O som estridente do sinal, anunciando o fim da última aula, reverberou, ansiosa guardei o material na mochila. Não consegui prestar muita atenção na professora, minha mente continuava em dúvida se deveria ir atrás do garoto.
― Vamos, Dulce? ― Mai me chamou.
― Vai na frente, quero tirar uma dúvida da matéria. ― Mordi os lábios, pensativa.
― E você Júlia?
― Me espera ― ela respondeu desajeitada enquanto anotava o conteúdo do quadro em seu caderno. ― Hoje o Ucker não irá pra casa, tem que ficar para a monitoria.
Interessante, refleti em seguida, o rapaz teria um tempo livre até as aulas da parte da tarde.― Até depois, Dul! ― Minhas amigas se despediram de mim.
Acenei para as duas antes de desaparecerem do meu campo de visão, logo após suspirei, sentindo-me como uma criminosa por estar mentindo para elas, mas precisava descobrir a verdade sobre a garota misteriosa! Arrastando os pés para fora da classe, decidi procurar Ucker na sala de estudos.
― Certeza que não tem mais ninguém? ― perguntei espiando por cima do ombro da secretária. ― Tô procurando um amigo para estudarmos juntos...
― Sim, todos já saíram, acabei de trancar a porta. Agora, só à tarde. ― Ela sorriu, ao mesmo tempo que caminhava. ― Por que não procura pelo seu amigo na cantina? Ele deve estar por lá.
Balancei a cabeça concordando, porém, por dentro um desânimo começava a me atingir, o colégio era enorme! Frustrada, sentei no banco do refeitório quando terminei de vasculhar cada canto.― Recebemos de última hora uma solicitação de música, para aqueles que decidiram ficar para as aulas da tarde, escutem agora uma declaração emocionante que irá mexer com seus corações. ― O locutor da rádio então aumentou o volume e a canção do intervalo ecoou novamente.
"Quero beber o mel de sua boca, como se fosse uma abelha rainha."
Levantei em um pulo, a palavra abelha da primeira estrofe repercutiu na minha mente, lembrando que havia esquecido de procurar nas árvores atrás do colégio. Cada passo que dava ficava ansiosa, mesmo achando que iria amarelar no meio do caminho, continuei o trajeto repetindo que essa história se encerraria hoje. Seria o fim do meu drama adolescente!
Oxigenei o cérebro assim que fitei Christopher em pé encostado no tronco de madeira, apoiava uma perna relaxadamente, ao mesmo tempo em que segurava a mochila em um ombro.― Preciso perguntar antes que me falte coragem, quem é a garota misteriosa que você saiu no soco? ― Disparei minhas palavras igual a uma metralhadora quando me aproximei.
Minha determinação não vacilou, embora estranhei por um momento a ausência do meu nervosismo habitual. Não consegui entender de onde vinha essa coragem súbita, talvez fossem os produtos tóxicos do papel crepom, ou algo profundo dentro de mim que acabava de despertar. Não era como se eu quisesse fugir com medo; ao contrário, estava pronta para encarar a verdade, mesmo que eu não gostasse do que ouviria.O rapaz ficou em silêncio por alguns instantes, enquanto o farfalhar da brisa suave balançava as folhas sobre sua cabeça, Ucker inspirou o ar, como se tomasse fôlego para falar.
― Por que você tá interessada nesse assunto?― mencionou de um jeito curioso. ― E cadê o seu namoradinho?
― Em primeiro lugar, ele não é meu namorado ― Enrolei o dedo na camiseta do uniforme, envergonhada desviei o olhar por um momento.
― Mas pensei que estivessem juntos... ― Christopher inclinou o pescoço, demonstrando surpresa.
― Pois achou errado! ― Levantei o queixo com firmeza. ― E em segundo, essa história já tá me deixando pirada. Então, vai me contar ou não?
