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9 de janeiro de 2022.

Mila Leone.

Eram oito horas da manhã e eu estava terminando de me arrumar para comer meu café da manhã, que é pizza gelada da noite de ontem, e depois ir para meu dia de treinamento no trabalho.

Por ser dia de treinamento, eu acredito que serei liberada mais cedo e amanhã começo o meu primeiro dia.

Hoje é sexta, acredito que a sorveteria abra todos os dias e tem apenas a troca de funcionários. Irei perguntar logo para saber se irei ter folgas ou não. Espero que eu tenha.

Saí de casa junto com Gabriel, hoje era sua folga e ele iria aproveitar para comprar algumas roupas para si. Quase que implorei para renovar seu guarda roupa, ele se veste igual à um pai de família com o estilo que tem, não parece ter 27 anos.

Cheguei na sorveteria exatamente às nove horas e Gabriella me reconheceu.

— Oi Mila! Bom dia. Como está? — ela parecia animada. O que me animou também.

— Estou ótima! E você? — sorri tímida e ela me puxou para os fundos da loja. Um tipo de estoque.

— Essa parte da sorveteria você já conhece. Vou te mostrar agora a parte legal. — com "parte legal" eu entendi como a parte em que os funcionários fazem fofoca em horários de intervalo e falam mal dos clientes mal educados.

— Entendi! A parte divertida, certo? — ela me deu uma piscada, entendi certo então.

Descobri que Gabriella é apenas um ano mais velha que eu, 24 anos. Ela é formada em administração, por isso foi promovida a gerente logo cedo. Ela é super legal e é uma fofa com todos. Gostei dela.

— Mila, hoje você será liberada na hora do almoço exatamente por ser só um dia de treinamento. Segunda você começa. — ela dizia mais séria.

— Ah, sim! Sobre os dias de trabalho. Eu iria te perguntar como funciona pois não sei se a sorveteria abre todos os dias.

— Você irá trabalhar na Segunda, Quarta e Sexta. No domingo a sorveteria não abre para ter folga para todos. — ela me puxou novamente só que dessa vez para fora do estoque, indo para a área de atendimento. — Gente! Conheçam a Mila! Ela é a nova contratada e faz parte da equipe de vocês. — ela dizia feliz e logo todos vieram me cumprimentar.

Aparentemente o trabalho era fácil. Atender, preparar o sorvete, receber o pagamento e desejar um bom dia ao cliente. Posso fazer isso sem me irritar tanto assim. Eu acho...

Fiquei observando no começo e como a equipe é grande, em momentos de muita clientela cada um faz uma função. Um atende, outro prepara e outro entrega os pedidos. Acho que consigo fazer funcionar.

Atendi duas clientes depois que abaixou um pouco o ritmo e deu meu horário de ser liberada. Irei aproveitar para fazer bastante meditação para não me estressar tanto com o emprego.

×

14 de janeiro de 2022.

Estava levemente atrasada para o trabalho, meu despertador não tocou. Meu dia começou péssimo já. Ontem, o primeiro dia de emprego, foi ótimo! Não deu nada errado, ao contrário de hoje. Meu avental da loja, para não sujar a roupa por baixo já que não usamos uniforme além do avental, estava com uma mancha e precisei esperar secar na secadora para usá-lo no trabalho.

Várias coisas ruins hoje: meu avental, meu despertador e não ter nada de café da manhã em casa, preciso comprar algo na rua. Não reclamo pois amo comer na rua mas hoje estou atrasada!

Justo hoje que, aparentemente, o dono da sorveteria iria visitar a loja para conhecer a equipe dos meus dias. Tudo tinha que sair perfeito, só tinha uma função e estragou tudo!

Saí correndo pelas ruas com um café na mão, minha bolsa cheia de coisas no braço e os cabelos soltos sendo bagunçados pelo vento.

Poderia ser, facilmente, uma cena de O Diabo Veste Praça, a diferença é que não estou bem vestida e muito menos trabalho com moda. Sou apenas uma simples garota que está atrasada para o trabalho, porém com estilo.

