IV

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Juliette foi trabalhar no dia seguinte.   Os hematomas eram bastante visíveis, mas ela também não fez questão de os esconder.

Rodolffo assim que a viu quis logo saber o que tinha acontecido e como ainda faltava algum tempo para ela entrar, ficaram a conversar.

- Finalmente consegui libertar-me.   Agora espero que a justiça faça o seu papel.

- E não tens receio dele vir atrás de ti?

- Não.  Depois do sucedido, não tenho medo.

- Que corajosa, Juliette!  Queria eu ter essa capacidade de enfrentar os problemas com essa ligeireza.

- Foram anos.  Uma hora eu tinha que reagir.  Se tenho que me virar sózinha,  pelo menos não tenho ninguém a sugar-me a vida e o dinheiro.

Quinze dias depois, Juliette já recuperada parecia uma outra pessoa.

Raul vai responder à acusação de violência doméstica em liberdade, mas foi proibido de se aproximar de mim.
Mandou um amigo buscar os pertences dele e eu dei-lhe a mala e o saco com o material eléctrico e electrónico.

As conversas com Rodolffo tornaram-se mais frequentes, apesar de breves, mas estavam prestes a terminar porque ele recebeu uma proposta para trabalho diurno.

A nova empresa onde ele iria trabalhar ficava na outra margem do rio que atravessa a cidade.  Não que fosse longe, só não haveria mais o abraço matinal nem o até amanhã.

Se por um lado ele estava feliz, pois trabalhar de dia era o seu sonho, por outro estava triste por deixar aquele local e a sua amiga.

Junto à empresa de confecção,  seu novo local de trabalho, encontrou também uma nova casa.

Já assinou o contrato de aluguer e já pode mudar-se quando desejar.

Hoje, inspirado na atitude da sua amiga enfermeira resolveu também dar um basta na relação.

Chegou a casa eram sete horas e não viu ninguém.  O quarto estava arrumado, sem vestígios de alguém ter dormido ali.
Na geladeira a mensagem de sempre "preciso de dinheiro"

Rodolffo escreveu por baixo "procura um emprego".

Deixou ainda outro post it  onde se lia. "Vou viver a minha vida.  Esquece-me"

Fez a mala com a sua roupa e outra com vários itens de higiene.  A sua consola de jogos, dvds, e computador e colocou tudo no carro.

De seguida pegou alguns itens do mercado que tinha feito fazia dois dias e saiu de casa colocando a chave na caixa de correio.

Deu partida e nem olhou para trás.  Seguiu viagem e atravessou a ponte rumo à sua nova morada.

É para a outra margemOnde histórias criam vida. Descubra agora