Cap 4

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   "Perceber que nunca é demais um carinho, que junto é melhor que sozinho."
                         A Gente Junto - Anavitoria

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Carol

A paisagem que circundava o caminho pelo qual passávamos era, por certo, uma das mais bonitas que eu já havia tido o prazer de ver. Apesar de estar enfurnada num carro minúsculo, ouvindo um gênero musical que eu mal conseguia identificar e na companhia de uma mulher que sem nenhum tipo de classe devorava uma bomba calórica em forma de hambúrguer, as extensas planícies esverdeadas e o céu cinzento sobre nossas cabeças compunham um cenário harmônico e muito agradável de se observar.

No entanto, como nem tudo são flores, as coisas começaram a desandar quando eu educadamente desliguei o som, a fim de apreciar a paisagem com um pouco mais de paz. Dei de ombros ao ver que Natália olhou pra mim com uma cara tão azeda quanto um limãozinho, segurando o hambúrguer em uma das mãos enquanto a outra guiava o volante.

— Então. — falou depois de um longo suspiro. — O que pretende fazer em Dublin?

— Meu namorado, Ulisses, é cientista e está lá pra uma convenção. - dei um sorriso satisfeito. — Estamos juntos já tem quatro anos e agora estamos tentando comprar esse apartamento maravilhoso e super concorrido em Atlanta.

— Sério? - mordeu o lanche, a boca meio cheia.

— Uhum, alguns dias atrás achei que ele ia me pedir em casamento, mas não aconteceu. - cruzei os braços. — E vocês tem essa ótima tradição que permite às mulheres fazerem o pedido no dia 29 de fevereiro.

— Ohh! — me encarou, dando outra mordida no hambúrguer. — Mesmo?

— Sim! - respondi animada.

— Sim!

Ela repetiu minha exclamação antes de cair em uma crise de risos, desviando os olhos de mim para a estrada, rindo tanto que pude ver algumas lágrimas nos cantos de seus olhos. Eu observava aquela cena, indignada com a falta de tato da irlandesa, que debochava da minha cara como se eu fosse louca. Aquelas atitudes dela me irritavam tanto! Peguei o hambúrguer de sua mão e joguei pela janela do carro, dando-lhe um sorriso convencido quando ela parou de rir e me fuzilou com o olhar, o sanduíche rolando e se estraçalhando pela estrada.

Ela bufou antes começar a despejar uma palavra atrás da outra naquele sotaque irlandês característico.

— Será que você não percebe que essa tradição estúpida é só uma desculpa pra mulheres desesperadas amarrarem homens que claramente não querem compromisso sério?

— Não é uma tradição estúpida, é uma tradição romântica!

— É um monte de besteira, isso sim. - balançou a cabeça. — Se ele quisesse se casar, já teria feito o pedido.

Preferi não discutir, bater boca com as pessoas nunca foi do meu feitio e eu sinceramente não ligava pro que ela achava ou deixava de achar, contanto que me levasse até Dublin à tempo do dia 29.

Natália era tão cabeça-dura que eu não me surpreenderia caso ela ficasse falando a mesma coisa repetidas vezes só pra me irritar.

Depois de um tempo em silêncio, a irlandesa ligou o som de novo, e a barulheira das guitarras preencheu o espaço apertado entre nós. Eu sentia minha paciência chegando bem próxima de seu limite e sem hesitar apertei o botão, desligando-o mais uma vez.

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