― É, é... ― Gaguejei, sem formular nenhuma explicação.
Então de repente Maitê começou a tossir desesperada, parecia engasgada, ela me encarou arregalando os olhos como se dissesse "entra na encenação".― Ajuda a coitada! ― Empurrei Christopher na direção dela.
Enquanto o rapaz batia nas costas da minha melhor amiga, Júlia saiu do cômodo apressada para pegar água.― Você acha que ela percebeu? ― sussurrei para a morena.
― Não sei, mas por via das dúvidas resolvi agir.
― Melhorou? ― a aniversariante mencionou após a Mai beber o líquido.
― Sim, obrigada! ― Ela sorriu.
― Ótimo, agora vocês podem me explicar porque ultimamente os dois andam estranhos? ― Júlia questionou em seguida.
― Nós? ― Apontei para mim e para o Ucker.
Minha amiga assentiu, aguardando a resposta.― Deve ser só impressão sua, priminha.
― Hum, achei que tinham voltado aos velhos tempos, cheios de intimidades. ― Ela nos encarou com os olhos inquisidores.
O comentário da Júlia me pegou de surpresa, aquele nó no estômago retornou. Droga! Não estávamos sendo nada discretos!― É, talvez o tempo nos afastou um pouco mesmo, não é Dulce? ― Christopher sugeriu, lançando-me um olhar cúmplice.
― Uhum, então vamos jogar, ou não? ― Mudei de assunto, sentindo o nervosismo aumentar.
Fiquei aliviada quando todos concordaram, especialmente porque minha amiga pareceu ignorar o pequeno desconforto que ocorreu. Para a minha sorte, o pessoal logo escolheu um jogo para começarmos a rodada.
***Covarde, essa era a palavra perfeita para me descrever, já estávamos nas férias de julho e eu ainda não havia tomado coragem para contar para a Júlia sobre meu envolvimento com o seu primo. Observando-a calçar seus rollers, presente de aniversário dos padrinhos, suspirei desanimada, precisava encontrar um jeito de conversar com ela antes que a situação se tornasse insustentável.
Era uma quarta-feira típica de inverno, com ventos gelados que cortavam nossos ossos, mesmo encasacadas o frio era demais, as meninas inventaram de dar um passeio pela praça onde tinha uma pista de skate.― Que surpresa ver vocês aqui ― Ucker declarou ao se aproximar de nós, vestia uma calça larga azul com corrente e uma camiseta de manga comprida vermelha.
― Sua prima inventou de andar de roller* ― Mai respondeu ao mesmo tempo que mandava SMS para seu novo interesse amoroso.
― Ansiosas para o retorno das aulas?
― Eu estou! ― retruquei sem pensar, pois agora não nos víamos com frequência, apenas trocávamos mensagens.
O rapaz largou o skate que segurava, sentando-se no banco ao meu lado.― Eu também, contando os dias ― ele sussurrou as últimas palavras só para mim, e eu o fitei admirada.
― Dois nerds... ― Júlia caçoou de nós, antes de sair patinando.
Ah, se ela soubesse da verdade.
― Eu vou caçar alguma coisa pra fazer ― Maitê comentou ao perceber que só restaram nós três.
― O que tem na mochila? ― perguntei curiosa, espiando assim que Christopher a retirou das costas.
― Um moletom. ― Ele jogou a peça na minha direção. ― E, meus cadernos, preciso revisar as matérias.
― Ai! ― protestei, rindo, quando senti o tecido pesado atingir meu rosto.
O cheirinho dele impregnou minhas narinas, trazendo uma sensação de conforto, além de um sorriso bobo. Busquei retirar o moletom da cabeça para poder voltar a enxergar, mas no processo acabei mesmo foi bagunçando os cabelos.― Dulce? ― O rapaz me chamou se divertindo com a situação.
Suas mãos me ajudaram a puxar a peça que havia se transformado em um capuz improvisado e assim que a luz da claridade inundou meus olhos, Ucker me fitava de uma maneira que parecia criar um mundo só nosso, como se naquele instante existisse somente nós dois. Reparei em seus lábios rosados, tão próximos que desejei tocá-los em um beijo, entretanto a consciência do ambiente ao nosso redor nos obrigava a manter a compostura.― Pode me dar uma mão pra estudar? ― o rapaz disse arranhando a garganta. ― Só pergunta os tópicos grifados.
