V

62 13 8
                                    

Já faz mais de um mês que eu me mudei para a nova casa e o novo emprego.

Durante este tempo, liguei duas vezes para falar com Juliette.  Das duas vezes a chamada foi parar à caixa de mensagens.  Deixei mensagem, mas ela não retornou as chamadas e eu não insisti.

Estou com uma saudade danada dela, mas não sei o que fazer.
Hoje é o meu dia de folga.  Agora eu posso finalmente ter folga.  Resolvi que vou lá esperá-la à saída da clínica. 
Vou convidá-la para jantar.

17,30 horas.  Rodolffo estaciona na frente da clínica e espera dentro do veículo.
Ele sabe que ela não sai antes da 18 horas.

Pontualíssima.  Às 18 horas, Juliette atravessa a porta.  Vinha numa conversa animada com uma colega.
Eu apitei e saí do carro.  Ela olhou, sorriu e despediu-se da colega,  caminhando depois até mim.

Demos o nosso abraço habitual, e que saudades eu tinha deste abraço.

- Que fazes aqui?

- Vim ver-te e convidar-te para jantar.

- Hoje?

- Sim.  Agora mesmo.

- Posso passar em casa, primeiro?

- Claro.  Como quiseres.

- É que estou com o meu  carro.  Não vou deixá-lo aqui.

- Vai que eu sigo-te.

Juliette deu partida e Rodolffo seguiu atrás dela.  Assim que estacionaram, Juliette pediu para ele entrar e esperar que ela ia tomar um banho rápido.

- É rápido.  Bebe alguma coisa.  Tem na geladeira e no bar.  Podes servir à vontade.

Rodolffo disse que não queria nada e ficou à espera sentado no sofá e folheando uma revista que ali se encontrava.

Não passou muito tempo e Juliette surgiu de vestido curto, sandália de salto e um casaco leve.  Era Verão, mas por vezes ventava à noite.

A maquilhagem era muito discreta,  mas o que mais o cativou, foram os cabelos soltos.  Nunca ele a vira assim.  Na clínica trabalhava sempre de cabelo apanhado num rabo de cavalo ou trança.

- Estás linda.  Devias usar o cabelo sempre solto.

- No trabalho não dá.

- Nem perguntei como tens passado.

- Muito bem.  Alguns problemas, mas  tenho conseguido levar.  E tu?  Como foi a mudança?

- Foi tarde demais.  Perdi tanto tempo numa relação sem futuro.

- Nunca é tarde.  Fomos dois trouxas, isso sim.

Seguimos para um restaurante à beira rio.  Da mesa que nos coube na esplanada coberta podíamos ver e ouvir as àguas correrem.

- Este local é lindo.  Olha as luzes reflectidas na àgua!  Vê o contraste das cores.

- É lindo mesmo, mas diz-me, porque não retornaste as minhas chamadas?

- Parvoíce minha.  Não estava bem na altura.

- Estavas doente?

- Doente, não.   Só conflitos internos, mas não falemos disso.  Estou contente por estar aqui e por rever-te.

- Já consegues ter folga?

- Sim, por acaso amanhã é a minha folga.

- Quer dizer que eu folgo terça e tu quarta.   Vamos fazer um trato?

- O quê?

- Jantarmos juntos num destes dias, todas as semanas.  Jantar de amigos de longa data.

- Combinado.

A conversa saía solta e leve.  Já passava da meia noite quando Rodolffo deixou Juliette na porta de casa.
Viu-a entrar, deu meia volta e conduziu em direcção à sua.  Atravessou a ponte, estacionou e entrou a cantarolar.

É para a outra margemOnde histórias criam vida. Descubra agora