Não vá embora

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Suguru piscou algumas vezes, em busca de voltar para a realidade. Ele esperou tanto tempo por esse momento, desejou ouvir essas palavras durante tantos anos, que isso parecia um sonho, ou uma grande mentira.

— O que? — ele tentou compreender aquela fala. — Como assim? Por que isso do nada? Você sempre me disse que era hétero.

Essas palavras atingiram Satoru em cheio. Então, ele recuou alguns passos.

— Mas eu sou hétero.

Suguru riu diante disso.

— Não, você não é. Se você gosta de mim, você não é.

Por sua vez, Satoru encostou as costas na parede fria ao lado.

— Existem coisas na minha vida que você não sabe. Eu ouvi muitas palavras ruins durante anos, agora que tenho uma namorada, a minha família finalmente me vê como um ser humano digno de respeito.

— Você está se forçando a isso por causa da sua família? Satoru, isso é ridículo.

Porém, o albino balançou a cabeça em sinal negativo, decidido a continuar tão fechado como sempre esteve. Era melhor que Suguru não soubesse nada sobre ele, pois ninguém iria entender toda a pressão psicológica que sofreu no passado. Todas as agressões e ofensas que ainda estavam em sua mente como um fantasma que arrastava correntes ao anoitecer.

— Se você fosse uma garota, tudo seria melhor, e poderíamos estar juntos agora — ele disse, com a voz arrastada.

Suguru o olhou descrente.

— Eu não preciso ser uma mulher para você me amar. Se você não pode fazer isso, então me deixe em paz.

Sem alternativa, Satoru continuou se sentindo sufocado pelo momento. Ele levou ambas as mãos até a cabeça e enterrou os dedos no cabelo branco, jogando os fios para trás. Sentia dor de cabeça, além de um desconforto no estômago. Era tudo culpa dele, sempre foi culpa dele. A vida toda, desde a sua infância. Na visão de Satoru, por ele sentir atração por homens, isso fazia dele um erro. Pelo menos, foi assim que os seus pais o fizeram enxergar a si mesmo. Era melhor que Suguru não se envolvesse com uma pessoa tão desprezível, ele merecia alguém melhor.

— Como disse, eu gosto de você, Suguru. Eu sinto...coisas, por você — Satoru se perdeu no próprio raciocínio, era como se sua mente não funcionasse direito.

O moreno apenas exibiu um sorriso repleto de tristeza.

— Coisas? É uma pena, pois o que eu sinto por você não é tão simples assim.

Eles ficaram em silêncio mais uma vez, por mais que Satoru quisesse perguntar o que Suguru verdadeiramente sentia por ele, decidiu não insistir no assunto. Tudo o que ele precisava é que essa discussão chegasse ao fim.

— Desculpe. Nós podemos fingir que essa conversa não aconteceu? — ele estendeu a mão para Suguru, o apanhando pelo pulso. — Eu não quero perder você. Quero continuar sendo o seu melhor amigo e me desculpo por ter te ofendido. Não vou mais interferir no seu relacionamento com o Toji. De agora em diante, você é livre para ficar com ele.

Ao ouvi-lo, Suguru respirou fundo uma única vez. Mais do que qualquer outra coisa no mundo, ele queria confessar para Satoru o quanto o amava, desde a adolescência, ele o amou em segredo. Mas, se Satoru não se aceitava e também não estava disposto a ter um relacionamento com outro homem, então nada podia ser feito. Nada que o moreno dissesse poderia alterar essa realidade, e ele não queria se envolver com Satoru enquanto ele tinha uma namorada. Suguru nunca planejou ser o amante de ninguém.

Por outro lado, Satoru simplesmente confessou que gostava de Suguru, mas logo desistiu da decisão. Isso fazia Suguru odiá-lo. Aos poucos, tudo em Satoru se tornava odiável. O seu sorriso, sua voz, o seu toque, e, especialmente, suas desculpas. Porém, ao mesmo tempo, Suguru estava apaixonado por esse homem. Era uma grande contradição.

Triste por te ver partirOnde histórias criam vida. Descubra agora