10 anos depois
― Ai, merda! ― Levantei em um pulo, após olhar o visor do celular. ― Maldita hora que ativei a função soneca...
Enquanto abria o armário para pegar uma roupa, o aparelho começou a tocar insistentemente. Deslizei os dedos na tela e atendi.
― Espero não ter te acordado ― disse Mai, justificando a ligação.
― Foi quase, acabei de levantar. Tenho que ir para a Agência; vamos fazer uma sessão de fotos mais tarde.
O silêncio do outro lado da linha me deixou preocupada, a morena parecia incerta em continuar o assunto.― Aconteceu alguma coisa? ― perguntei, fechando a porta do armário para colocar o telefone entre o ombro e a orelha.
Esperei a sua resposta, caminhando até o espelho, para segurar uma calça social mais a blusa de gola alta contra o corpo, tentando decidir se ficariam boas juntas.― Queria saber se posso marcar o batizado da sua afilhada para o outro final de semana? ― ela declarou sem rodeios.
Impactada pela notícia, precisei sentar na beirada da cama, as lembranças de Vale da Luz retornaram à minha mente, misturando os momentos de alegria e tristeza. Olhei para o meu reflexo: os cabelos vermelhos despenteados, o rímel borrado embaixo da linha d'água, além do moletom que usava... aquele que ganhei dele.
Um pequeno filme passou diante do meu pensamento, voltei no tempo, recordando o que havia acontecido depois da formatura. O ensino médio foi o período mais difícil que enfrentei, a descoberta de que meu pai tinha outra família levou a brigas constantes entre meus pais, porém mesmo assim minha mãe não se separou dele. Eu perdi o rumo total, não conseguia mais me concentrar nas aulas, quase reprovei o primeiro e o segundo ano. No terceirão, após muitas discussões, veio a separação, então decidi focar todas as minhas energias em alcançar a aprovação no vestibular de Administração, que apesar das dificuldades, conquistei meu objetivo. Minha mãe resolveu se mudar para a Capital em busca de um recomeço e Christopher a essa altura estava no último ano de arquitetura. Mesmo tão próxima, não tive coragem de entrar em contato com ele, ainda me sentia quebrada por dentro, com medo de persistir num relacionamento a distância e acabar igual aos meus pais. Ucker insistiu por um tempo, mas os meses sem respostas o fizeram desistir, agora eu apenas o acompanhava pelas redes sociais, observando de longe a sua vida.― Dul? Está aí? ― A voz da minha melhor amiga interrompeu meu devaneio, trazendo-me de volta ao presente.
― Sim, desculpe... Claro, pode marcar ― respondi sua pergunta anterior. ― Acho que não tenho nada agendado.
― Ótimo, a gente se fala depois? Meu paciente deve estar chegando.
Suspirei, refletindo sobre o caminho que Maitê percorreu desde a adolescência. Ela foi a única que permaneceu na cidade, durante o terceirão seu "Santos da vida real" apareceu, o Andréas, um aluno novo de intercâmbio. Os dois se apaixonaram, não demoraram muito para selarem a união em matrimônio, apenas dois anos depois de se conhecerem. Mai encontrou sua vocação na psicologia, uma escolha que parecia natural para alguém tão empática e cheia de conselhos poderosos como ela. O nascimento de Lía, seis meses atrás, trouxe ainda mais felicidade para a vida deles.― Ah... Falei com a Julinha esses dias ― a morena mencionou de uma maneira que aparentava lembrar de algo importante. ― Ela conseguiu um papel na novela das sete, não é legal?
― E aquele curso de atuação em Nova Iorque? ― perguntei, curiosa.
― Preferiu apostar nessa oportunidade agora.
― Tá certa.
De repente me dei conta de que estava atrasada, minhas pernas se moveram para sair da beirada da cama, precisava me despedir dela e entrar no banho logo. Enquanto me preparava para encerrar a ligação, Maitê lançou outra novidade.
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No Pares
Fanfic|+14|Aos quatorze anos Dulce cursava a antiga oitava série, sempre fora a aluna exemplar, todos acreditavam que a garota tinha um grande potencial para seguir carreira de médica, advogada ou engenharia, entretanto seu maior sonho era ser modelo. Não...