I

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A história começa assim.

Era uma vez.

Lá onde faz frio, o sol nasce bem cedo para aquecer os desprotegidos, os desafortunados, os que por uma razão ou outra precisam dele.

Lá onde a lua aparece ainda a tempo de abraçar o sol para de seguida tomar conta da noite.

E é sempre assim.  O sol aparece, gira, gira e gira, dá um abraço na lua e desaparece.

Assim é a vida de dois seres que por uma razão qualquer estão em constante movimento.  Encontram-se, abraçam-se e seguem cada um o seu caminho.

Numa ponta da cidade, Juliette começa o seu dia às cinco da madrugada.

Enfermeira numa pequena clínica, sempre cumpriu o mesmo horário.
Todos os dias das 5 às 18 horas.

São muitas horas, são, mas são as necessárias para levar para casa o sustento.  Vive uma união há muito fracassada e da qual não consegue sair.

Não consegue ou não tem coragem.  Acomodou-se e para não ter aborrecimentos deixa a situação arrastar-se.

O companheiro, homem de carácter duvidoso, limita-se a passar os dias deitado no sofá lá de casa ou por vezes nalgum grupo de amigos consumindo álcool e outras coisas ilícitas.

Juliette chega, tem que preparar jantar e almoço do dia seguinte, arrumar a casa e tratar do resto.
Quando dá por terminado o dia, não é mais dia e à meia noite vai tentar dormir para no dia seguinte começar tudo de novo.

- Custava fazeres o jantar?  Aspirar a casa?  Estás aqui o dia todo.  Bolas, eu ando cansada.

- Isso é trabalho de mulher.

- E o trabalho de homem é o quê?  Dormir todo o dia?

- Sabes bem que eu não consigo emprego.

- Pois não.   Ninguém vem a casa dos outros oferecer emprego.  Há que procurá-lo.

- Cala-te e vai fazer o jantar.  E vê lá o que fazes.  Não quero nada parecido com aquela merda do almoço.

- Ainda por cima és esquisito.   Experimenta cozinhar tu.

- Já estou farto de te dizer que isso é trabalho teu -  disse ao mesmo tempo que lhe dava uma bofetada.

- Um dia desapareço e nunca mais me vez.

- Faz isso, faz.  Assim que fizeres aquelas lindas fotos vão parar aos jornais e toda a cidade vai saber quem tu és de verdade.

Raul havia colocado no nosso quarto câmaras escondidas que filmaram os dois a termos relações.   Chantageava-me com isso, ameaçando-me de me expor até no emprego.  Foi a partir dessas gravações que ele se modificou e largou o trabalho passando a depender totalmente de mim.

Eu já procurei varias vezes as imagens mas não as encontrei.
Ameacei com polícia por ele ter gravado sem meu conhecimento, mas recebi em troca muita porrada.

É para a outra margemOnde histórias criam vida. Descubra agora