― Claro! ― Enquanto peguei o caderno dele, tentei não pensar na eletricidade que pairava entre nós.
Apesar de estar concentrada na tarefa de tomar a nota de sua lição, minha mente continuava vagando nos pensamentos do contato da sua boca contra a minha, sua carícia tão suave e nada apressada. Foi uma verdadeira batalha ficar perto dele, mesmo com todas as distrações, consegui ajudá-lo a estudar.
No final da tarde, Christopher mais a Júlia nos acompanharam até em casa, já que era caminho para a residência deles.― O que vocês estudaram? ― Mai perguntou quando paramos em frente ao portão.
― Um pouco de tudo, mas matemática só por Deus! Tinha que calcular a altura de um prédio pela sombra, com geometria. ― Balancei a cabeça. ― Isso nós ainda não sabemos fazer, acho que depois das férias é o assunto que vamos entrar.
― Ai, não, e eu pensando que poderia descansar um pouco das equações e fórmulas malucas. ― A morena lamentou, arrancando algumas risadas de nós três.
― Mas a matemática é fascinante, está em toda parte. Quantas coisas incríveis podemos resolver com ela ― respondi com um certo entusiasmo.
― Só você mesmo pra gostar ― ela retrucou.
Dei de ombros, sabendo que nem todo mundo entenderia meus gostos peculiares, desde novelas até matemática. Quando olhei de soslaio para o lado, vi Christopher me encarando de uma maneira embasbacada, escutei ele balbuciar um "essa é a minha garota", completamente absorto.
― Hum, Julinha, preciso falar com você. Urgente! ― Talvez percebendo o clima, Maitê interveio.
― Sobre?
― Aquele assunto nosso lá. ― Ela ergueu as sobrancelhas em um código entre as duas. ― Vamos até ali, rapidinho. ― Apontou para um canto.
Elas então saíram do meu campo de visão e, ao mesmo tempo que achava muito esquisito essa história, Ucker segurou a minha mão. Naquele instante, perdi o foco do resto do mundo.― Mais tarde te mando mensagem. ― Ele me puxou gentilmente, unindo nossos lábios em um selinho.
Foi uma fração de segundo que duraria uma eternidade, aquele momento ficaria gravado na minha memória para sempre.― Pra você não se esquecer de mim ― explicou assim que nos afastamos.
Nem se eu quisesse!― Ah, e isso também. ― O rapaz retirou de sua mochila o moletom me entregando logo depois, além de se despedir com uma piscadinha.
― Tchau, meninas! Amanhã venham aqui para o nosso dia de beleza. ― Elevei a voz para as duas escutarem.
Entrei em casa, um sorriso bobo surgiu em seus lábios, algo que se tornava frequente quando me encontrava com ele. Naquela noite, dormi abraçada na sua peça quentinha, depois de escutar a faixa cinco do DVD um milhão de vezes.Liguei a televisão para passar o tempo enquanto esperava pelas minhas amigas, havia arrumado a casa na parte da manhã e agora colocava as pernas para cima no encosto do sofá. Nem cheguei a prestar atenção na programação, pois a campainha acabava de tocar.
― Júlia? Cadê a Mai? ― Franzi a testa ao fitá-la na porta.
― Quis vir antes, precisamos conversar. ― Sua expressão séria me deixou apreensiva. ― Algo que só diz respeito a nós duas.
Ai, não, congelei, ela viu o selinho que trocamos!*Roller = São patins de rodas alinhadas em uma única fileira.
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Ixi, será que deu ruim pra Vondy agora? Curti muito o momento dos dois nesse capítulo <3 Julinha, não estraga..
Beeijos, até o próximo ; *
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No Pares
Fanfiction|+14|Aos quatorze anos Dulce cursava a antiga oitava série, sempre fora a aluna exemplar, todos acreditavam que a garota tinha um grande potencial para seguir carreira de médica, advogada ou engenharia, entretanto seu maior sonho era ser modelo. Não...