Com o tempo, todos os sons diminuíram. A fuligem subia aos céus como uma dança de almas negras e densas. O dia já estava raiando e a destruição de Galena era evidente agora.
Eu precisava descer da velha torre da igreja. O show já havia terminado, e agora tudo que eu teria era trabalho para achar os que ainda estavam vivos e condená-los pela morte de Alan.
Eu já conhecia o caminho até Galena, tinha percorrido ele tantas vezes quanto consigo me lembrar. As mesmas árvores com seus galhos retorcidos me julgando e conversando em uma língua que só as árvores entendem. Só que dessa vez era tudo diferente. Alan não estava ali, e sua ausência fazia meu peito apertar contra os meus pulmões. Minha cabeça voltava a doer como choques elétricos que chegavam até minha espinha.
Algo se mexeu nas sombras ou no capim e galhos secos que ainda se movimentavam pela agitação que sofreram. Alguém está aqui.
— Seu desgraçado, você matou minha família! — o homem velho e sujo pulou nas minhas costas com a fúria de um cão imundo com raiva.
— Você fez isso, você fez isso! Eles morreram, estão todos mortos! — Talvez pela raiva que o fazia falar cuspindo como um porco espirrando, ou suas narinas que batiam como duas asas de uma ave qualquer. Sua pele estava vermelha e ferimentos de queimadura ou de corte se espalhavam como a sujeira em sua pele.
Em um movimento rápido, ele tentou me atingir no rosto e, por instinto, eu usei minhas mãos para impedir o golpe. A lâmina que ele usava passou pela minha luva, fazendo um corte em minha mão. A dor aguda, o sangue, o vento frio e as cinzas que se espalhavam pelo ar, tudo podia ser sentido naquele exato momento.
O homem tentou mais uma vez, e com um rápido desvio e um golpe de sorte, pude desviar e dar um único golpe em sua nuca. A pancada não foi forte, mas foi o suficiente para ele perder o equilíbrio e cair. Um reflexo o fez virar para cima novamente para voltar à luta.
Minhas mãos se encaixavam perfeitamente ao redor do seu pescoço. Era uma posição confortável; podia jogar todo o meu peso sobre ele. Se pelo menos ele não se mexesse tanto, poderia ser algo muito mais agradável. Ele parou e sua pele estava aos poucos voltando à cor normal. Sua respiração ainda estava acelerada e ele tentava recobrar a consciência. Eu já estava erguido novamente e, ao fazer isso, pude pegar uma pedra redonda e lisa que estava no local. Ela não era pequena o suficiente para não ser inofensiva.
Apenas duas pancadas usando toda a força que existia em meu ser seriam suficientes para fazê-lo desmaiar e nunca mais acordar de seu sono profundo. Ele estava caído e o sangue em sua cabeça secava aos poucos, misturando-se à sujeira de sua pele. Sua respiração estava cada vez mais fraca até que, por fim, a pancada trouxe o doce triunfo da morte. Mas eu não podia apreciar aquele momento; precisava chegar a Galena o mais rápido possível. Após alguns minutos, a fumaça que saía dos telhados e das ruas já podia ser sentida no ar.
A cidade estava desolada. Havia a presença de sangue em cada poça de lama, em cada pedra, em cada tronco ou parede. A cidade estava praticamente destruída, e eu iria reerguê-la como seu rei. Uma nova pilha estava sendo erguida, não de aurianos, mas de galenos. Meus soldados carregavam cada corpo como se carregassem um cristal. O remorso estava acumulado no rosto de cada um deles; era algo que pesava em suas feições e distorcia seus olhares.
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Pétalas de guerra
HorrorNesta história ( romance e terror )( +16) ,contada pelo ponto de vista do vilão somos levados a um mundo pós-guerra onde a sociedade está dividida entre os poderosos e os oprimidos. A narrativa nos apresenta Edgar, um protagonista complexo e atormen...