Traumas do passado

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Satoru começou narrando alguns fatos de sua infância, destacando que a família dele sempre o reprendia quando achava que o garoto estava demonstrando algum comportamento fora do que eles concordavam. Tipo quando Satoru brincava com as suas amigas, que eram suas vizinhas, e a família o proibiu de participar de brincadeiras de mulher, ou quando Satoru ganhou de presente de aniversário uma coleção de bonecos, entre eles, havia personagens femininas, mas os pais dele retiraram isso de suas mãos para que não o incentivasse a querer ser feminino também. Nem mesmo com um urso de pelúcia ele podia dormir, pois isso também não era coisa de homem.

Na visão dos pais de Satoru, o filho tinha que performar masculinidade, praticar esportes, ter amizade com outros garotos e nunca demonstrar sentimentos. Satoru não podia nem mesmo chorar, deixar o cabelo crescer ou usar certos tipos de roupa.

Ao mesmo tempo, a família de Satoru sempre o repreendia de forma bruta. Quando não gostavam de algo, ou achavam necessária aquela punição, batiam nele. Por causa disso, Satoru cresceu com muitos traumas e era visivelmente reprimido, chegando até mesmo a ser um pouco agressivo e arrogante, porém, a convivência com Suguru, mesmo que fosse apenas na escola ou na casa de outros amigos, fez com que Satoru evoluísse como ser humano. Foi um processo lento até que confiassem um no outro e se amassem de todo coração.

O problema era que Satoru sempre se sentiu diferente dos outros meninos, por mais que a família dele se esforçasse para tirar essas ideias da cabeça do filho, nada disso adiantou. Lentamente, dia após dia, Satoru se apaixonava um pouco mais por Suguru.

Esses sentimentos sufocantes que existiam no coração dele, um dia transbordaram. Foi na ocasião em que, durante uma festa de aniversário, quando eram ambos adolescentes, Satoru não conseguiu se conter e beijou Suguru na boca. Depois desse ato, ele ficou com tanto medo de ser a pessoa que os pais dele repudiavam, que pediu para que Suguru esquecesse aquilo e nunca mais voltou a tocar no assunto. Era como se, no momento em que isso surgisse mais uma vez, todos aqueles sentimentos também iriam voltar para assombrá-lo.

Satoru amava Suguru, ele sempre amou. Quando pediam para que ele imaginasse um futuro, onde estaria morando fora da casa de seus pais, casado e bem resolvido, Satoru se imaginava com Suguru. Era com esse homem que Satoru queria se casar e passar o resto de seus dias lado a lado. Porém, os pais de Satoru continuavam a repreendê-lo e reforçavam diariamente que ele deveria ser hétero, em hipótese alguma deveria decepcioná-los nessa questão.

Aquelas palavras ásperas, repletas de preconceito, misturadas com a violência física, fizeram com que Satoru se tornasse um cão obediente. Quando percebia, Satoru estava repetindo mentalmente que Suguru era apenas o seu melhor amigo, e que não era normal ter desejos por outro homem. Ele repetiu isso tantas vezes que se convenceu disso, e se perdeu em si mesmo.

Isso durou até o dia em que Satoru se aproximou de Nanami, pois o albino achava que o loiro era o maior exemplo de heterossexualidade, alguém que ele deveria desenvolver um vínculo para se espelhar e agir igual. Além disso, Satoru pensava que, se ele se afastasse de Suguru, aqueles pensamentos deixariam de existir.

Por mais que Nanami fosse um garoto ranzinza e que dizia não suportar Satoru, ele aceitava fazer dupla com o albino em trabalhos escolares. Porém, um dia, Satoru decidiu se abrir com Nanami e contou para ele o tipo de paixão que tinha por Suguru. Em resposta, Nanami afirmou que não havia nada de errado nisso, e que ele mesmo não se importava com o gênero da pessoa que o atraía, se fosse interessante e despertasse sentimentos em seu peito, então ele estaria disposto a tentar.

Satoru se surpreendeu com essa confissão, mas isso também plantou uma ideia insana em sua mente. Ele queria descobrir a própria sexualidade, se era realmente diferente dos outros ou se apenas se sentia apaixonado por Suguru pelo fato de serem melhores amigos que conviviam o tempo inteiro juntos.

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