O rapaz pareceu refletir no assunto por minutos, pelo menos foi o que me pareceu pela demora, a minha ansiedade transbordava de forma perceptível. Batia o pé impaciente, crendo que ele não me falaria nada, entretanto, inesperadamente, Ucker ajeitou a postura e seus olhos me encararam como se tentasse decifrar meus pensamentos.― A garota é você, sempre foi você! ― sua voz ressoou branda, em um tom que confessava um segredo.
Sua revelação reverberava na minha mente em um eco incessante, enquanto repassava cada momento que compartilhamos juntos.― Engraçado que antes das aulas começarem eu era invisível, aí essa bola de neve adolescente aconteceu... Mudei o cabelo e de repente você me enxergou ― disse, magoada, as lembranças permaneciam gravadas, era impossível apagá-las.
― Eu sempre te enxerguei, Dulce.
― Ah, claro, igual água cristalina ― respondi sarcástica, revirando os olhos.
― O que você queria que eu fizesse? Não tenho um manual de como as coisas funcionam. ― Ele balançou a cabeça em uma negação.
― É, você tem razão, somos duas toupeiras. ― Eu deixei escapar uma risada e o garoto também riu. ― Por que a gente se distanciou? ― Questionei para logo em seguida o fitar triste.
Christopher deu de ombros, porém seus lábios se mexeram, formulando uma explicação.― Não sei você, mas não consegui entender meus sentimentos. Uma hora a gente tomava banho de mangueira no meu quintal e na outra eu ficava nervoso do seu lado.
Ele parecia tão confuso quanto eu em relação ao que estava acontecendo entre nós.
― Além de que sou três anos mais velho...
Agora era a hora que eu receberia o fora por ser uma pirralha, segurei o ar esperando a pancada.― Preciso ser responsável.
Então, antes que Ucker continuasse a falar, interrompi seu raciocínio.
― Amigos? ― Estendi a mão, melhor do que nada, né?
O garoto encarou a minha mão. Acompanhando-o pelo olhar, notei quando ele se aproximou.
― Não! ― Enruguei a testa, voltaríamos à estaca zero? ― Não quero ser só seu amigo. ― Christopher encostou seus dedos na minha bochecha.
O gesto gentil despertou uma corrente elétrica pelo meu corpo, um arrepio desconhecido eriçou os pelos, minha respiração acelerou e, espantada, pisquei os olhos. Ele inclinou a cabeça na minha direção, como se desejasse deixar claro o que sentia em um beijo.― Estou apaixonado por você, Dul ― o rapaz sussurrou ao parar a centímetros da minha boca.
Surpreendida, meu fichário escorregou da minha mão, caindo na grama, Ucker aguardou um instante, parecia que esperava por um sinal. Esbocei um sorriso bobo, em uma resposta clara para o que ele acabara de confessar e sem dizer uma palavra, envolvi meus braços ao redor do seu pescoço. Permitindo que nossos lábios se encontrassem numa carícia demorada, sua declaração repercutiu em minha mente, fazendo a melodia da música "Estou Apaixonado" ecoar sincronizada com aquele momento. O contato de sua boca contra a minha era como a maciez das pétalas de rosas, a salsa que havia experimentado antes, não se comparava à dança suave das nossas línguas. Dessa vez, soube o que fazer, minha mão entrelaçou em seus cabelos, enquanto a fragrância doce das flores se mesclava com o seu perfume, criando uma sensação única. Desejei que o tempo ficasse preso em um loop infinito, com medo de abrir os olhos e descobrir que tudo era fruto da minha imaginação.---
A curiosidade da Dul é tão grande kkk Ai não sei se fico feliz aqui... Espero que não seja sua imaginação Dulce Maria!!
Vejo vocês no próximo capítulo, beijos ; *
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No Pares
Fanfiction|+14|Aos quatorze anos Dulce cursava a antiga oitava série, sempre fora a aluna exemplar, todos acreditavam que a garota tinha um grande potencial para seguir carreira de médica, advogada ou engenharia, entretanto seu maior sonho era ser modelo. Não...