A enfermeira apenas concordou e saiu, cruzando novamente a porta, como da primeira vez que estive ali. Não demorou muito e pude ouvir os passos leves de alguém se aproximando. Eram passos tão delicados que duvidava que deixassem marcas na lama, ou mesmo na neve, se fossem suficientemente cuidadosos.
Ele tinha cabelos castanhos como cedro, com algumas mechas mais claras que outras, balançando suavemente logo acima dos ombros. Sua pele tinha um leve tom bronzeado, realçando o rubor suave de suas bochechas. Vestia um casaco de couro castanho que o fazia parecer ainda mais robusto. Seus olhos amendoados brilhavam com alegria ao me ver bem. No entanto, eu não queria apenas que ele respondesse às minhas perguntas, mas que desaparecesse rapidamente da minha vida.
- Bom dia. - ele era um idiota.
- Qual é o seu nome? Quanto mais rápido eu soubesse tudo sobre ele, mais rápido ele iria embora.
- Matias.
- Obrigado por ter me salvado, Matias. Não sei como devo agradecer pelo que você fez. Ele parecia feliz em me ver bem, ou melhor do que eu estava naquele dia.
- Você ainda sente muita dor?
"O que você acha? Uma bomba explodiu nas minhas costas."
- Não, estou melhor.
"Mentiroso."
- Agora vou trabalhar com você. Os anciãos acreditam que, depois de tudo o que aconteceu, seja melhor você ter um guarda-costas. - Ele parecia seguro e feliz com isso, eu, pelo contrário, estava com a mandíbula tão apertada que podia ouvir meus dentes trincando.
Não precisava de um segurança e queria quebrar a cabeça de Matias com um pedaço da cama, mas precisava manter a cabeça no lugar. Primeiro, sabia que tentar me manter em segurança significava que do lado de fora do hospital todos estariam prontos para uma guerra e, segundo, eu estaria mais segura se ele morresse no meu lugar.
- Matias
- Obrigado por ter me salvado, Matias. Não sei como devo agradecer pelo que você fez. Ele parecia feliz em me ver bem, ou pelo menos, melhor do que eu estava naquele dia.
- Você ainda sente muita dor?
"O que você acha? Uma bomba explodiu nas minhas costas."- Não, estou melhor.
"Mentiroso."- Olha, sinto muito por suas coisas. A maioria foi destruída pelo fogo da explosão.
- Não sobrou nada?
- Praticamente nada, mas está tudo bem. Conseguimos reunir algumas peças de roupa e um local improvisado onde você vai poder dormir. Ótimo, agora eu iria viver com os restos deixados por esses porcos e morar numa droga de choupana. Eu fui da frigideira para o fogo em poucos segundos.
Os dias se passaram devagar, e cada um deles era uma agonia interminável. Minhas feridas cicatrizavam aos poucos, mas ainda assim sentia os pedaços de ferro que manchavam minhas costas, uma nova marca para um corpo tão marcado. Mas eu tinha uma verdadeira clareza sobre o que iria fazer.
- Bom dia, Edgar. - Matias me esperava ao lado da cama. Era meu dia de alta, e eu iria para aquela choupana infeliz.
- O que você está fazendo aqui? Deveria observar quem entra e sai do quarto na porta.
- Sim, sei disso, mas acredito que posso te proteger melhor do lado de dentro do quarto. Trouxe algumas roupas, acredito que alguma vai servir em você.
Acredito que fiquei uns trinta segundos olhando para a janela, esperando que minhas unhas parassem de se enterrar na palma da minha mão. De todas as roupas, apenas três blusas e uma calça de linho cor chumbo serviram direito. Eu queria arrancar aquelas imundícies da minha pele, ainda podia sentir o cheiro de repolho que emanava delas.
- Desculpe pelas roupas, elas têm um cheiro horrível. Não acredito que ele também sente esse cheiro asqueroso.
- É, sim. É bem ruim.
- O que aconteceu com seu rosto? Por que tem essa cicatriz? - Ele estava mesmo interessado nisso?
- Foi o meu pai. Ele era um louco bêbado. Ele fez mais cicatrizes do que você pode ver. Isso doeu tanto para ser dito.
- Bom, então que ele morreu. Dois coelhos com uma cajadada: um traidor e um bêbado.
A surpresa estampava meu rosto. Ele realmente achava isso também. Talvez ele fosse como eu, talvez ele não fosse tão ruim assim.
A cabana era uma verdadeira espelunca. As paredes feitas de madeira tinham tantos buracos que era possível ver o interior do imóvel. Na porta, existiam mais pessoas aguardando a minha chegada. Isso significava mais um discurso, e esse seria de verdade.
- Agradeço a todos pela presença novamente. Acredito que todos nós já vimos o suficiente e sentimos o suficiente.
Matias estava com um caderninho com uma capa de couro. Ele parecia estar anotando tudo o que eu falava.
- Nós temos a força e a coragem necessárias para acabar com essa situação. Vamos pegar nossas armas e nosso fogo. Vamos invadir Galena e tornar tudo isso nosso.
A população estava em êxtase, gritavam meu nome mais alto que um trovão. Se agitavam em alegria, e a determinação escorria de suas bocas e brilhava em seus olhos.
- Vamos nos preparar para esse dia, e quando estivermos prontos, invadiremos a cidade e destruiremos tudo que ousar ficar entre nós.
A empolgação era palpável, e o ar estava carregado de energia. Agora, mais do que nunca, estávamos prontos para lutar pelo que era nosso.
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Pétalas de guerra
TerrorNesta história ( romance e terror )( +16) ,contada pelo ponto de vista do vilão somos levados a um mundo pós-guerra onde a sociedade está dividida entre os poderosos e os oprimidos. A narrativa nos apresenta Edgar, um protagonista complexo e atormen...