― Ei, ei, alguém pode me explicar o que houve aqui? ― Um professor chegou para apartar os dois.
― Esse babaca tá tirando fotos das garotas no banheiro feminino ― Christopher exclamou alterado.
― Pelo visto ficou mordido, alguma dessas era sua namoradinha? ― Otávio zombou. ― Não se preocupe que mando as imagens exclusivamente para você.
Ucker travou o maxilar e suas íris castanhas encontraram as minhas no meio da multidão, sua expressão mostrava uma fúria desconhecida por mim. Ele respirou fundo ao me encarar, não consegui desviar minha atenção como sempre fazia, eu queria entender o porquê dele agir assim.
― Qual o nome da gatinha? ― o encrenqueiro mencionou com um sorriso debochado. ― Achei que o nerd não gostava de garotas.
― Ah, vai a merda! ― Ele voltou a fitar Otávio.
Então, isso tudo era por causa de uma garota? De repente me senti triste, nunca que um aluno do terceiro ano se interessaria por uma pirralha da oitava série.
― Quem é a namorada do seu primo? ― Maitê sussurrou para a Júlia.
― Sei lá, mas não gostei de saber disso. ― Ela cruzou os braços. ― Se for alguma assanhada da sala dele, coitado, a tia vai ficar sabendo já, já.
Minha amiga sempre foi muito apegada ao Christopher, desde a infância eles compartilhavam uma conexão, por não ter irmãos ela falava que o garoto ocupava esse lugar. A Mai dizia que isso só podia ser algum tipo de paixão secreta, mas eu entendia a Júlia, como filha única, também desejei um irmão mais velho quando criança.― Os dois para a diretoria ― O professor apontou o corredor. ―, brigar nunca é a solução e você, pretendia fazer o que com essas fotos? É errado invadir a privacidade das pessoas assim, ainda mais de meninas.
― Postar na internet, onde mais ― Otávio Augusto respondeu como se fosse óbvio. ― E a câmera é minha, o senhor não pode me proibir de portar meus objetos pessoais.
― Pois acho que o colégio terá que rever algumas regras. ― O homem balançou a cabeça. ― Agora, vamos que esse assunto não terminou.
Ele levou os dois garotos para a direção enquanto algumas pessoas curiosas os acompanhavam pelo caminho.― Ai, será que o Ucker tá muito ferrado? ― Júlia perguntou preocupada. ― Ele nunca foi para a diretoria.
― Não amiga, no máximo ele pega uma suspensão. ― Tentei acalmá-la, meu argumento possuía fundamento, Christopher era um bom aluno.
― Tomara! O coitado já tá cheio de pressão por causa do vestibular, só que faltava ser expulso por causa de uma garota no último ano do colégio.
― Quem deveria ser expulso é esse Otávio ― Maitê resmungou.
― Bem, nós sabemos que não vai rolar, ele é protegido por causa da tia coordenadora pedagógica ― retruquei lembrando do outro episódio envolvendo o encrenqueiro.
― É mesmo, se ele não foi expulso por dormir com uma professora, quem dirá agora ― a Mai comentou em uma negação.
Nós concordamos, o garoto era fogo na roupa, se achava a última bolacha do pacote só porque já tinha dezoito anos e vinha dirigindo para o colégio, muito azar o nosso que precisávamos aguentá-lo.― Caramba, que primeiro dia, hein ― Alfonso murmurou, eu havia esquecido de sua presença no nosso grupinho. ― É sempre assim no resto do ano? ― ele pronunciou irônico.
Minhas duas amigas caíram na gargalhada, como se fosse a piada mais engraçada do mundo, eu apenas esbocei um sorriso contido. Em minha mente introvertida, a cena parecia extravagante, talvez até um pouco exagerada. Elas estavam flertando com ele? Refleti, buscando entender esse território adolescente inexplorado por mim.
Júlia mexeu no cabelo enquanto olhava o garoto totalmente concentrada, a Mai perguntou o que ele gostava de fazer no tempo livre encostando sua mão no ombro do menino. Será que nosso corpo age sem pensar? É de uma forma natural ou proposital? Cogitei enrugando a testa, logo o sinal tocou e nos encaminhamos para a sala de aula, porém anotei no caderno minha dúvida para pesquisar outra hora. Eu gostava de saber sobre diversos assuntos, mas o principal era como um adolescente deveria ser, já que eu não curtia as bebedeiras das festas, a falação sobre quantos garotos beijou ou o que se postava no fotolog.
