não...