Capítulo 09

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No minuto em que pisei os pés no colégio, a atmosfera parecia diferente, mesmo tentando seguir o ritual de evitar interações, as pessoas me olhavam curiosas.

― Gostei do visual ― uma menina declarou ao passar por mim.

Sorri meio sem graça, levantando a mão em um aceno, havia pintado apenas as pontas de vermelho, imagina se fosse o cabelo inteiro... Não achei que causaria tanto! Observei a Mai andar à minha frente, conversava animada com alguém de outra turma, enquanto me acostumava com as atenções de todo mundo. No meio do pátio, Júlia sorriu para mim, e antes que eu conseguisse escapar do seu radar, ela veio ao meu encontro junto com o seu primo.

Ucker me fitou de uma forma admirada, os lábios se abriram levemente, seu olhar parecia percorrer cada detalhe, desde as mechas avermelhadas até o meu rosto. Como se ele estivesse vendo algo novo, algo que despertava o interesse.

― Quero só ver a cara do gatinho... ― minha amiga comentou, mexendo as sobrancelhas, arteira.

No instante seguinte, Christopher fechou o semblante adotando uma postura defensiva.

― Você não acha que a Dul ficou perfeita? ― a garota perguntou para o rapaz, orgulhosa do resultado.

― Preferia antes ― disse ríspido e saiu na direção da sua sala.

― O que deu nele? ― Júlia me encarou confusa. ― Quer saber, deixa pra lá. Agora me conta, quem é o menino?― Ela enganchou seu braço no meu.

Droga! À medida em que meu cérebro buscava por uma desculpa coerente, minha amiga emendou seu raciocínio.

― É aquele "amigo" que te ajudou na apresentação? Da outra turma?

― Sim, ele ainda não chegou ― respondi, a única coisa que consegui formular.

― Hum... No intervalo você me mostra então. ― Sorriu contente e, em seguida, fomos para a nossa sala.

Ah ferrou, como que vou sair dessa confusão? Cada minuto que passava, o nervosismo me consumia, imaginando a hora do recreio. Não podia simplesmente apontar alguém aleatório, pois corria o risco da Júlia querer encher o garoto de perguntas, ou até mesmo armar um esqueminha.

― Vamos para as mesas do refeitório escutar as músicas da rádio? ― Alfonso aproximou-se da minha carteira, assim que o sinal soou.

Afirmei em um movimento de cabeça, para em seguida convidar as meninas para irem também, torcendo para que a Júlia esquecesse aquele assunto! Decidi não ficar ao lado delas, em vez disso, engatei uma conversa qualquer com o Poncho e quando chegamos ao local, uma parte era fechada, na qual continha mesas para lanchar, além de dois alto-falantes posicionados de uma forma estratégica; um no centro e outro no canto da parede, de onde a música da rádio preenchia o ambiente.

― Então, pensou na minha proposta? ― o gatão dos olhos verdes sussurrou para mim.

― Acho melhor não, mas posso fazer as lições para você se é esse o problema.

― Que pena, porque você tem uma boa oportunidade agora.

― Como assim? ― O garoto inclinou a cabeça discretamente, e eu segui seu olhar na direção indicada.

Christopher se encontrava quase do nosso lado, separado apenas por alguns metros de distância, ele podia nos ver sem nenhum empecilho. De repente, a introdução de uma nova canção começou a tocar, chamando a minha atenção.

― Quero escrever na areia sua história junto com a minha... ― enquanto murmurava a metade da segunda estrofe e refletia na letra, senti o braço do Poncho se acomodar no meu ombro.

― Vai por mim, se ele gosta de você, ficará todo intimidado ― respondeu o rapaz, percebendo a encarada irritada que lhe lancei.

Pensativa, observei o Ucker nos fitando com uma expressão zangada, indicava que algo estava definitivamente incomodando-o. Eu podia notar a tensão no ar, além do clima desconfortável que só aumentou conforme nossos olhares se cruzaram. A melodia da música voltou a ecoar na minha mente ao mesmo tempo que eu gostei de ver a sua reação.

"E em cada verso traduzir as fibras do meu sentimento..."


