Escapatória

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À medida que o tempo avançava, tornou-se evidente que o namorado de nossa mãe estava progressivamente impondo certas prerrogativas que não lhe competiam, e isto, acredite, representava apenas o prelúdio de uma narrativa mais complexa.

Alterações substanciais começaram a transfigurar o ambiente doméstico, e subitamente, nossa mãe passou a consumir bebidas alcoólicas. Esta é uma batalha da qual ela já havia vendido em outro momento, após o meu nascimento, quando meu avô a coagira sob a ameaça de privá-la da minha guarda, uma advertência que ela levou a sério, jamais voltando a provar sequer um gole de álcool, desenvolvendo inclusive uma aversão visceral ao álcool e intolerância a aturar bêbados. Todavia, este estado de equilíbrio ruíra ao se envolver com seu "notável" companheiro, que a instigava a este e outros hábitos nocivos.

Tenho a sensação sutil de que, tal como eu, meus irmãos optaram por emancipar-se do lar materno antes do previsto, buscando garantir uma melhor qualidade de vida, dado que havia dias em que a convivência tornava-se insustentável.

Observamos que o parceiro de nossa mãe jamais lograva estabilidade nos empregos e, ademais, não contribuía para atender às necessidades básicas de casa, tais como as contas de água e eletricidade. Embora se presumisse que o montante financeiro disponível cobrisse todas as despesas, dado que não arcávamos com o aluguel, invariavelmente não bastava, e a situação financeira permanecia sempre precária.

Nossa mãe, outrora meticulosa nos afazeres domésticos, relaxou com a limpeza da casa, culminando em uma deplorável falta de higiene no lar, a ponto de, em certos dias, tornar impraticável o uso do banheiro. Hoje, em retrospectiva, percebo que, concomitantemente ao divórcio, nossa mãe viu-se privada de suas expectativas de forma abrupta e imprevisível, testemunhando uma narrativa de desesperança que para os mais próximos se tornou uma das mais comoventes.

Neste período, já havia encerrado meu primeiro relacionamento, uma união de quatro anos – minhas ambições eram grandes, ao passo que ele permanecia inerte, o que me desencorajava. Optei por um novo caminho e, meses depois, encontrei meu primeiro esposo. Nosso casamento foi oficializado em um simples cartório, com uma cerimônia discreta, enquanto minha barriga já denotava sinais de que uma nova vida chegaria. Claramente, nada foi planejado, nem os filhos e nem o casamento, mas é uma das partes da vida da qual eu não me arrependo. Poderia ter sido diferente e com planejamento, mas não foi e lidamos bem com isso.

Num súbito e inesperado momento, mergulhei num oceano de afeto e acolhimento, envolta por uma família que me abraçou com o calor do amor genuíno. O desconcertante era compreender por que meus próprios progenitores jamais nos brindaram com a essência do que verdadeiramente significa ser uma família. Agradeço pela dádiva de aprender, mesmo que em meio a uma família que não partilhava do meu sangue, mas que, até os dias atuais, permanecem sendo minha família.

Lembro-me que quando me casei, em um momento singular permanece gravado em minha alma. Foi quando, entre lágrimas de alegria e sorrisos radiantes, minha ex sogra tomou minhas mãos nas suas e proclamou com voz terna e firme: "A partir de hoje, você é minha filha." Essas palavras ecoam eternamente em minha mente, não apenas pelo calor que emanavam naquele instante, mas também pela constância do afeto que transcendeu os laços matrimoniais. Mesmo após o fim do casamento, sua presença materna persiste, iluminando meu caminho com a força incomparável do amor verdadeiro. Uma mulher exemplar, cuja fé e coração estão profundamente enraizados no temor a Deus! Quando eu crescer, quero muito ser como como ela, uma fonte de inspiração para os que me rodeiam, irradiando virtude e devoção por onde passar. Que o seu exemplo seja meu guia, conduzindo-me na busca pela excelência e pela santidade.

Após me casar e mudar para longe, meu contato com a minha família passou a ser por telefone e talvez, não me contassem tudo. Com meu pai o meu contato ainda era mínimo, quase nulo, assim, deixei de saber o que se passava com minha mãe e irmãos, e foi justamente durante esse afastamento, que o namorado da minha mãe, ofertou drogas a eles e então, dali em diante, eles se perderam por completo.

A incerteza paira sobre mim, permeando meus pensamentos, diante da possibilidade de algum dia conseguir lidar com a informação de que minha mãe estava ciente do envolvimento de seu parceiro com substâncias ilícitas e, ainda assim, não hesitou em acolhê-lo em nosso lar. A flagrante ausência de zelo maternal pelos filhos torna-se inegável, e tal constatação causa repulsa. Como mãe, é inconcebível para mim expor meus próprios filhos a qualquer forma de perigo ou risco semelhante.

Olhar para o retrospecto de uma vida inteira e implorar a Deus para não replicar os padrões e comportamentos de sua própria família é uma no mínimo triste. É um desejo ardente de romper com ciclos prejudiciais e traçar um novo caminho, fundado em valores e princípios que diferem daqueles que foram testemunhados e vivenciados. A minha súplica foi atendida, guiando-me para um futuro incerto, mas com a certeza de que eu seria para os meus filhos tudo o que minha mãe não foi para nós, eu os amaria genuinamente.

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⏰ Última atualização: Apr 28 ⏰

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