VI

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Gostei de jantar com o Rodolffo.   A conversa com ele é sempre animada.

Notei no seu olhar um interesse além de uma simples amizade, mas neste momento eu ainda estou na fase da libertação.

O relacionamento abusivo com Raul ainda está muito presente e não quero envolver-me com outra pessoa.  Não neste momento.

Enquanto isso na outra margem, Rodolffo deitado na cama dava asas à sua imaginação.

Quem povoava os seus pensamentos era uma certa morena.  Nunca desejou uma mulher como a desejou a ela naquela noite.

Noutras ocasiões teria avançado mais, mas com ela era diferente.  Com ela ele era cauteloso, medroso até.
Marcar um jantar semanal foi uma vitória e tanto.  Ia agir com calma.  Reconhece que ela vem de uma relação difícil e é muito natural manter-se à defesa.

A sua não foi melhor, mas pelo menos nunca houve violência física.   Em alguma ocasião as palavras não foram as mais apropriadas, mas até esses casos foram raros.

Toc, toc, toc.

Juliette abriu a porta e deu de caras com Raul.

- Não podes estar aqui.  O que queres?

- Deixa-me entrar.  Só  quero conversar.

- Não temos nada a dizer.  Vai embora ou ligo para a polícia.

- Juliette!  Fala comigo.  Quero pedir desculpa.  Eu quero voltar.

- Deus me defenda!  Raul, não tem volta.  Segue a tua vida.  Eu estou bem assim.  Adeus.

- Vamos conversar, Juliette.

- Se não fores embora eu vou ligar para a polícia.  Já nos agredimos bastante.  Licença que eu vou fechar a porta.

- Eu não desisto, Juliette.   Eu quero ficar contigo.  Não aceito que fiques com outro.

- Adeus.

Juliette fechou a porta e respirou aliviada por ter conseguido ficar calma.

Ligou para Rodolffo e contou-lhe o sucedido.  Ele disse que ela deveria ter ligado à polícia e pediu que ela não facilitasse.

- Agora estou nervosa.  Com ele consegui manter a calma, mas agora não.

- Relaxa.  Queres que passe aí quando terminar o serviço?

- Não te incomoda?

- Claro que não.

- Quando sair daqui, vou directo para aí.

E assim fez.  O percurso não era muito longo e logo ele se fazia presente.

Quando Juliette abriu a porta ele entrou e abriu os braços para acolhê-la.  Deu-lhe um beijo na testa e assim ficaram alguns minutos.

- Obrigada por teres vindo.  Aproveita e janta comigo.

- Venho sempre que precisares e me chamares.

- Não quero abusar.  Já tens os teus problemas, escusas de levar com os meus também.

- É para isso que servem os amigos.

Já era tarde quando Rodolffo se despediu e regressou a casa.

É para a outra margemOnde histórias criam vida. Descubra agora