O quanto você ama os seus filhos?

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Enquanto minha mãe ainda aprendia a lidar com a dor, nós tentávamos ao máximo estar presentes em sua vida e nunca a deixávamos sozinha. Muitas vezes, quando ela se levantava para ir até a cozinha buscar café, um de nós disfarçava e a seguia, com receio de que ela tentasse o suicídio novamente. Éramos quatro crianças tentando impedir um adulto de se machucar, pois nosso pai estava em outra cidade e tínhamos pouco contato com ele. Naquele momento, éramos nós, apenas nós.

Na tentativa de tirar nossa mãe da total solidão, sugerimos que ela acessasse salas de bate-papo e conhecesse novas pessoas. A princípio, ela resistiu, mas logo depois, mal conseguíamos usar o computador, pois ela se interessou pela ideia e começou a conversar com outras pessoas. Isso nos trouxe alívio, pois notamos uma melhora significativa nela. No entanto, havia dias em que ela saía para encontrar essas pessoas e ficávamos preocupados, pois às vezes demorava para voltar e não atendia nossas chamadas telefônicas, ficávamos receosos se ela saberia, de fato, se cuidar. 

Até que, em poucos meses, ela conheceu um "homem", totalmente desprovido de beleza, mas que tinha uma conversa cativante. Ele sabia falar sobre diversos assuntos, embora não tivesse propriedade para discuti-los. Acredito que a minha mãe tinha uma dependência emocional tão grande que qualquer coisa poderia satisfazê-la, e assim começou mais uma batalha em nossas vidas. Eles se falavam todos os dias, o tempo todo. Minha mãe não se abria conosco sobre ele, afinal, éramos apenas crianças, e o que ela poderia nos dizer? Nós confiávamos que nossa mãe sabia o que estava fazendo, e tudo o que queríamos naquele momento era vê-la sair de todo aquele caos que estava acabando com ela.

Muito repentinamente, nos mudamos de casa, finalmente para o lar próprio de nossa mãe, deixando a casa onde vivíamos livre para que nosso pai pudesse retornar com sua nova companheira. Minha mãe tomou essa decisão porque o objetivo era que o novo namorado fosse morar conosco. Achamos que era cedo demais, mas estava fazendo bem para ela, e isso era tudo o que nos importava naquele momento.

Então, ele chegou e junto com ele, sua mala. Apesar de ter uma aparência peculiar, ele conquistou toda a família. Era engraçado e gentil com todos: conosco, minhas tias e tios, primos, e parecia ser proativo em tudo. Parecia bom demais para ser verdade e logo, conhecemos quem ele realmente era. Numa triste e complexa sinfonia da vida, minha mãe sem hesitar e sem ponderar as consequências, abriu as portas do nosso lar para um estranho, cujo passado era nebuloso e sombrio, isso moldaria todo o nosso destino. Uma trama onde o passado se entrelaça ao presente e o destino é tecido com fios de arrependimento, ela também carrega uma parcela de culpa.

Nosso padrasto era um viciado em entorpecentes, processado pela ex-mulher por não pagar a pensão devida aos filhos, desonesto e de mãos leves, que sorrateiramente se infiltra, buscando o que não lhe pertence e foi assim que meus irmãos aprenderam a viver de um jeito mais fácil, trilhando por caminhos sem volta.

Dizem que o amor de mãe é o mais próximo ao amor de Deus, mas a nossa mãe criou armadilhas e nos lançou nela, hoje eu sei que nem todas as mães amam, infelizmente algumas amam somente a si mesmas. Que isso jamais nos defina como mães e  que possamos romper esse ciclo com amor genuíno, amor esse o mais próximo ao de Deus. 

Você não é mais uma meninaOnde histórias criam vida. Descubra agora