Cheguei na loja totalmente ofegante por não estar acostumada a correr tão rápido assim e fui direto para os fundos me recompor e me ajeitar para começar o trabalho. Saí decentemente vestida e com meu café em mãos para começar o meu trabalho de atendimento ao público.

Odeio esse tipo de trabalho mas eu ganho bem então não posso reclamar tanto assim. Odeio depender do sistema!

— Oi gente, bom dia! Desculpa o atraso mas hoje estou em um péssimo dia. — eu ia direto para a mesa do caixa onde eu gosto de ficar e combinamos em equipe de cada um ficar onde quer.

— Bom dia, Mila! Acordou com o pé esquerdo hoje? — Mateo ria após sua piada e eu olhava com tédio para o mesmo.

— Cale seu namorado, por favor, Chiara! — eu implorava para a ruiva que completava o trio da equipe.

Ser vela já é ruim, agora ser vela de seus colegas de trabalho às vezes pode ser pior. Pelo menos eles não ficam se pegando no trabalho.

— Calma, Lili! — apelido fofo que Chiara me deu. — Vai ficar tudo bem! Agora beba seu precioso café e se acalme para não matar nenhum cliente, por favor.

Ela foi para o estoque junto com Mateo e fiquei sozinha. Mereço pois deixei os mesmos por um longo tempo sozinhos. Pelo menos está com o movimento baixo.

Estava com meu café em mãos enquanto tirava algumas coisas de cima das mesas que os clientes anteriores acabaram de deixar. Fui jogar um copo sujo no lixo e confundi com meu copo de café em minhas mãos, acabei perdendo minha única fonte de felicidade para o dia. Me irritei completamente, por dentro. Por fora, mantida forte.

Voltei para atrás do balcão e coloquei um sorriso no rosto para esperar o próximo cliente entrar pela porta. Como não entrava ninguém eu comecei a jogar em meu celular para passar o tempo, e então, ouvi o sino da porta tocar, indicando que alguém teria entrado. Larguei minhas coisas e resolvi ficar apta a ajudar.

— Olá, bom dia! Bem vindo a Lec! Como posso ajudar? — era um homem de terno, bem arrumado, cheiroso e bonito.

— O de sempre, por favor. — ele dizia rude sem ao menos tirar os olhos do celular.

— Senhor, sou nova por aqui. Pode dizer seu pedido, por favor? Se não for incômodo, claro! — pedi calmamente e forçando um sorriso no rosto.

— É incômodo sim. Como não sabe meu pedido? Entre lá e pergunte a algum outro funcionário! — ele se irritava porém não aumentava a voz.

— Como pode tratar alguém assim? — perguntei no mesmo tom que ele e pela primeira vez, ele tirava os olhos do celular e me olhava em meus olhos.

Malditos olhos!

Lindos, porém me irritam!

— Quem você pensa que é para falar assim comigo? — ele perguntava... rindo?

— Ah, desculpa Senhor "fodão" mas aqui você é um ser humano como qualquer outro! Ninguém merece ser tratado assim só por estar te atendendo, seu merda! — desabafei e acho que não deveria ter dito isso.

Ele ficou calado, e depois sorriu.

Sorriu?

Sorriu feliz, como se estivesse achado graça em algo.

— Não entendo a graça. — falei séria.

— Não, é que... Nada! Apenas faça um gelato de Baunilha, por favor. — ele pedia calmamente dessa vez.

— Foi difícil? — sorri irônica e efetuei o pagamento.

Preparei seu gelato com todo o prazer do mundo e entreguei para o mesmo.

— Muito obrigado! — ele provava o gelato logo em seguida. — É uma delícia! — ele dizia impressionado.

Realmente, o sorvete daqui é uma delícia.

— Obrigada pela preferência. — dizia o padrão para todo atendimento. — Não volte nunca mais, por favor! — sorria irônica e recebia um sorriso provocativo do mesmo.

— Voltarei... — olhou em meu crachá com meu nome. — Mila Leone.

Ódio & Gelato | Charles LeclercOnde histórias criam vida. Descubra agora