Capitulo 4

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______________Capitulo 4 - Aula_____________

"Vence o medo e vencerás a morte".

Juliette largou a bolsa perto da porta antes de ouvir a secretária eletrônica e, imediatamente, escutar a voz de sua mãe, urgente e aflita:

"Suponho que você ainda esteja viva e bem, apesar de não ter ouvido nem um pio seu desde sábado. Espero que não tenha esquecido de que virá jantar aqui em casa esta noite. Se não chegar até as sete, vou mandar Harrison para ter certeza de que você está bem. Tchau".

Juliette suspirou e pressionou "retornar ligação" no telefone, deixando no viva-voz. Ela foi até ao aquário de peixes tropicais e salpicou ração sobre a água tranquila, sorrindo quando eles vieram até à superfície e começaram a beliscar e beijar os flocos.

- Juliette? - a voz ansiosa de sua mãe tomou conta da sala de estar.

- Sim, mãe, sou eu. Estou sã e salva e estarei aí às sete, então pode cancelar o esquadrão de salvamento.

A latina queria não ter que jantar com a mãe depois do dia que teve. Ela havia acordado tarde aquela manhã depois de, mais uma vez, ficar acordada metade da noite, tendo o mesmo sonho vívido repetidamente. Havia tentado passar a noite sem comprimidos, mas se arrependera da decisão assim que encostara a cabeça no travesseiro.

Era um sonho novo desta vez. Não havia homens sem rosto nem areia molhada, mas seu pai ainda estava lá. Ele ficava sussurrando alguma coisa e, por mais que tentasse, ela não conseguia chegar perto o suficiente para ouvi-lo. Era aí que uma mulher encapuzada aparecia e a puxava para longe dele. Assim como tinha feito ao longo de todos aqueles anos em seus sonhos.

A pessoa ainda era estranha para ela, nos sonhos e fora deles, depois de aparentemente ter desaparecido sem deixar rastro pela porta do edifício onde a abraçara enquanto ela chorava pelo pai. Tinha certeza de que a polícia e sua mãe acharam que ela estava maluca quando tentou descrever o que havia acontecido: que uma pessoa encapuzada a impedira de ver o pai ser espancado até à morte em uma noite fria e chuvosa no Bronx.

Tudo o que Freire sabia era que se tratava de uma mulher e que não devia ser muito mais velha que ela. Mas jamais descobrira sua identidade. Mesmo assim, ainda podia senti-la ali, em seu subconsciente, puxando-a em desespero para longe do seu pai.

Uma hora e meia depois, cansada e cheia de frustração, Juliette estava à mesa de jantar de sua mãe, lutando para dissipar a tensão horrorosa que envolvia o recinto. Era uma batalha perdida, tinha sido daquele jeito desde que Freire decidira se candidatar ao emprego na Arthur Kill. Mesmo assim, tentando ao máximo não se deixar desencorajar pela apatia gritante da mãe, Juliette contou animadamente para ela e para seu companheiro havia dez anos, Harrison, sobre como seus alunos estavam se saindo bem, como estavam empenhados e focados.

A latina descreveu como se sentiu quando seu aluno Sam escreveu um texto tão poético que quase a fez chorar de orgulho. Ela falou sobre a onda de adrenalina que só um professor conhece quando seus alunos demonstram compreender a matéria, mas sua mãe sequer tentou esconder o escárnio. A mãe de Freire era extremamente preconceituosa em relação a criminosos e ao que deveria ser feito com eles. Por amá-la e tentar entender seu ponto de vista, Juliette procurava ao máximo aniquilar os medos da mãe, mas suas alegações eram sempre ignoradas.

Só de pensar sua filha perto daquelas pessoas, ainda mais dando aula para elas, Fátima se sentia mal. As discussões entre as duas eram ferozes. A mais nova vinha tentando fazer a mãe compreender que aquelas pessoas que ela ensinava na prisão não eram as mesmas que haviam matado Lourival, o homem que as duas amavam.

Desejo Proibido - Sariette Onde histórias criam vida. Descubra agora