Um novo desconhecido

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Meu corpo jazia sobre uma cama ou colchonete, enquanto tudo ao meu redor girava rapidamente, de forma agonizante. Era como se o mundo estivesse em turbilhão, e eu não conseguia manter meu corpo em equilíbrio; meus pensamentos se misturavam à cacofonia do ambiente, provocando náuseas.

"Levem-no rápido, está perdendo muito sangue...." Uma voz masculina ecoava ao fundo, perdida no caos.

"Rápido, rápido, não temos muito tempo." Uma voz doce e suave era como açúcar na minha língua, contrastando com a urgência da situação.

Algo estava errado; minhas costas estavam frias e eu sentia minha carne em chamas, enquanto algo quente escorria pela minha pele. Os fragmentos da bomba haviam atingido minhas costas, e agora me levavam de volta ao hospital. A dor, antes imperceptível, agora se espalhava pelo meu corpo como fogo, e minha consciência começava a se dissipar aos poucos, desaparecendo lentamente conforme minhas pálpebras se tornavam mais pesadas e o ar mais denso.

Antes de desmaiar por completo, pude vislumbrar rapidamente o prédio, agora reduzido a escombros de rocha, com o pó se levantando dos restos frios da construção. As pessoas procuravam por mais vítimas, e eu o vi. Não sei se minha visão me enganava, mas ele parecia estar vivo, pelo menos.

Ao longe, visto como um vulto embaçado, seus cabelos vermelhos como o cobre eram o que podia ser identificado mesmo de longe. Ele parecia ser levantado por dois homens com grossos casacos de pele; parecia atordoado, mas estava vivo. Aos poucos, tudo dentro de mim parecia se acalmar, e a paz vinha ao meu encontro. Eu me entregava ao sono mortal que ela trazia.

...
...

"Você não viu o que aconteceu, né? "
- O que está acontecendo?

Eu me encontrava em um lugar completamente envolto pela escuridão e pelo frio cortante. A única fonte de luz parecia brotar de dentro de mim, iluminando apenas o que estava ao meu redor. Não havia paredes visíveis, nem qualquer indicativo do fim daquele lugar desolador. O chão, coberto por uma camada de água gelada de pelo menos um centímetro de profundidade, contribuía para a sensação de desamparo e solidão que me envolvia.

"Tolo, sou eu. Estou aqui com você o tempo todo. Me escondo nas sombras e apareço quando quero me alimentar. "
- Vai embora agora.

"Não posso e não quero. Estou dentro de você e você sabe disso. "

- Não, não, não saia agora.
" oque ? Não não mesmo eu não vou sair daqui Edgar e você também não "

Aquela voz parecia se divertir com meu desespero, ecoando uma risada sórdida e assustadora. Meu coração batia descontroladamente no peito, enquanto meu sangue parecia ferver por todo o meu corpo, inundando-me com uma sensação de terror e pavor.
...

- Edgar, está tudo bem, você está no hospital. Está ferido, mas está se recuperando bem - uma enfermeira tenta me acalmar, suas mãos estão frias, mas ainda assim são mais quentes que as minhas, trazendo o conforto e a segurança que tanto preciso.

Era um sonho, apenas um sonho. Eu estava em um lugar árido e quente, e aquela voz que me atormentava não estava mais presente. Agora, eu me encontrava novamente em uma casa de recuperação, sentindo minhas costas rígidas pelas queimaduras e pela dor intensa.

- O que aconteceu? Meu corpo dói, o que aconteceu?

- Você foi vítima de uma das explosões. Retirei os fragmentos da explosão das suas costas. Você está aqui há pelo menos duas semanas. Não se mexa muito, você ainda está se recuperando dos pontos e das queimaduras - ela foi direta ao ponto e não me deu mais detalhes, falava muito rápido, ou talvez eu é que não estava pensando claramente o suficiente.

-Alan, você viu ele? Ele é alto e tem cabelo ruivo. Estávamos juntos na explosão, você o viu.

A enfermeira ficou em silêncio por alguns segundos, seus olhos analisando-me com preocupação antes de responder.

-Me desculpe, não entrou ninguém além do senhor aqui.

-O que? Como assim? Eu o vi sendo levado, isso não pode ser verdade.

Ela parecia tentar me entender e ao mesmo tempo me fazer dormir novamente, sua voz suave, mas firme, tentando acalmar meu estado agitado.

A enfermeira se afastou para falar com alguém que tinha a chamado. Enquanto conversava com outra pessoa, seus olhos voltavam para mim frequentemente. Quando a conversa parecia ter acabado, ela voltou a mim.

-O jovem que o salvou está aqui para ver como você está, Edgar.

Suas palavras foram como um bálsamo para minha mente confusa e dolorida.

Eu sabia que alguém havia me tirado de lá. Lembrava de sentir mãos firmes me levantando e me colocando sobre ombros fortes, o cheiro de fumaça ainda impregnado no ar. Lembrava de ouvir a voz de alguém, reconfortante e firme, prometendo me tirar dali em segurança. Agora, eu iria conhecer quem era essa pessoa. Eu deveria agradecer a ele por ter me salvado, ou deveria amaldiçoá-lo com minha mente.

-Posso permitir que ele entre? - a esta altura ela já estava com a mão na porta .

-Sim, acredito que devo agradecer a ele por ter salvo minha vida e também quero fazer algumas perguntas - como ele conseguiu me tirar de lá era a principal.

Pétalas de guerraOnde histórias criam vida. Descubra agora