Maitê dizia que eu tinha idade de jovem, mas a alma era velha, suspeito que seus argumentos possuam um fundo de verdade, pois minhas atividades preferidas se baseavam em ler, assistir filmes, escutar música e, se desse, ler mais um pouco. Fazer coisas inconsequentes estava longe dos meus hábitos, aliás, isso não existia para mim, eu sempre fui muito racional, nada na emoção. Entretanto, quase não me reconhecia agora, por não conseguir prestar atenção na última aula do dia, por que aquele infeliz foi se meter em uma briga?
Tentei focar no professor de inglês, sem sucesso, já que fiquei imaginando qual era a garota misteriosa por quem Christopher saiu no soco, uma de muita sorte, conclui suspirando. Mordendo a tampa da caneta, impaciente, desejei tanto saber o nome ou qualquer coisa dela.― Oh Heck! I forgot the tasks in the teacher's room. Could someone pick for me? (Caramba! Esqueci as atividades na sala dos professores. Alguém pode pegar para mim?)
Minha mão levantou no instante seguinte, o que eu estava fazendo!? Eu me repreendi.― Thanks, Dulce ― ele agradeceu para logo depois me informar onde as folhas estavam no seu armário.
Quando me levantei da carteira, recebi um olhar surpreso da Mai e em resposta balancei a cabeça, também não me entendi, eu havia pirado! Saí da sala caminhando para a secretaria, pensando que poderia ser ótimo um pouco de ar fresco...― Minha nossa, olha essa sobrancelha arrebentada, meu filho. ― Assim que botei os pés no local, dona Alexandra soltava os cachorros para cima de Christopher.
― Também não é pra tanto, foi só um corte.
― Onde já se viu, brigar? Você nunca foi disso, o que aconteceu?
Parada no batente da porta, eu fiquei entre entrar ou permanecer ali para escutar o resto da história.― O Otávio tava mostrando as fotos que tirou das garotas no banheiro feminino, tinha uma da... ― Ele parou a narração ao me ver, eu me assustei e ele também. ― Dulce, oi.
― Oi ― respondi em um murmúrio, apressando o passo até o balcão.
― De quem, Ucker? ― Alexandra perguntou outra vez.
― Hã?
― A diretora vai receber a senhora agora ― a secretária disse ao fechar a porta da direção.
― Em casa a gente termina essa conversa. ― A voz da mãe dele soou firme.
― A chave da sala dos professores, por favor ― pedi para a Lúcia assim que ela se dirigiu para a sua cadeira.
― Só não esquece de devolver, tá bom? ― Ela me entregou e eu me virei, sentindo a mão suar.
Não olha para ele, não olha pra ele, repeti várias vezes, mas então parei de encarar o chão, contrariando minha razão, Christopher me fitava de uma forma intrigante, parecia que acabava de descobrir a pólvora, meio fascinado.― Se serve de consolo, todo mundo queria socar a cara do Otávio Augusto, eu gostei! ― pronunciei tomada de uma coragem inesperada, e logo me mandei antes que a consciência falasse mais alto.
Quando passei pela porta, meus olhos observaram o garoto pela última vez, um sorrisinho desenhava em seus lábios, de uma maneira tipo vitoriosa. Enquanto meus pés se afastavam, percorrendo o corredor, eu me questionei: por que curti tanto ver isso? Ao limpar uma mão suada na calça do uniforme, eu tentei acalmar meus ânimos.― É, pelo visto pirei mesmo ― murmurei. ― Volta pra realidade, Dulce Maria!
Engolindo a saliva foquei no que precisava fazer no momento, garotos do terceiro ano não se interessam por pirralhas... Você já tem outros problemas para se preocupar, entendeu? Assenti mentalmente, esperando a razão retornar para o meu corpo.---
E o Ucker brigou por causa de uma garota 👀 Dulce tá louca para saber quem é kkk isso ainda vai render, só não sei se ela vai gostar muito... pelo menos não no começo.
Vejo vocês no próximo capítulo ; *
VOCÊ ESTÁ LENDO
No Pares
Fanfic|+14|Aos quatorze anos Dulce cursava a antiga oitava série, sempre fora a aluna exemplar, todos acreditavam que a garota tinha um grande potencial para seguir carreira de médica, advogada ou engenharia, entretanto seu maior sonho era ser modelo. Não...