Cap 9

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"A noite, quando as estrelas iluminam meu quarto, me sento sozinho conversando com a lua, tentando chegar até você, na esperança você esteja do outro lado, falando comigo também..."
                  Talking to the moon - Bruno Mars

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Três meses se passaram desde que Carol retornara de sua excêntrica viagem a Dublin, e, nesse meio tempo, ela e Ulisses realizaram toda a mudança para o novo apartamento. A morena não havia falado com Natália nenhuma vez desde a despedida, mas não houve um dia sequer no qual deixou de pensar na irlandesa: nos olhos cor de jabuticaba , no humor sarcástico, no sorriso tímido, no cuidado disfarçado com provocações e, inevitavelmente, no beijo.

Todas as vezes nas quais, aleatoriamente, vinha à mente de Carol os resquícios do sabor e da maciez da boca Natália , ela levava os dedos aos lábios e olhava para a lua porque sobre ela que percebeu o que era estar se apaixonando por alguém, suspirava e afastava tais pensamentos, por respeito ao seu relacionamento e à sua sanidade; não era errado pensar em Natália e em tudo o que ela a fazia sentir.

No entanto, Carol sabia que era errado pensar em Natália desejando algo que não devia desejar, porque ela estava noiva de um homem educado e bom, que gostava dela de verdade e que não merecia tais atitudes, mas era inevitável esquecer aqueles olhos jabuticabas de sua mente e principalmente o beijo que deram.

Naquela noite, o apartamento deles estava cheio de pessoas em roupas elegantes, bebendo champagne em taças caras e conversando sobre assuntos superficiais; o casal organizara uma pequena festa para celebrar sua mudança, e a maioria dos convidados era composta de amigos em comum dos dois. Carol sorria amigavelmente e trocava palavras com alguns, porém não parava de observar o lugar, analisando-o e se dando conta de que havia conseguido tudo o que sempre quis. Algo dentro de si palpitava fora do compasso imposto por seus planos, e a cientista tentava a todo custo abafar aquela sensação, mesmo que fazê-lo fosse angustiante e parecesse errado; ela iria se casar, tudo estava caminhando nos conformes e não podiam existir pensamentos em sua mente que não estivessem relacionados a isso, foi até a janela e observou como a lua estava linda, e ali desejou que pudesse se comunicar com a irlandesa que vinha tomando conta de seus pensamentos, quando foi tirada de seus pensamentos com uma figura familiar se aproximando.

— Deixe-me ver!

Esticou a mão direita para que a amiga pudesse analisar o anel em seu dedo, o rosto de Adriana assumiu uma expressão de contentamento, como se estivesse muito orgulhosa.

— Olha só este lugar. - disse depois de terminar a análise do anel. — É incrível!

— Você gosta? - Perguntou fingindo uma animação.

— Se eu gosto? Eu quero te jogar pela janela e ficar com ele.

A morena esboçou uma risada e balançou a cabeça, a amiga às vezes era meio exagerada, mas ela já havia se acostumado. Cruzaram a sala até chegarem na grande porta que dava para a varanda e conseguiram pegar parte da conversa entre Ulisses e o marido de Adriana.

— É um belo apartamento. - disse o homem. — Acredito que ela ficaria feliz apenas com ele, não era necessário pedir sua mão.

— Como assim? - perguntou Adriana ao marido. — O anel veio de brinde com o imóvel?

Catol ficou confusa com o que estava sendo dito, trocou um breve olhar com o noivo, que puxou sua cintura para mais perto com um dos braços, e tratou de prestar atenção para entender direito.

— Na verdade, foi mais ou menos o contrário. - Ulisses deu de ombros. — A corretora me ligou enquanto eu estava em Dublin perguntando qual era o status de nosso relacionamento, algo à respeito dos condôminos serem bem antiquados quanto a isso. - ele sorriu, como se não fosse nada demais. — Eu entendi o recado, basicamente era: casados, estão dentro, não casados, estão fora... Então eu disse que estava prestes a noivar e pronto, resolvido, quase pude ouvi-la entregando nossas chaves.

A cientista focou os olhos em seu noivo, completamente sem reação e sem acreditar no que estava saindo da boca dele; disfarçou sua surpresa com um sorriso sem graça e tentou se controlar para não falar nada desagradável que viesse a estragar a noite, mas em sua mente só vinha uma voz dizendo:

"Trapaceiros são incapazes de amar, e Dublin é a cidade deles."

— Quando eu desliguei o telefone, pensei: "por que não?"- encarou-a, esperando uma concordância. — Quero dizer, nós eventualmente chegaríamos a isso algum dia, certo?

— Sim... claro. — ela respondeu.

O clima entre os quatro pesou um pouco, mas foi rapidamente desfeito quando Ulisses convidou Adriana para conhecer a varanda também; os dois saíram, e Carol deu um sorriso sem dentes para o marido da amiga antes de andar nervosamente até a cozinha.

Apoiou ambas as mãos sobre a bancada de mármore, respirando fundo e tentando organizar os pensamentos.

Ela não queria acreditar que o único motivo pelo qual Ulisses havia lhe pedido em casamento era o apartamento, o cientista estava acomodado com o que eles tinham e nunca realmente pensou em fazer o pedido porque queria se casar com ela.

Sentiu seu estômago se contorcer, aquilo estava muito errado. Todavia, não se surpreendeu quando certa pessoa invadiu-lhe a mente, tirando seu foco do momento presente, fazendo-a devanear.

Esquadrinhou o ambiente em silêncio, paralisando seu olhar na parede oposta.

De repente, o alarme de incêndio soou no apartamento, e todos começaram a se retirar do local para descerem até o salão de festas, a mando de Ulisses, que já recolhia vários objetos de valor e mandava que a noiva fizesse o mesmo.

Carol parou no meio da sala, sem conseguir se mover, encarando o nada e se perguntando qual era o motivo de ainda estar ali.

— Ana Carolina?

O homem chamou por ela, as mãos segurando notebooks, celulares e outros aparelhos eletrônicos, olhou ao redor, chamando-a outra vez, mas, para sua surpresa, não recebeu resposta nenhuma.

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