Pantufas de patinho

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No passado, quando Suguru ainda era um adolescente, houve uma ocasião em que ele estava em uma festa de aniversário com Satoru. Eles eram melhores amigos que se conheceram aos 5 anos de idade, desde então, nunca mais se separaram. Naquele dia, eles estavam escondidos do restante dos convidados, achavam algumas pessoas ali muito irritantes. Suguru e Satoru riam de si mesmos, espremidos atrás de uma parede daquela casa enorme, ambos com copos de refrigerante em mãos.

O problema era que Suguru descobriu a própria sexualidade ao se apaixonar pelo melhor amigo. Infelizmente, Satoru sempre estava falando de alguma menina da escola, enquanto Suguru era o garoto reservado que apenas sentia as emoções em silêncio. A questão é que Suguru tinha algumas dúvidas se Satoru era realmente hétero, pois estava sempre o tratando com tanta intimidade, que parecia que a qualquer momento iria beijá-lo. Bom, isso realmente aconteceu.

Em meio a música alta daquela festa de aniversário, Suguru estava comentando sobre um acontecimento aleatório da escola quando, inesperadamente, Satoru avançou e o beijou na boca. Aquele foi o primeiro beijo dele e, o melhor de tudo, foi com a pessoa pelo qual ele estava apaixonado. Porém, Suguru nem mesmo aproveitou aquele beijo, estava tão surpreso que deixou os olhos bem abertos e, em poucos segundos, o contato terminou. Satoru imediatamente se tornou inquieto, se remexeu e não soube para onde olhar. Então, ele se levantou.

— Desculpa, Suguru, eu não sei o que deu em mim — ele estava incomodado com a própria atitude. — Esqueça o que aconteceu.

Suguru tentou acalmá-lo, ele se levantou também e o tocou no braço, mas Satoru empurrou a mão dele. Mesmo assim, Suguru tentou exibir uma expressão suave. Ele sorriu gentilmente, suas bochechas estavam um pouco vermelhas e o coração batia acelerado.

— Não precisa se desculpar, Satoru. Está tudo bem, eu gostei disso — o moreno tentou argumentar.

No entanto, Satoru estava com uma expressão endurecida. Ao longe, os convidados daquela festa se divertiam alegremente, mas havia um clima ruim instalado entre aqueles dois melhores amigos.

— Isso não vai se repetir. Por favor, esqueça isso.

Antes que Suguru pudesse protestar, Satoru se afastou e o deixou naquele lugar. Com o copo de refrigerante ainda em mãos, Suguru provou o líquido e refrescou a garganta. Ele tinha medo de perder Satoru. Seja como for, não foi culpa dele, foi Satoru que o beijou primeiro, caso o contrário, Suguru nunca iria tomar iniciativa enquanto não tivesse certeza do caminho que estava pisando.

Seria uma sorte ou um grande azar, mas, quando ele reencontrou Satoru na escola, o garoto agia como se nada tivesse acontecido. Do outro lado, quando Suguru se deitava a noite para dormir, ainda pensava naquele beijo, ele podia sentir até mesmo a textura dos lábios de Satoru contra os seus. De qualquer forma, Satoru se esforçou para deixar esse acontecimento esquecido no passado, e, aos poucos, tocar naquele assunto se tornou algo que nunca, em hipótese alguma, deveria ser mencionado novamente.

Os anos se passaram, Satoru e Suguru se formaram na escola, se tornaram adultos e encontraram emprego na mesma empresa. Suguru se tornou apenas mais um trabalhador cansado que passava horas do seu dia em frente ao computador e, às vezes, erguia os olhos para observar a mesa de Satoru. O albino sempre estava reclamando sobre algo com um colega de equipe, ou jogando uma cantada barata para alguma mulher. O pior de tudo isso, é que, mesmo com o tempo que se passou, Suguru não conseguia apagar a paixão que queimava em seu peito. Ele tentou se relacionar com outras pessoas e até entrar em aplicativos de relacionamento, mas nada disso adiantava, o seu coração batia incessantemente apenas por aquele homem.

Talvez, Suguru devesse contar a ele sobre os seus sentimentos. Quem sabe Satoru amadureceu e iria tratar esse assunto com mais responsabilidade agora. Então, eles poderiam estabelecer um relacionamento e tudo isso seria como um conto de fadas. Essa é a parte em que Suguru acorda de seu devaneio fora da realidade.

Triste por te ver partirOnde histórias criam vida. Descubra agora