Não desviei meus olhos do dele; pelo contrário, levantei uma sobrancelha, desafiando-o em silêncio. A adrenalina começou a pulsar em minhas veias, enchendo-me de uma sensação diferente, como se o medo não existisse. O rapaz fechou as mãos com raiva e levantou-se caminhando na minha direção, a cada passo parecia mais enfezado.

"Que estou apaixonado"

Foram as últimas palavras da canção que consegui escutar, pois me preparei para confrontá-lo. Queria perguntar o porquê de estar tão incomodado! Mas então, Otávio Augusto apareceu correndo no mesmo instante, os dois acabaram se esbarrando.

― Seu otário, não olha por onde anda... A minha câmera digital novinha! ― Tampei os olhos, enquanto o esquentadinho exclamava alterado vendo o estrago do objeto.

― Como ele conseguiu entrar com isso? Foi proibido! ― Ouvi a Mai resmungar.

― Vai saber se a tia dele não deu um jeitinho... ― Júlia comentou e eu retirei as mãos dos olhos para espiar a confusão.

Preocupada, questionei-me se isso não terminaria mal para o coitado, já que dessa vez, a culpa meio que foi minha...

― Você que me atropelou, idiota! ― Christopher retrucou.

Nerd, nerd, não me provoca que não engoli aquele papinho sobre a Talita.

― Problema é seu, já expliquei o que aconteceu de verdade... Sua "mina" que ficou dando em cima de mim.

Ah, não... Eu entendi tudo errado? De repente, comecei a me sentir sufocada, desvencilhei-me dos braços do Alfonso e fui para o lado da Maitê, precisando de ar. Será que tive uma crise de ciúmes à toa? A pergunta ainda continuava sem resposta: quem era a garota misteriosa!?

― É, lembrei de uma coisa agora. ― Otávio estreitou os olhos na direção dele. ― Você gosta da franguinha, aquele dia foi só passar as fotos para a oitava série que se irritou. Principalmente, quando falei o nome, qual era mesmo? ― O garoto pensou por um segundo.

A minha melhor amiga sussurrou para mim "é você".

― Sou eu? ― disse espantada, absorvendo a informação. ― Pode ser a Júlia. ― Tentei ser lógica.

― Óbvio que não... se não, ele teria dito "quando passei as fotos da sua prima", né... ― completou Maitê me fitando com uma expressão de cumplicidade. ― Acho que chegou a hora de você encarar o que sente, não acha? Por que não conversa com o Ucker?


Antes que eu pudesse ter uma chance de raciocinar a respeito, o sinal do intervalo ressoou pela escola, a confusão se dissipou no momento em que o Christopher xingou o outro e saiu rumo para sua sala.

― Quero saber quem é a traíra! ― Júlia esbravejou na nossa porta, assim que chegamos. ― Quem foi na minha festa, bebeu e comeu da minha comida e tá pegando meu primo? Pior, se fingindo de amiguinha...

― Calma, querida, tudo isso é ciúmes? É apaixonadinha pelo primo?

― Não viaja, eu conheço o tipinho de vocês desde a terceira série... ― Ela apontou o dedo. ― Só iam para a minha casa por causa dele.

― Ninguém tá pegando o seu primo. ― Maitê tentou tranquilizá-la, arrastando-a para a sua carteira.

Antes de sentar, Júlia encarou as garotas, com os dedos fez um gesto de "estou de olho em vocês". Meu coração pulsava freneticamente, aquela adrenalina de antes ainda parecia correr pelas minhas veias, porém o medo retornava a me atingir. Uma parte de mim queria saber da boca de Christopher a verdade sobre a garota misteriosa e a outra gostaria de permanecer quietinha, pois a bola de neve adolescente já havia crescido demais! 


Música utilizada nesse capítulo - Estou apaixonado, do João Paulo e Daniel.

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Ih a saga da garota misteriosa voltou hehe e o Poncho será que ajudou ou piorou ainda mais o negócio entre Vondy?  Poxa, Dulce, investiga isso ai, logo agora que estamos tão perto de descobrir... Até o próximo capítulo!

Gente, vocês devem estar acompanhando a situação no RS, queria deixar aqui um site para quem quiser ajudar, da forma que puder ou também se informarem na cidade de vocês onde estão arrecadando coisas, pois voltou a chover novamente por lá. Toda ajuda é bem-vinda <3 

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