A Torre

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A grande noite havia chegado, o silêncio e a calma eram mortais e opressivos. Todos sabiam o que iria acontecer, e todos nós estávamos envoltos em um manto de pavor. Equipamentos garantidos, remédios e combustíveis conferidos, em algumas horas, alguns infiltrados entrariam em Galena para apagar qualquer vestígio de luz que ousasse existir nas ruas. O sol se pôs devagar, lançando sombras sinistras, enquanto nuvens escuras e pesadas se erguiam no horizonte, anunciando uma tempestade iminente.

28 de janeiro de 1943
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Retomada de Galena pelos Aurianos durante o período noturno. O ataque seria feito de forma silenciosa; este seria um dia de glória.

Precisava recuperar a documentação sobre tudo o que acontecia. Ela estava desaparecendo, todos os malditos arquivos sumindo um a um. Talvez eu estivesse apenas perdendo, e isso seria um problema. Alguém poderia encontrá-los, ou pior, alguém poderia estar roubando-os de mim.
A maldita dor de cabeça estava voltando.

"Não confie nele, ele mente, ele mente..."

Você não existe, saia da minha cabeça agora!

"Seu idiota, aquele garoto por quem você está se apaixonando, ele não é confiável, vai nos trair!"

Ele não faria isso, ele é bom, como você jamais será.
A voz ecoava na minha mente cada palavra mais perturbadora do que a anterior, como se fossem sussurros vindos de um lugar sombrio dentro de mim mesmo.

-Edgar, você está pronto? -Matias me tirou do meu transe com sua voz suave e reconfortante.

-Você vai lutar com eles? -Matias não era alguém feito para a guerra. Sua saúde frágil e seu corpo aparentemente forte, porém vulnerável, o tornavam um candidato improvável para o campo de batalha. Ele havia enfrentado tantas doenças em tão pouco tempo que era difícil acreditar que tivesse sobrevivido em Auria por tanto tempo.

-Vou preciso lutar pelo meu povo, mas também para garantir que você fique seguro. Prometo proteger tudo o que você construiu. -Não pude evitar sentir o calor inundar meu corpo, nem a vermelhidão que se espalhou pelo meu rosto.

-Você fica, Edgar, e eu vou. Vai ficar tudo bem, eu prometo. -Sua voz, suave como um sussurro de esperança, era a única coisa que me dava conforto naquele momento de incerteza.

Ele saiu sorrateiramente, desaparecendo aos poucos da minha vista. Ao lado da estrada, erguia-se a torre sombria de uma antiga igreja, há muito abandonada e tomada pelo tempo, mas ainda assim imponente, como se guardasse segredos sombrios em seu interior. Era o lugar perfeito para testemunhar o terror que estava prestes a se desenrolar.

Dentro de um antigo baú coberto de poeira, repousava um violino, a única lembrança que minha mãe me deixou. Não me recordava mais do seu rosto ou de sua voz, apenas das suas mãos acariciando as cordas para me embalar ao sono. O instrumento estava com Alan por todo o tempo em que estive com ele , guardado a meu pedido. Sabia que ele o protegeria, mas naquele momento, trocaria tudo para tê-lo em minhas mãos novamente. Seria minha voz de vingança, um eco do meu ódio contra aqueles que tiraram a vida de Alan .

O conflito irrompeu, os gritos e os estrondos ecoavam por todos os lados, reverberando pelas paredes da torre como um eco macabro. À distância, começou como um murmúrio distante, frágil como o brilho de um vaga-lume, até se tornar uma chama crescente, e então uma fogueira voraz. Galena estava sendo devorada pelo caos, e eu, imerso na minha própria insanidade, testemunhava a destruição, tocando uma melodia sinistra, como se as próprias cordas do violino estivessem possuídas pelo fogo que consumia a cidade. As chamas iluminavam as cordas, revelando cada detalhe macabro da cena que se desenrolava diante de mim.

Pétalas de guerraOnde histórias criam vida. Descubra agora