Você não é mais uma menina

Nós carregamos o fardo das escolhas de nossos pais

Lembro que, quando eu era mais nova, passava madrugadas em claro, desenhando o meu vestido de noiva e em diversos estilos, acreditando que, quando o grande dia chegasse, ia ser moleza escolher o modelo e para a minha surpresa, o meu dia nunca chegou. Lembram daquele ditado que diz "que nem diabo foge da cruz"? Sou eu quando o assunto é matrimônio. Mas, aguardem um pouco, a história é longa, e ao final, talvez vocês compreendam o motivo. Pode ser que concordem comigo e enxerguem meu ponto de vista, ou talvez não entendam, afinal, parte de vocês pode ter vindo de famílias funcionais e estruturadas. Mas para muitos de nós, como eu, viemos de famílias sem uma base sólida e o propósito deste livro é demonstrar que podemos nos libertar de todas as amarras que nos foram impostas.

Num dia, você é só uma adolescente com problemas de adolescentes, no outro, o seu mundo capota e então, você se vê no meio de problemas conjugais dos seus pais. De um lado, a sua mãe desmoronando em lágrimas por conta do pedido de divórcio, do outro, o seu pai está fazendo as malas, indo embora e deixando um rastro de desolação. E no meio dessa tempestade emocional estão os seus três irmãos menores, confusos e com olhares desconcertantes. Num átimo, você se vê arrastado para um redemoinho de angústias que não deveriam ser suas, mas que tornam da sua vida um inferno e você é obrigado a lidar, querendo ou não.

Desde todo esse caos, o meu mundo desabou por muitas vezes, mas de alguma maneira, ainda estou de pé. Há cicatrizes na minha alma, traumas enraizados em cada parte de mim e dores que nunca parecem cicatrizar. Os terapeutas falam sobre a cura, sobre como com o tempo vamos entender que nossos pais fizeram o melhor que puderam, do jeito deles, e que agora é nossa vez de perdoá-los. Mas há feridas que parecem não ter cura, e nem tudo pode ser simplesmente deixado para trás e isso, eu também descobri só quando cheguei aos trinta.