Desde que Ilda veio conversar comigo, eu tive vontade de falar com Rodolffo, mas dizer o quê?
Que eu acredito nele agora, depois dela falar, mas não acreditei antes?Eu considero-me uma mulher forte, mas nestas questões de afetos eu vacilo muito.
Quando ele me enviou a mensagem do nascimento da menina eu fiquei para morrer de ciúmes. Ele fala da menina como se ela fosse do seu sangue.
"A minha menina nasceu". Estas palavras doeram tanto que eu chorei a tarde inteira.Dias depois já recomposta, decidi ir visitar a bébé ao hospital. Escolhi a hora de almoço, calculando que seria a melhor hora para não me cruzar com ninguém. Quando me identifiquei à colega, ela informou-me da morte da mãe da menina e eu senti-me muito mal por todos os julgamentos que fiz.
Houve alturas em que até duvidei da doença dela.
Acabei de sair do hospital onde fui informada que o pai já levou a criança para casa.
Senti-me triste e regressei à clínica. Preciso trabalhar o resto do dia e amanhã estou de folga.
Acordei na manhã seguinte decidida a fazer alguma coisa. Apesar de termos terminado eu ainda quero pelo menos a amizade dele e não vou deixá-lo neste período mais complicado.
Tomei café, preparei uma está de café para ele e fui até casa dele.
Ele veio abrir a porta de mamadeira na mão. Tinha um ar cansado e umas olheiras profundas.
- Bom dia. Posso entrar?
- Entra. Estava a preparar a mamadeira da Luz. Daqui a pouco está aos berros.
- Posso ir lá vê-la?
- Podes. Não repares na bagunça.
Juliette entrou no quarto e pegou a bébé no colo. Rodolffo regressou pouco depois e ficou na porta a observar as duas. Juliette estava de costas e nem se apercebeu.
- A bébé linda tá com fominha? - perguntava ela fazendo carinho no rosto da menina.
- Aqui está o leite dela.
- Deixas-me dar-lhe a mamadeira?
- Se quiseres, sim. Eu aproveito e vou tomar um banho.
- Trouxe café para ti. Come enquanto eu fico aqui com ela.
Rodolffo tomou banho e foi tomar café. Juliette depois de trocar a fralda da Luz e colocá-la para dormir foi até à cozinha ter com ele.
- Trouxeste tanta coisa! Ela dormiu?
- Sim. Adormeceu logo.
- Soube que foste vê-la várias vezes ao hospital. Obrigado.
- Não quero deixar-te passar por isto sózinho. Afinal podemos ser amigos.
- Eu não quero pena de ninguém. Fui eu que tomei a decisão de ficar com ela. Ela é responsabilidade apenas minha.
- Mas não é pena. Não interpretes mal.
- Antes de tudo acontecer dizias que me amavas, agora queres ser minha amiga para me ajudares. Isso é o quê?
- Eu sei que não soube lidar com a situação, mas tu tomaste a decisão sózinho e podíamos ter conversado sobre o assunto.
- Agi no impulso. Naquele momento eu só pensei na criança.
- Eu tive muitos ciúmes. Nem quando a Ilda veio falar comigo eu recuei.
- Eu estava disposto a fazer o teste para te provar que dizia a verdade, mas agora não faço mais. Se ela não era minha, passou a ser e só a minha opinião interessa.
- Eu já não tenho dúvidas.
- Pena que já é tarde.
Juliette não falou mais nada. Ambos ficaram em silêncio até que se ouviu um chorinho vindo do quarto.