Podemos assistir um filme

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Naquela noite, Suguru infelizmente sonhou com o seu melhor amigo. Ele imaginou que Satoru o tocava carinhosamente na mão como sempre fazia, depois acariciava o seu rosto gentilmente, e por fim o beijava nos lábios. Mas, quando correspondeu o contato, Satoru o empurrou e disse que tinha nojo de pessoas como ele. Provavelmente, esse era o medo que Suguru tinha em ser rejeitado. Por ser assumidamente gay, achava que Satoru o repudiava em segredo.

Suguru acordou alarmado e com o cabelo completamente bagunçado. Ele bocejou de forma sonolenta e se sentou no colchão, logo, encarou a pantufa de patinhos que estava no chão. Com os pés cobertos por meias brancas, Suguru calçou a pantufa e percebeu o quanto era confortável, além de aquecê-lo muito bem.

A partir disso, a manhã ocorreu normalmente, havia realizado a higiene pessoal, tomado café da manhã e colocado água para as plantas. Estava agora sentado no sofá lendo um livro, quando o celular vibrou algumas vezes. Ao apanhar o aparelho, percebeu que era Satoru.

"Você está se sentindo melhor?", ele o questionou na mensagem.

"Estou sim. Mas você não deveria estar ocupado com a sua namorada?", Suguru não pode deixar de se sentir aborrecido com essa questão.

Alguns segundos se passaram até que o albino respondesse:

"Não, eu quero aproveitar o dia com o meu melhor amigo. Ou você não quer ver a minha cara? Tenho a impressão de que você está tentando se livrar de mim".

Os lábios de Suguru se curvaram para cima, ele quase podia ver nitidamente a expressão de coitado que Satoru sabia fazer, como se Suguru estivesse realmente o abandonando.

"Venha aqui em casa, podemos assistir um filme".

Ao enviar essa mensagem, Suguru se sentiu um tolo. Estava triste com o fato de ter perdido Satoru para alguém e estava também terrivelmente enciumado, porém, não conseguia ficar longe desse homem.

"Deixe a porta aberta, já estou chegando!", Satoru respondeu entusiasmado.

Essa foi a última mensagem que ele mandou. Suguru respirou fundo e desistiu de ler aquele livro, a partir disso, esperou pela chegada de Satoru. Logo, o albino estava na casa de Suguru, inclusive trouxe algumas comidas para serem consumidas durante o filme. E é claro que, naquele espaço pequeno do sofá, Satoru não ficava quieto. Ele apenas parou de se mexer quando deitou a cabeça no colo do moreno. Suguru acariciou os fios alvos e às vezes se esquecia de prestar atenção no filme.

Quando esse terminou, decidiram ver outro, dessa vez, um de terror. Antes disso, Suguru buscou uma coberta e se agasalhou, não demorou para que Satoru se deitasse por trás dele no sofá e o abraçasse, ficando de conchinha. Suguru gostava de sentir Satoru tão próximo assim, podia até mesmo sentir o peito dele se mover devido a respiração. Mas isso era algo que amigos faziam? Talvez sim, mas não quando você quer muito beijar os lábios dessa pessoa.

Foi então que o celular de Suguru começou a tocar, ao identificar o número de sua mãe, sentiu o coração quase errar as batidas. Dessa forma, Suguru se levantou do sofá e deixou Satoru sozinho, ele andou com as pantufas de pato até o quarto, finalmente atendendo a ligação.

— Filho? Eu não queria incomodar você, mas você pode me mandar mais dinheiro? — sua mãe pediu, a voz tremula denunciava que estava chorando.

Quando Suguru era adolescente, a mãe dele decidiu ir morar com um homem que ela conheceu na igreja. No início, ele se mostrou uma pessoa aparentemente perfeita, mas, com o passar do tempo, revelou ser um homem agressivo. Ele ofendia Suguru e a mãe, quebrava as coisas em casa quando estava bêbado, chegou até mesmo a agredir a mãe de Suguru várias vezes com tapas e empurrões. Infelizmente, ela nunca quis se separar dele ou denunciá-lo, dizia que, por ser uma mulher que frequentava a igreja, sua fé iria curar o marido e transformá-lo em uma pessoa melhor. É por isso que Suguru preferia estar na escola, ou na casa de algum amigo, qualquer lugar era melhor do que aquele ambiente tóxico.

Triste por te ver partirOnde histórias criam vida. Descubra agora